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Platão

Profecias sobre o Fim do Mundo. Segunda Parte

Jorge Ángel Livraga 0 444

São várias perguntas. Vamos tentar solucioná-las. Uma delas é sobre os registos akáshicos. Existe um plano total que se vai cumprindo, parte por parte, de forma inexorável? Vamos supor que isso existe. Se existe esse plano inexorável que vai levar cada um de nós a algum lugar, há um problema; um problema não apenas ético, mas também científico. Então, onde está o livre-arbítrio? Onde está a virtude e onde está a maldade? Porque se já está escrito que um homem vai ser assassino, vai matar outro, que culpa tem esse homem? Então, esse homem não seria realmente mau. E um homem que dedicou a sua vida à santidade, à oração, à generosidade, se já estivesse escrito, absolutamente, que deveria dedicar-se à oração, à generosidade, à pureza, que virtude haveria em fazê-lo? Porque seríamos simples marionetas, penduradas numa espécie de fios que tornam inexorável tudo o que temos que fazer.

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Star Trek, uma Viagem às Estrelas

Nos convulsivos anos 60, com a cultura pop emergindo, a guerra do Vietnam, o movimento hippie e a projeção literária das viagens espaciais que nos levariam à Lua e ainda mais longe, surgiu uma série televisiva com pouco impacto no princípio, mas que depois se estenderia por todo o mundo e ainda hoje é objeto de culto. A pluma enriquece e embeleza com o mito, o original e histórico. Os EUA começam a ingerir-se criminalmente nas políticas dos países do Médio Oriente, tendo Kissinger como sua bandeira e cérebro. Na série, ao contrário, uma Federação Galáctica leva as suas missões de exploração e tratamento benéfico ao infinito, apenas coartados pelo Império Klingon, no qual imaginamos uma espécie de Soviete e Japão imperialista, que se expande militarmente também pela galáxia.

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O que É kundalini

Jorge Ángel Livraga 0 478

Em Espanha, hoje está na moda falar e ler sobre temas do esoterismo oriental. Um desses temas é Kundalini, palavra cuja fonética deriva do sânscrito, língua milenar dos brâmanes, que foi sistematizada por Panini, famoso gramático autor da obra Paniniyam, escrita em forma de aforismos (Sûtras) por volta dos séculos VI e V a.C. Segundo as tradições mais antigas dos povos conhecidos, o fogo, nas múltiplas formas e dimensões em que se desenvolve, tem um carácter sagrado e mágico. Desde o Agni Védico, até aquele que ilumina a coroa do Zohar; o Fylfot que ilumina a mão de Thor; o Ptah dos antigos egípcios; o Hue-hue-teotl dos Teotihuacanos do México e a pomba do Espírito Santo dos cristãos.

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Xantipa, Arquétipo da Mulher Filósofa e da Mulher do Filósofo

Joana Simões 0 904

Era uma vez uma mulher… Seria simples? Seria quem? Seria o quê? Xantipa carrega um nome com um legado pesado. Este trabalho é uma abordagem a esta personagem histórica esquecida, só lembrada para tudo o que é negativo na mulher. Mas quem era? A única fonte aparentemente mais directa seria Platão, que, até há quem especule, teria uma paixão pela mulher do seu Mestre. Muito se especula acerca desta mulher, mas quem é ela realmente para cada um de nós? “Quem é Xantipa para mim?” Esta é uma pergunta que deveremos fazer.

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Em Busca do Tempo Perdido

Evidentemente, referir-se a “tempo perdido” não é algo que nos permita fazer uma exposição científica detalhada, ou que nos permita oferecer muitos dados concretos, tal e como agora se usa. Há que estabelecer a diferença, e penso enfocar o tema com singeleza, como se me encontrasse naquelas classes mais reduzidas de discípulos. E como às vezes é difícil falar simplesmente, falar desde o coração, não deveríamos medir tanto os números que devem ser lembrados e, em vez disso, deixar correr um pouco mais essa inspiração interna que todos levamos dentro. Penso que falar do “tempo perdido” é referir-se a um tema que diz respeito, de maneira direta à nossa filosofia prática. Como filósofos, como seres ansiosos de saber um pouco mais, interessa-nos descobrir o valor que se encontra dentro de todas as coisas. Indubitavelmente, o tempo assume um valor muito importante e é sobre isso que devemos falar. Como filósofos não estamos apenas interessados em referirmo-nos aos valores que encerram as coisas, senão que queremos recuperar esses valores. Então, também queremos recuperar esse “tempo” que singelamente sabemos e sentimos que temos perdido…

