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Jorge Angel Livraga

Jorge Angel Livraga (1930 – 1991) foi Fundador da Organização Internacional Nova Acrópole.

Mosaico de Lúcio Axio, um Mosaico Cosmogónico em Córdova

A cidade de Córdova é como uma flor com o perfume das cidades eternas. A flor de laranjeira, com o seu aroma inebriante, é uma doce recordação, todos os anos, desta verdade.
De grande importância na sua história ibérica, converteu-se na capital de Al Andaluz, talvez a maior e mais culta cidade do seu tempo, senhora do império ou califado omíada. E as escavações dos últimos anos confirmam também a sua enorme importância no período romano, como capital da Hispânia Ulterior.
No museu arqueológico da cidade, um dos seus mosaicos romanos saúda-nos pela exuberância dos seus desenhos geométricos: é o chamado mosaico de Lucius Axius. Dois pedestais também dedicados a este personagem fazem com que o identifiquem como governador da província de Chipre, e teria sido questor na província de Baetica. As duas estátuas teriam sido dedicadas, uma pelo vicus forensis e a outra pelo vicus hispanus.

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A Astronomia Planetária e as “Correntes de Vida”. Segunda Parte

João Porto 0 968

Exploremos uma ligação entre a Tetraktis Pitagórica e o sistema teosófico das Rondas e dos Globos, revelada pela presença de uma constante numérica, infinitamente evolutiva em direcção à perfeição, representada por uma suposta constante, designada por Número de Ouro ou Phi (φ), cuja origem muito antiga é remetida para as concepções de sistemas metafísicos e de hierarquias espirituais ligadas à evolução cósmica dos Vedas, amplamente representada na arquitectura monumental sagrada, e que milénios depois vai continuar a reflectir-se nas concepções cosmológicas herméticas da cabala e da alquimia ou ainda nas estruturas filosóficas hinduístas (Rajas, Sattva, Tamas) ou no Yin/Yang chinês (recriando os ciclos de criação/destruição). Mais tarde (Idade Média e Renascimento) deixa a sua marca no delineamento da construção das catedrais, na arte escultórica e na pintura.

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Oppenheimer e a Bomba Atómica: Reflexões Filosóficas

A teoria atómica deve ter sido revolucionária para o pensamento humano. Quão difícil deve ser para a mente aceitar que tudo o que nos rodeia, os sucessos infinitos, os seres e coisas infinitas, as qualidades infinitas se devem a esferas em movimento que se chocam, se aderem e formam unidades mais complexas (que hoje chamamos moléculas), de estruturas muito precisas em 3D que determinam os infinitos adjetivos e a exuberância da vida e da natureza! O filósofo Demócrito de Abdera chegou a dotá-los de uma espécie de ganchos que lhes permitem ter afinidades entre si e que hoje denominaríamos de “valência” para assim compor estruturas maiores.
Adotar esta imagem do real na mente como certamente real, já é um mérito para o audaz. Mas começar a investigar seriamente, ano após ano, uma geração após outra desde Dalton, para apenas um século e meio depois, abrir a caixa de Pandora das interioridades do átomo e libertar a sua poderosíssima energia, é um milagre da ciência e da vontade humana, para o bem e para o mal. As explosões em Trinity, como teste, e Hiroshima e Nagasaki como objetivos de guerra, e as mais de mil explosões experimentais sobre a terra e debaixo dela, no ar e no mar, são prova disso.

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Para Que Te Cresça a Alma

Jorge Ángel Livraga 0 376

Não me refiro ao seu Espírito Divino, que por sê-lo, não pode crescer nem decrescer, nascer nem morrer, mas àquela parte mais elevada em nós que comumente chamamos de Alma.
É sabido de todos que o exercício físico, por exemplo, desenvolve os músculos, e que qualquer aprendizado deve basear-se na tenacidade em exercitar aquilo que queremos fazer crescer, seja o domínio de um idioma ou de uma máquina qualquer.
Da mesma forma, se queres fazer a tua Alma crescer, deves exercitá-la incansavelmente, todos os dias. E, para isso, não são imprescindíveis exercícios especiais, mas basta ter uma atenção focada, naturalmente orientada para o espiritual. Ao observar o fototropismo das folhas de uma planta ou a casca das árvores, trata de captar aquilo que está mais interiormente colocado, aquilo que é o motor e a causa do que vês superficialmente. Acostuma-te a sentir as mãos de Deus ao teu redor, estudando cuidadosamente e com a pureza e a inocência de uma criança pequena, todas as coisas.

