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Literatura

A Contaminação Ideológica

Jorge Ángel Livraga 1 318

É evidente para todos que a utilização aberrante dos recursos em prol do consumo indefinido, para o qual nos têm precipitado os romanticismos políticos, sociais e económicos dos séculos XVIII e XIX, precipitaram-nos no abismo obscuro e fétido de uma poluição contaminante em que a Humanidade se espreme, manchando a pureza das águas, a diafanidade do céu, a fertilidade da terra; e transtornando o equilíbrio ecológico que, talvez demasiado tarde, temos descoberto como imprescindível para a nossa vida. O sacrifício irracional das zonas verdes, dos espelhos de lagos, das manchas verdes dos bosques, reduz a beleza do planeta e, na procura do conforto, agoniza a vitalidade que permitiu o desenvolvimento das espécies e a convivência harmoniosa dos seres.

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O Thauma no Pequeno Príncipe

Carlos Machado Junior 0 309

O conceito de thauma (θαῦμα), no pensamento grego está profundamente ligado à ideia de espanto, maravilhamento e admiração diante do mundo, e é esse espanto que, para muitos filósofos, especialmente para Aristóteles, marca o início da filosofia.

Compreende-se como o impulso inicial que nos leva a questionar e buscar entender a realidade à nossa volta, o que nos move a refletir sobre o que está além das aparências e a tentar desvendar os mistérios da existência.

Relacionar o thauma ao personagem principal da obra O Pequeno Príncipe, de Antoine de Saint-Exupéry, é especialmente interessante, pois o Príncipe é um personagem que vive num estado constante de maravilhamento e de busca por compreensão, sempre questionando com uma inocência e profundidade que remetem a esse espírito filosófico.

O Pequeno Príncipe, em sua jornada e nas suas relações, exemplifica perfeitamente esse conceito. Ele vive em constante maravilhamento diante do mundo, e esse espanto o leva a buscar o que é essencial, a questionar constantemente e a aprofundar sua compreensão da vida, das relações e do amor. Nesse caminho o Príncipe acaba abandonando muitas das suas convicções.

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Nasrudin e As Mil e Uma Noites

José Carlos Fernández 0 164

Finalmente, li As Mil e Uma Noites, uma delícia, e fiquei muito impressionado que apareceram histórias de Nasrudin, com o seu nome Hodja, que na versão lida, chamam de Goha.

Esta tradução é a das Edições 29, traduzida por Jacinto León Ignacio da versão francesa, hoje clássica de J. C. Mardhus (1899-1904) diretamente do árabe.

A história das traduções das Mil e Uma Noites é um autêntico labirinto (em algumas não aparece a história de Ali Babá, nem a lâmpada mágica de Aladim, embora exista uma muito semelhante); e como tal, Jorge Luis Borges, apresentou-o no seu ensaio Os Tradutores das 1001 Noites, que apareceu no livro História da Eternidade. Um tema também recorrente em suas conferências, como vemos aqui1.

Mas o que me chamou à atenção, é que ninguém, ao que parece, percebeu que as histórias de Nasrudin aparecem nesta obra colossal. Na Internet, pelo menos, não aparece nenhuma correlação, talvez porque em Mil e Uma Noites ele apareça como Goha, mas é ele indubitavelmente.

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Miguel Torga e o Veneno de Sartre

José Carlos Fernández 1 148

Ao ler o V Diário de Miguel Torga (1907-1995) constatamos que este poeta transmontano estudava, em 1949, como milhares de jovens na Europa, os livros de Jean Paul Sartre. Estes milhares, então, à medida que iam passando os anos, converter-se-iam em milhões, e o efeito tangível da filosofia deste autor existencialista haveria de se notar, nos ventos de destruição, caos, angústia e dissolução que provocaram, inclusive, no que um escritor francês chamou: a encarnação do desastre cultural francês do pós-guerra. E sendo a França o coração da Europa, essa arritmia, gangrena ou náusea, a escuridão do puro nada ou morte moral, estenderam-se por todos os membros, chegando também, está claro, a Espanha e a Portugal, nosso país irmão.