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Valores Filosóficos para os Idosos

Devido ao envelhecimento da população em muitos países, as nossas sociedades têm falado de um fenómeno que pode afetar a convivência e gerar novas formas de exclusão. Tem sido chamado de idadismo, palavra que designa uma maneira de classificar as pessoas por idade. Aplicada aos idosos, gera um tipo de discriminação baseado num sentimento que se está a impregnar nestas sociedades sem alma e materialistas: encurralar os idosos, como algo inútil e irritante, considerá-los inúteis, isolá-los e ignorá-los. Esta atitude causa estragos nos idosos: prejudica a sua autoestima, porque se sentem excluídos, com as suas consequências de depressão, dificuldades em adormecer, sem esquecer os seus efeitos na sua saúde física.

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As Formas Mentais

Jorge Angel Livraga 0 431

Cada um de nós e o nosso entorno assume uma realidade sensível de acordo com a forma como é pensada. Isto não muda os Arquétipos que nos esperam no final do Caminho, como Platão brilhantemente explicou, mas a nossa intenção neste artigo é nos referir, não ao Logos ou à Ideia Divina que como um timoneiro rege o progresso do Universo de forma inteligente e que se reflete nas estrelas e nos átomos, mas à parte humana que temos que viver, pessoalmente, nos limites do nosso espaço-tempo. Não devemos ser egoístas, mas não podemos deixar de ser egocêntricos. Protágoras dizia que “O Homem é a medida de todas as coisas”, e com isso ele referia-se não apenas à consciência humana e ao Universo, mas até mesmo o seu corpo físico, que lhe dá uma noção do pequeno e do grande, do próximo e do longe. O Homem-microcosmo é em si mesmo uma imagem viva desse Deus-macrocosmo no qual É e Está.

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Magos, Profetas e Videntes

Estamos no ano de 1986. O século XX caminha inexoravelmente para o seu ápice e, com ele, as eternas questões do homem… porquê a vida? porquê a dor? Neste século, o homem tornou-se um autómato valorizado pela sua capacidade produtiva, onde nem sequer manobra a qualidade do produto, já que esta foi previamente definida pelo programador da cadeia produtora. A juventude está presa entre as suas manipuladas «reivindicações» e o colapso produzido pelas suas permanentes «crises»; os jovens são presa fácil do desespero e do falso incentivo das drogas. Eclodem por toda a parte, uma multitude de lutas facciosas, protegidas por esta ou aquela bandeira, defendendo diferentes ideologias políticas ou proclamando diferentes credos religiosos à humanidade. Contudo, à medida que se aproxima o fim dum milénio, surge uma nova doença: o medo do desconhecido, do que está por vir…. Pode sentir-se no ar e adivinha-se sob a falsa racionalidade. As mesmas profecias e teorias que os homens têm difamado e ridicularizado são as que agora olham com olhos temerosos e cheios de suspeita. Basta dizer que, por exemplo, sob o impulso da religião católica há um massivo retorno ao exorcismo com a finalidade de salvar as almas dos fiéis «demonizados», e até mesmo algum futebolista declara vítima de um feitiço ou encantamento que o impede de realizar o seu habitual nível de jogo: o cúmulo!

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Filosofia ou Religião: Qual a Diferença?

Pierre Poulain 0 1163

Quando escrevo um artigo para esta revista, geralmente escolho um acontecimento do noticiário diário para comentar. Hoje não vou falhar neste hábito, mas optei por comentar não um acontecimento, mas uma experiência pessoal ocorrida numa aula, no Centro da Nova Acrópole, em Telavive.
Tivemos um seminário de um dia, com exercícios teóricos e práticos sobre filosofia e o caminho para a sabedoria, e durante esse seminário respondi a algumas perguntas. Uma das perguntas era: Qual é a diferença entre Filosofia e Religião?
Devo dizer que a princípio senti que a resposta devia ser óbvia… mas na verdade não foi. E quanto mais eu pensava nisso, mais achava que seria interessante desenvolver a resposta como um pequeno artigo… então aqui estamos.