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Robert Oppenheimer, Notas Biográficas e Reflexões

José Carlos Fernández 0 1262

Robert Oppenheimer (1904-1967) é com justiça considerado o pai da bomba atómica. Se por vezes, encontramos personagens que bem poderíamos chamar “encarnações históricas”, este é um deles, arrastando na sua alma a cruz de todos os paradoxos que lhe permitiram abrir a porta à era atómica, da qual, evidentemente, se sairmos violentamente, sairemos muito mal: o caminho só vai para a frente ou um quase “começar de novo”, ou um esquecimento e abandono e continuar de outra maneira.
De família abastada, culta e de ascendência judaica, nasceu em Nova Iorque e desenvolveu uma fina sensibilidade moral ao ser educado numa espécie de escola pública e comunidade filosófica chamada Sociedade para a Cultura Ética, cujo lema era que “o homem deve assumir a responsabilidade de dirigir a sua vida e o seu destino”, palavras proféticas no seu caso.
Ele próprio recordaria que “fui uma criança empalagosa e repulsiva de tanta bondade. Tive uma infância que não me preparou para o facto de o mundo estar cheio de crueldade e de amargura.

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A Contaminação Ideológica

Jorge Ángel Livraga 1 382

É evidente para todos que a utilização aberrante dos recursos em prol do consumo indefinido, para o qual nos têm precipitado os romanticismos políticos, sociais e económicos dos séculos XVIII e XIX, precipitaram-nos no abismo obscuro e fétido de uma poluição contaminante em que a Humanidade se espreme, manchando a pureza das águas, a diafanidade do céu, a fertilidade da terra; e transtornando o equilíbrio ecológico que, talvez demasiado tarde, temos descoberto como imprescindível para a nossa vida. O sacrifício irracional das zonas verdes, dos espelhos de lagos, das manchas verdes dos bosques, reduz a beleza do planeta e, na procura do conforto, agoniza a vitalidade que permitiu o desenvolvimento das espécies e a convivência harmoniosa dos seres.

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A Poética de Guerra Junqueiro

É muito difícil traduzir Guerra Junqueiro (1850-1923) e trazer para a língua espanhola, embora próxima, os seus ritmos de puro fogo. Este poeta, um verdadeiro Hércules lusitano em todos os aspetos – político, filosófico, científico, destruidor de sofismas e de todo o tipo de engendros monstruosos – foi considerado pelo seu amigo Miguel de Unamuno, o melhor poeta ibérico do seu tempo. Foi amigo e camarada de lutas políticas e literárias, das mais excelentes almas de Portugal do seu tempo: Antero de Quental, Eça Queiroz, Oliveira Martins, Camilo Castelo Branco e muitos outros; e um dos personagens mais polémicos e revolucionários da sociedade portuguesa em que viveu.
Filho de um camponês proprietário, estudante de Teologia e posteriormente licenciado em Direito, deputado nas Cortes, jornalista, embaixador na Suíça, colecionador de antiguidades e, mais tarde, poeta-lavrador e eremita na sua quinta vinícola, em Barca d’Alva, junto ao Douro, é talvez o filósofo lírico, da natureza mais insigne, das terras e das gentes lusas. A sua Velhice do Pai Eterno foi um golpe para o clericalismo católico medieval; Os Simples, um retorno à alma das pessoas singelas, com uma fé vital e uma harmonia com a natureza e os seus poderes invisíveis, agora impossíveis de alcançar em cidades sacudidas pelo materialismo, pelo ceticismo moral e pela ausência de valores. E a sua Oração à Luz é um verdadeiro hino religioso, filosófico e científico, à quintessência mãe de tudo o que vive, a presença do próprio Deus na alma e na carne e no sangue humanos, como energia solar, como vida ardente.

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1492: O Latido da América

Jorge Ángel Livraga 0 442

Por vezes, quando se mergulha na História, parece como se houvesse um grande diretor de orquestra marcando a entrada de um instrumento ou de uma voz. Não pensamos que os acontecimentos históricos sejam casuais, mas que tudo obedece a um ritmo secreto, profundo, que existe nas coisas.
Mais do que um descobrimento da América, eu falaria de uma integração da América na imagem do mundo. Porque é muito provável que o conhecimento do continente americano já existisse muito antes da época de Colon. Mesmo os navios utilizados não eram superiores ao que puderam ser os navios romanos que levavam o trigo do Egito para Roma. Não havia uma verdadeira superioridade.
Alguém que conheça o tema, pensará que os navios antigos tinham dois timões de popa e não um. Isso não é nem uma vantagem, nem uma desvantagem; um navio pode ser governado igualmente com timões laterais ou com um timão de popa. Este aparece também em algumas gravuras de pequenos navios em Pompeia e Herculano. Entre os etruscos, vemos grandes veleiros de três mastros com timão de popa, ou seja, os navios antigos podem bem ter cruzado o mar.