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O Movimento e os Artefactos

Delia Steinberg Guzmán 1 449

O movimento é uma das grandes Leis da Natureza. No entanto, e pela dualidade que surge dos pares de opostos, também a inércia é uma lei.
O materialismo, que ganhou tanto crédito nos últimos séculos, introduziu de uma maneira subtil, a inércia no nosso estilo de vida, embora mascarada sob vários subterfúgios para a justificar.
O ser humano, tão rico em recursos práticos e tão débil em consciência espiritual, optou pela preguiça psicológica e física e descarregou a sua quota de movimento em artefactos de diferentes classes.
No passado remoto, quando as condições de vida passaram de itinerantes a sedentárias, os homens usavam animais – mais ou menos domesticados – para os ajudar no trabalho, ou seja, no movimento. E, também utilizaram outros homens, a quem escravizaram, para fugir dos trabalhos duros, os movimentos fortes.

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Musas da Educação na Literatura

Carmen Morales 0 460

Os documentos mais antigos conhecidos são tabuinhas de argila datadas de 5000 a.C. Estão em escrita cuneiforme e foram encontrados na cidade de Uruk, na antiga Suméria, considerando-se que formam, todas juntas, a primeira biblioteca conhecida na história.
É difícil estabelecer a origem da escrita. Em algumas culturas da antiguidade foi-lhe concedida uma origem divina. No Egito pensava-se que a escrita vinha de Thot, deus do Conhecimento. Na Grécia, era Prometeu quem a concedeu à humanidade, como um presente. E na Suméria essa tarefa foi deixada para Inanna, deusa do Amor e da Beleza que, tendo-a roubado de Enki, deus da Sabedoria, a deu ao povo.

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Séneca e a Educação dos Príncipes

José Carlos Fernández 0 1793

Há muitos anos, numa aula com o professor Jorge Ángel Livraga (1930-1991), surgiu uma questão sobre a natureza do programa escolástico que seguíamos na Nova Acrópole, que não é só intelectual, mas também de desenvolvimento de valores morais. E ele respondeu, com toda a naturalidade, “claro, porque vós (…) estão a receber uma educação de príncipes”. Essa afirmação, com a espontaneidade e total convicção com que o disse, impressionou-me vivamente…

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No Centenário de Sophia de Mello Breyner (1919-2004)

Há alguns meses cumpriu-se o centenário do nascimento da ilustre poetisa Sophia de Mello Breyner, o seu busto contempla desde o Miradouro de Santa Graça em Lisboa, a paisagem urbana e o rio que contemplou da sua casa a autora de “A Menina do Mar”, e os seus restos mortais repousam no Panteão Nacional raríssimo privilégio concedido a poucos. Imagem: Pedras na praia da pedra furada. Wikimedia Commons

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Apresentação do Livro O Templário do Rei, de António Balcão Vicente

José Carlos Fernández 1 1546

O ser humano necessita conhecer a sua história, para deste modo reconhecer-se a si mesmo e à sua própria vontade de ser. E necessita também saber que está a construir o futuro, ou seja, que está a fazer história, que está a escrever no Livro da Vida em traços indeléveis, pois tudo aquilo que não se escreva assim é devorado, como dizia Baltasar Gracían no seu Criticón, na Caverna do Nada.

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O mito de Gilgamesh – A Prova do Elo

Cláudio Fernando Brito 1 3536

Gilgamesh terá sido uma figura real, ou, pelo menos, um mito que bebe da inspiração de uma figura real, já que as fontes lhe atribuem um reinado de 126 anos entre os reis da Suméria. Gilgamesh terá sido um Semi-Deus ou Herói com grande capacidade intelectual e física. Terá tido grande conhecimento do Mundo antes e após o Dilúvio. Ergueu a cidade de Uruk e um Templo, o de Ennea. Os deuses compreendendo e temendo a sua força, enviaram-lhe uma provação, uma criatura tão forte como ele, Enkidu. Ora corria nas florestas dos arredores e nos demais reinos que Gilgamesh já não seria o Homem mais forte do mundo – claramente um mecanismo literário homérico – e, como tal, Gilgamesh procuraria Enkidu e lutaria com ele. O que, efetivamente, aconteceu. Contudo, ao contrário do desfecho em morte, a luta terminou na amizade entre os dois.

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