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Paz: Onde, Quando, Como e Porquê

José Carlos Fernández 0 774

É paradoxal, uma ironia, ou mesmo um sarcasmo, que no mesmo Dia Mundial da Paz, o governante da Rússia esteja ordenando uma mobilização de todos os reservistas quer eles o queiram ou não, atirando-os nas garras de uma guerra que quase ninguém no seu país deseja, uma guerra nascida sabe-se lá de que pesadelos e loucuras. ou pior, de fuga para a frente, ou filha de que interesses obscuros e indizíveis («follow the Money», já sabemos), em que veremos vários países que irão lucrar com o sofrimento dos povos, vendendo, por exemplo, os seus stocks de armas no mais puro estilo de O Padrinho… e dentro do direito internacional. Platão já o disse há dois mil e quatrocentos anos, no seu livro sobre a imortalidade da alma, o Fédon. Disse assim:
«De onde vêm as guerras, as sedições e os combates? Do corpo com todas as suas paixões. Na verdade, todas as guerras não procedem apenas do desejo de acumular riquezas e somos forçados a acumulá-las em prol do corpo, para servir de escravos às suas necessidades.»

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O Mito de Pigmalião

José Carlos Fernández 0 561

Que mãe não tem orgulho dos seus filhos? Quem não se enamora das suas próprias obras? Shakespeare disse: “Não são lícitos os versos que não são banhados pelas próprias lágrimas”, e estas são lágrimas de amor e emoção. Mas, como podem comover-nos aqueles que nada mais são do que uma projeção de nós mesmos? Será que nos conhecemos? Eis aqui uma das chaves de uma verdadeira obra artística, o que faz por exemplo que o músico derrame lágrimas perante uma partitura que ele mesmo está criando. O que inspira o verdadeiro artista é o mais luminoso que de si, é uma corrente de “eletricidade divina”, que desce do mundo da beleza perpétua, onde vive a sua alma mais elevada. Todos conhecemos a acusação que foi feita a Leonardo da Vinci, quando ao comparar as caraterísticas de Gioconda com as suas, foram encontradas tantas semelhanças. Ele, como Pigmalião, estava enamorado pela melhor das suas obras, porque nela tinha fixado sua própria alma, e seguro de que para ele, tinha mais vida do que a sua vida. E, não é lícito moralmente enamorar-se por aquilo que se faz, se isso reflete o seu quotidiano, o vulgar e o medíocre que o tempo se encarregará de fazer desgastar. Isto leva a acreditar que somos o centro do mundo e ao culto do eu pessoal e, portanto, à congelação da capacidade de resposta à nossa volta. E, este é o primeiro passo de um caminho descendente que faz do incauto uma estátua de pedra ou de sal.

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Sentido do Mito em Platão

Francisco Duque Videla 0 410

A maioria dos pensadores modernos que recolhem e analisam a obra mítica da epopeia grega, digamos «primitiva», consideram que constitui uma fórmula pré-lógica de conceção dos fenómenos cósmicos e naturais que moveram os gregos. Este traço positivista não abandona a maioria dos historiadores da filosofia. Assim, a interpretação de Tales ou Empédocles é considerada uma transição do mundo mítico para o racional.
Portanto, é surpreendente para estes pensadores que Platão e mesmo Aristóteles voltem ao mito como recurso expressivo, e tentem interpretar esse facto como uma transição gradual de uma «filosofia mítica» até uma «filosofia científica».
Entre os platónicos encontramos a opinião de que Platão, através do seu sentido poético, interpreta os mitos como um meio de quebrar o rigor racional. Atribui-se a sua às ideias religiosas órficas, movimento espiritualista que teve grande influência em alguns dos pré-socráticos, especialmente em Pitágoras.
Geralmente é apresentado em oposição ao Mitos com o Logos, entendendo o primeiro como o conceito pré-lógico antecedente à conceção racional. Contudo, Platão afirma que o conhecimento lógico tende a desaparecer da memória do homem depois de algum tempo mais ou menos extenso, e então permanece fresca a imagem do mito como símbolo do conteúdo filosófico.
Vemos que o significado platónico do mito se aproxima muito de um caráter paradigmático, isto é, como modelo arquetípico de uma realidade que é apenas mimesis, imitação de outra original, eterna e imutável.