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Às Portas de Uma Nova Idade Média

Jorge Angel Livraga 0 490

Antes de mais, devo dizer-vos que a Idade Média é algo completamente natural. Todas as coisas são pautadas por um sistema de ritmo. Há Verões, há Invernos, há dias e há noites. Há momentos felizes e há momentos infelizes. Todas as coisas continuam como elos de uma corrente, umas com as outras. As montanhas com os vales, os vales com as montanhas. Assim, ao longo do passado humano, encontramos muitas vezes idades médias.
Que significado se dá a uma Idade Média? É algo que está entre uma coisa e outra, que está na metade; uma espécie de “mergulho” ou depressão no que consideraríamos um nível civilizacional; chamamos a isso Idade Média. Como já mencionámos várias vezes, a China, por exemplo, que é milenar e não sabemos exatamente quando começou a sua civilização, pois em épocas longínquas já a encontramos trabalhando os metais, fazendo filosofia, tendo religião, tratados de arte militar, etc., sofreu várias idades médias.

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A Economia da Felicidade: o Decrescimento Económico Controlado

Carlos Paiva Neves 0 365

Amiúde, damo-nos conta com a reflexão sobre a ideia de felicidade. Esse exercício parece estar envolto numa complexidade que muitas vezes é referida como subjetiva. Vamos tentar simplificar, uma vez que essa subjetividade está muito provavelmente relacionada com a infelicidade e a insatisfação do ser humano. Parecendo dois conceitos antagónicos, atrevo-me a afirmar que a via para a infelicidade é muito mais percetível, do que aquela ideia que teimamos em dificultar, quando buscamos a sua natureza – a felicidade. Porque não assumimos o caráter singelo e puro da felicidade, como um estado de espírito que está tão perto de nós? A felicidade pode transmitir-nos com grande fulgor, e simplesmente, um estado de uma consciência plenamente satisfeita. A sua origem do latim, felicitas, pode significar fertilidade, felicidade, boa fortuna, sorte, favor dos deuses e prosperidade. Heráclito, filósofo pré-socrático (500-450 a. C.), deixou-nos com esta máxima: Se a felicidade residisse nos prazeres do corpo, diríamos que os bois são felizes quando encontram feno para pastar. Sócrates (470-399 a. C.) afirmava aos seus discípulos que tinha tudo o que desejava, mas que adorava ir ao mercado para descobrir que continuava completamente feliz, sem todo aquele monte de coisas. Platão (428-348 a. C.) promoveu o exercício da temperança no que diz respeito à busca de riqueza material, de modo que, ao fortalecer a moderação, a pessoa pudesse preservar assim, a ordem de sua psique. Diógenes de Sínope (412-323 a. C.), filósofo cínico interpretou a felicidade através de uma vida simples, e a necessidade de retornar à natureza, apesar de todas as convenções e costumes que nos tendem a afastar. Epicuro (342-270 a. C.) identificou que a raiz do mal se encontra na intemperança dos desejos, que sobre o efeito de uma falsa representação do prazer e da felicidade, impulsiona-nos a possuir sem limite, quando não é buscar a qualquer preço um diminuto poder ou glória de um curto momento. Lao Tse (V-IV séc. a. C.), filósofo da Antiga China, preconizou a rejeição do supérfluo, e defendeu uma certa ética da frugalidade e da autolimitação, valorizando a busca de harmonia com a natureza, mais do que a acumulação de bens materiais. Diz-nos ainda, Lao Tse, que a sabedoria é o caminho que desprende o excesso, a extravagância e o exagero. A ideia de felicidade não tem, afinal, qualquer subjugação ao subjetivo material, sem ligação às conquistas da posse e das coisas transitórias.