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Podem os Desígnios de Deus Ser Conhecidos?

Jorge Ángel Livraga 0 355

Este tema obriga-nos a estar atentos a um primeiro erro que habitualmente cometemos, mais ou menos cegos pelas religiões exotéricas que prevaleceram na nossa educação infantil. Um filósofo como amante da verdade que é, deve evitar personalizar Deus. “Aquilo” que, nós filósofos, chamamos de Deus, não tem propriedades nem podemos atribuir-Lhas. H.P. Blavatsky disse: “Se as vacas tivessem alguma forma religiosa e quisessem representar Deus, é evidente que o representariam com chifres. Não devemos esquecer que todas as religiões são formas exotéricas, adaptadas ao lugar e ao tempo, para beneficiar determinados homens. Assim, os indianos puseram a cabeça de elefante ao seu deus de sabedoria; os egípcios, cabeça de íbis. Assim também, Buda entra no Nirvana com os olhos semifechados, impoluto de toda a sujidade e adormecido; Cristo entra no Reino dos Céus, humanamente sujo e sangrando, depois de ter sofrido a última prova da dúvida, tendo como companheiros dois ladrões. Porém tudo isto é puro exoterismo; revestimento exterior de coisas mais profundas e misteriosas. Quando Platão disse que “jamais o que é vulgar será filósofo”, não cometeu nenhum erro social…; simplesmente disse a verdade. Há que deixar de ser “vulgar” – ou seja exotérico -, para alcançar a verdade do esoterismo.

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Sobre o Universo Parte II

Anton Musulin 0 433

Sabemos que a vida na Terra não se desenvolve linearmente. Uma vez que surgiu, criou as formas necessárias para a sua existência, alcançou um certo nível de desenvolvimento e imediatamente, em virtude de certas catástrofes cósmicas, quase desapareceu para renascer em formas novas e mais perfeitas. Nos últimos 500 milhões de anos, houve cinco extinções massivas de seres vivos e cerca de vinte menores. Nestas extinções desaparecem sem descendência de 10% a 80% de todas as espécies existentes. Como vemos, a vida é inventiva e criativa e, apesar de todo o tipo de dificuldades, sempre encontra soluções para superar os obstáculos. Transforma a matéria, cria novas formas e adquire novas habilidades, permitindo-lhe estabelecer relações harmoniosas com o meio ambiente e integrar-se no campo unificado da Vida. Esta superação e desenvolvimento é inerente aos seres vivos e faz parte do processo evolutivo.

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Porquê a Dor?

Jorge Angel Livraga 0 1079

Hoje, perante esta realidade da existência, vamos tocar numa das suas facetas: a dor, o porquê da dor.

Teríamos primeiro de definir o que é a dor. Definir algo, especialmente quando não é físico, mas metafísico, insubstancial, mesmo quando nos afeta profundamente, é sempre difícil. Definir um objeto material é fácil, basta dar as suas medidas, as suas proporções, a sua cor, as suas diferentes qualidades visíveis. Falar do que é invisível, como a dor, o prazer, o amor, o ódio, é muito difícil. De um modo geral, falamos dos seus resultados.

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A Arte de Maria Bethânia

Ricardo Santos 1 697

A música trabalha com potências. Toda a música. Porém, a música erudita e, nesta, sobretudo a instrumental, quase que totalmente, porque abstrai da voz e do seu fonologocentrismo. Ainda que, no caso do canto lírico, a técnica vocal que este implica seja, desde logo, já uma das formas em que a voz se deixa diluir para além do logocentrismo. A arte do canto lírico seria a do contorno do logocentrismo, na exacta medida da formação artística que expressa. Se é exacto que o canto lírico é uma arte derivada da poética como potência da alma, esta potência joga-se ela-mesma no limiar aberto pela fonética própria a essa arte. Talvez a técnica do pianíssimo de Montserrat Caballé fosse aqui absolutamente paradigmática. É nesta medida que a música devém potente.

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As Musas, Guardiães da Memória

Franco P. Soffietti 0 919

Por volta de 280 a.C. em Alexandria e a cargo de Ptolomeu I Sóter, um centro de investigação é erguido com o propósito de organizar o que era necessário para os melhores poetas, escritores e cientistas do Mundo Antigo viverem e trabalharem: o “museion”. É daqui que mais tarde tomam os seus nomes os museus. Estes espaços sagrados eram construídos para que as musas, divindades das ciências e as artes, habitassem no seu interior.

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Plotino e os Degraus da Virtude

Henrique Cachetas 4 1709

De acordo com a tradição deixada por Platão, as virtudes cívicas são quatro: a sabedoria, a coragem, a moderação e a justiça. Estas são as virtudes que fazem o nosso eu terreno assemelhar-se tanto quanto é possível a um reflexo do mundo inteligível. Isto é possível pois todas resultam da aplicação de uma mesma Medida, ou seja, de um sentido ético profundo da alma humana, proveniente da Inteligência, que assim consegue conduzir todos os pensamentos, emoções e ações pelo caminho medido, isto é, o caminho reto e virtuoso.

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Séneca e a Educação dos Príncipes

José Carlos Fernández 0 1477

Há muitos anos, numa aula com o professor Jorge Ángel Livraga (1930-1991), surgiu uma questão sobre a natureza do programa escolástico que seguíamos na Nova Acrópole, que não é só intelectual, mas também de desenvolvimento de valores morais. E ele respondeu, com toda a naturalidade, “claro, porque vós (…) estão a receber uma educação de príncipes”. Essa afirmação, com a espontaneidade e total convicção com que o disse, impressionou-me vivamente…

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O Anjo Negro da Melancolia. Parte I

Françoise Terseur 1 670

Vivemos tempos de incerteza e de vazio, tempos difíceis que anunciam profundas mudanças para os próximos séculos. Todos os dias nos cruzamos com esta sensação de insegurança e de mal estar, ainda mais acentuado com o difícil confinamento causado pela pandemia do coronavírus. A tomada de consciência da nossa vulnerável existência obriga-nos a parar o ritmo frenético das nossas fugas para a frente, sempre à espera da tão desejada felicidade temporal, ilusão reinventada pelo materialismo secular responsável pela alienação global do ter em desfavor do ser. Curiosamente, é nestes períodos de crise que volta a aparecer a sombria melancolia, companheira do taciturno planeta Saturno que, na astrologia tradicional, caracteriza o tempo que tudo desgasta. A visita cíclica nas nossas vidas deste gigante planetário, de movimento lento, aureolado de nebulosos anéis, convoca a tempos de reflexão e pausas para a realização das mudanças necessárias para a renovação estrutural do devir humano. A trajetória da vida não é linear, pelo contrário, tem avanços e recuos, momentos altos e baixos, em que a obscuridade e a luz auxiliam no movimento pendular do relógio cósmico. Na luta dos opostos, na fricção constante dos átomos que produzem todos os fenómenos, intercalam-se a vida e a morte, o bem e o mal, o prazer e a dor, a alegria e a tristeza, estados transitórios que, progressivamente, conduzem ao derradeiro ponto sem retorno do equilíbrio, embrião eterno e indestrutivo onde tudo converge.

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A Via de Plotino. A Caminho do Uno

Henrique Cachetas 0 873

Quanto mais investigamos a diversidade de visões existentes acerca do Universo e do Ser Humano, mais nos apercebemos do monumental trabalho implicado na procura genuína da verdade.

São tantas e aparentemente tão diversas as filosofias do mundo e dos séculos, tão variados e aparentemente tão distintos os caminhos propostos para o entendimento humano, que é natural surgir uma certa indecisão – quando não um cepticismo – sobre qual a melhor filosofia e o caminho mais propício a conduzir-nos à meta.