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A Trágica Profecia de Malthus

Jorge Angel Livraga 1 529

Há alguns meses atrás, por ocasião de um congresso sobre a Hispano América, surgiu o tema da fome entre os povos do chamado, por alguns, Terceiro Mundo, e por outros, Grupo de Países em Desenvolvimento.
Mais tarde, diferentes meios da imprensa espanhola estavam interessados no tema mencionado e por alguém que, há 150 anos, desde Londres, lançou um folheto no qual se faziam algumas reflexões muito originais para o seu tempo, sobre as probabilidades de que a Humanidade fosse um dia, não muito distante, vítima do flagelo da fome ao nível quase planetário. Era o reverendo Thomas Robert Malthus, nascido em 1776 e falecido em 1834.
A sua obra não pretendeu ter muita importância, e tanto é assim que este cientista a publicou de maneira anónima, expondo a sua teoria simplista sobre a progressão geométrica em que a Humanidade crescia e a aritmética em que podia produzir alimentos, envolta nos algodões de um ecletismo invejável. Diz, por exemplo: o autor (…) é consciente de que ao usar tão negras tintas fê-lo convencido de que existem realmente na imagem e não são o resultado de preconceitos nem temperamento rancoroso. Na verdade, digno exemplo a seguir por todos os que vivemos no século XX, tão carregado de absolutismos e que costumamos escrever sem ter seriamente em conta que as nossas razões podem estar erradas.

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Miguel Torga e o Veneno de Sartre

José Carlos Fernández 1 203

Ao ler o V Diário de Miguel Torga (1907-1995) constatamos que este poeta transmontano estudava, em 1949, como milhares de jovens na Europa, os livros de Jean Paul Sartre. Estes milhares, então, à medida que iam passando os anos, converter-se-iam em milhões, e o efeito tangível da filosofia deste autor existencialista haveria de se notar, nos ventos de destruição, caos, angústia e dissolução que provocaram, inclusive, no que um escritor francês chamou: a encarnação do desastre cultural francês do pós-guerra. E sendo a França o coração da Europa, essa arritmia, gangrena ou náusea, a escuridão do puro nada ou morte moral, estenderam-se por todos os membros, chegando também, está claro, a Espanha e a Portugal, nosso país irmão.

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A Revolução do Século XXI

Carlos Adelantado Puchal 1 576

No panorama humano do nosso novo milénio, parece necessária uma revolução para o positivo. Uma revolução que envolva diferentes gerações e que a sustente no tempo, capaz de semear uma ética profunda e de colher no futuro, frutos mais conformes à dignidade humana do que os oferecidos pelo nosso presente. O futuro é sempre incerto. A única coisa certa é que ele é condicionado pelo passado. Desde a China antiga, com os pensadores da era pré-Han (séculos V-III a.C.), o conceito de revolução foi definido como mudança violenta. No pensamento de Confúcio, o conceito implicava uma transformação do espaço e, mais tarde, ao abranger também o tempo, chegamos à revolução sem tempo, da qual Mao Tsé-Tung teria esboçado alguns elementos e que Ho Chi Ming (aquele que ilumina) teria expressado melhor. Trata-se de fazer com que a revolução não se limite a um lugar, mas seja transferida para muitos outros lugares com a participação de diferentes gerações que prolongam o seu tempo de vida. E hoje, no dealbar do século XXI, volta-se a falar de revolução: social, política, económica, artística, etc., mas num ambiente bastante obscurecido e confuso.

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Profecias sobre o Fim do Mundo. Segunda Parte

Jorge Ángel Livraga 0 720

São várias perguntas. Vamos tentar solucioná-las. Uma delas é sobre os registos akáshicos. Existe um plano total que se vai cumprindo, parte por parte, de forma inexorável? Vamos supor que isso existe. Se existe esse plano inexorável que vai levar cada um de nós a algum lugar, há um problema; um problema não apenas ético, mas também científico. Então, onde está o livre-arbítrio? Onde está a virtude e onde está a maldade? Porque se já está escrito que um homem vai ser assassino, vai matar outro, que culpa tem esse homem? Então, esse homem não seria realmente mau. E um homem que dedicou a sua vida à santidade, à oração, à generosidade, se já estivesse escrito, absolutamente, que deveria dedicar-se à oração, à generosidade, à pureza, que virtude haveria em fazê-lo? Porque seríamos simples marionetas, penduradas numa espécie de fios que tornam inexorável tudo o que temos que fazer.