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Perguntas de Natureza Filosófica e Científica

Anton Musulin 0 1003

Neste número do boletim, colocamos uma série de perguntas importantes de natureza filosófica e científica e tentamos dar algumas respostas que possam colocar ainda mais perguntas. A ideia principal é esclarecer que há muito que não sabemos sobre o Universo e destacar a necessidade de reconhecer e aceitar as limitações do nosso próprio conhecimento. Ao contrário da natureza monológica dos textos e ensinamentos dogmáticos, a filosofia e a ciência são dialógicas e sugerem a busca de respostas aceitáveis e mais verdadeiras para as perguntas difíceis.

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Os Arquétipos em Platão e Carl Jung

María Kokolaki 1 4528

Carl Gustav Jung foi um médico psiquiatra, famoso pelo seu estudo e experimentação sobre o mundo psíquico humano. A sua contribuição para a psicanálise é fundamental e marca claramente um antes e um depois no estudo da psique. Consciente da profundidade e complexidade do mundo psíquico, incorporou na sua metodologia estudos de Antropologia, Alquimia, Arte, Mitologia, Filosofia, Religiões comparadas e Sociologia. Assim, as suas próprias viagens e experiências também foram muito importantes.
Neste artigo, propomos uma reflexão sobre a noção de arquétipos nos estudos do psiquiatra suíço e nos diálogos do filósofo grego Platão, uma vez que o primeiro tomou emprestado este termo das teorias platónicas para o introduzir no mundo da psicologia. No entanto, o termo não é tratado de igual modo pelos dois pensadores, não só devido à distância temporal que os diferencia, mas também devido à utilização que lhe dão.

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O Tempo Interior e o Tempo Circunstancial

Isabel Areias 0 823

Existe no Tempo uma magia cujo acesso intuímos mas por onde o pensamento, na sua dimensão material, se vê na impossibilidade de transitar. Platão dividia a existência humana em dois mundos: o sensível e o inteligível. Ao primeiro cabe a vida física, visível e material, dominada pelo mundo dos sentidos e das aparências e, por isso, da projeção das nossas sombras, das nossas máscaras. Ao segundo cabe a Vida interior, invisível e superior, dominada pelo mundo real onde reside a nossa Essência, e o mundo das Ideias Puras, dos Arquétipos, ou seja, o princípio de tudo e de todas as coisas.

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O Banquete de Dante

Mª Dolores F.- Fígares 1 962

As grandes mudanças que ocorrem no campo das ideias requerem um tempo para germinar e florescer. Isto está muito em desacordo com o costume atual de confiar em tudo a curto prazo, a ânsia de encontrar efeitos imediatos nas ações humanas. O estudo de uma figura tão singular como Dante Alighieri (1265 – 1321) convida-nos a pensar que os ritmos da história não são tão rápidos como parece e que as grandes mudanças vêm das propostas dos que são capazes de olhar de cima e vislumbrar o futuro. Dante, juntamente com Francesco Petrarca (1304- 1374) e Giovanni Boccaccio (1313 – 1375) abriram caminho para o esplêndido Renascimento italiano e para novas ideias, que deram vida a todas as artes. Um novo mundo estava a crescer nas mentes privilegiadas de personagens excecionais. Não podemos esquecer o papel fundamental que a filosofia desempenhou neste processo, uma mais vez presente num renascimento dos muitos que ocorreram na história.

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A Carta de Buffon a Si Mesmo

Antony Capitão 0 2604

Talvez nem todos conheçamos Gianluiggi Buffon, mas a grande maioria de nós conhece-o bem – embora ainda no activo, é o guarda-redes lendário da Itália, muitas vezes considerado o melhor do Mundo. Foi campeão mundial, ganhou inúmeros campeonatos, taças. Um exemplo perfeito de sucesso, um ícone moderno de realização – uma bela carreira, fama, dinheiro, títulos; e no entanto algo ia correndo mal.

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Reflexões sobre Videojogos e o Mais Além da Morte

José Carlos Fernández 0 1282

Há uns dias vi um documentário da BBC que me impressionou muito . É a história de uma família com um filho, que tem uma doença degenerativa que o impede progressivamente de fazer uso dos músculos, e que vive quase confinado em casa até que morre com 25 anos. Salvo umas amizades familiares que o visitavam de muito em muito tempo, a sua vida social era quase nula. Imagem: Fantasia. Pixabay

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