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O que É kundalini

Jorge Ángel Livraga 0 798

Em Espanha, hoje está na moda falar e ler sobre temas do esoterismo oriental. Um desses temas é Kundalini, palavra cuja fonética deriva do sânscrito, língua milenar dos brâmanes, que foi sistematizada por Panini, famoso gramático autor da obra Paniniyam, escrita em forma de aforismos (Sûtras) por volta dos séculos VI e V a.C. Segundo as tradições mais antigas dos povos conhecidos, o fogo, nas múltiplas formas e dimensões em que se desenvolve, tem um carácter sagrado e mágico. Desde o Agni Védico, até aquele que ilumina a coroa do Zohar; o Fylfot que ilumina a mão de Thor; o Ptah dos antigos egípcios; o Hue-hue-teotl dos Teotihuacanos do México e a pomba do Espírito Santo dos cristãos.

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As Formas Mentais

Jorge Angel Livraga 0 725

Cada um de nós e o nosso entorno assume uma realidade sensível de acordo com a forma como é pensada. Isto não muda os Arquétipos que nos esperam no final do Caminho, como Platão brilhantemente explicou, mas a nossa intenção neste artigo é nos referir, não ao Logos ou à Ideia Divina que como um timoneiro rege o progresso do Universo de forma inteligente e que se reflete nas estrelas e nos átomos, mas à parte humana que temos que viver, pessoalmente, nos limites do nosso espaço-tempo. Não devemos ser egoístas, mas não podemos deixar de ser egocêntricos. Protágoras dizia que “O Homem é a medida de todas as coisas”, e com isso ele referia-se não apenas à consciência humana e ao Universo, mas até mesmo o seu corpo físico, que lhe dá uma noção do pequeno e do grande, do próximo e do longe. O Homem-microcosmo é em si mesmo uma imagem viva desse Deus-macrocosmo no qual É e Está.

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Miracolous, as Aventuras de Ladybug e o Triunfo do Esoterismo

José Espartero 0 378

No final do século XIX, a grande H. P. Blavatsky, autora de A Doutrina Secreta e Ísis Sem Véu, comentou que no século seguinte o Ocultismo triunfaria e que este encheria, para o bem ou para o mal, todas as facetas da vida. Entendemos por Ocultismo os ensinamentos das Escolas de Mistérios, dados como tesouros, um a um, segundo o despertar moral e intelectual da humanidade, como sucedeu com as obras desta autora. No entanto, ao sair do Santuário e até descerem mais abaixo da mente filosófica, são ensinamentos geralmente pervertidos, manipulados pelo vulgo, adulterados, prostituídos por interesses egoístas e sectários, fragmentados contranatura, etc. Mas, no final, os ensinamentos são ensinamentos, mais além do que entendemos deles e o que façamos, que abrirá mais e mais ou fechará mais e mais a nossa mente e o coração. Que estes ensinamentos entrem no quotidiano e no imaginário popular pode ser uma grande inspiração ou pelo contrário, nefasto às vezes. Como tudo, depende de quem, o quê, quando e como.

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Profecias sobre o Fim do Mundo. Primeira Parte

Jorge Ángel Livraga 0 692

Gostaria de começar esta palestra lembrando que esta questão das profecias é uma espécie de necessidade humana. Os homens de todos os tempos, dentro do que conhecemos, – e mesmo no que poderíamos chamar de proto-história, isto é, a parte não suficientemente conhecida do passado humano -, quiseram saber o que iria acontecer no futuro. É algo humano, é algo que todos precisamos saber: o que vai acontecer? Este facto está enraizado no problema do tempo. É muito difícil definir o que é o tempo; ainda hoje sabemos que o tempo não é igual em todos os lugares do espaço, nem é igual para todas as pessoas. Haverá um tempo físico, um tempo psicológico e um tempo mental. Quantos de nós já estivemos, talvez, um dia muito felizes, muito confortáveis, e dizemos que aquele dia voou, que parece que aquele dia não teve 24 horas, mas muito menos? E quantas vezes, por outro lado, quando estamos doentes ou quando temos um problema, ou quando um familiar está moribundo, sentimos que esses dias são longos, infinitamente longos, que depois lembramos não como se fosse um dia, mas como se fossem muitos dias?

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A Alma da Pintura em Roma

José Carlos Fernández 0 1210

Os romanos afirmaram que a sua arte pictórica deriva da Grécia e que a partir do século III a.C. teria assimilado as suas técnicas e estilos. Não tiveram pouca importância na transferência deste fogo artístico as campanhas militares na Sicília e na Magna Grécia; também o Círculo dos Scipios, filósofos, historiadores e poetas que foram a corte de Csipio Emílio, um círculo que mereceria o elogio de Cícero.

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Uma Breve História do Espírito

Carlos Paiva Neves 0 1019

Em tempos, Jorge Angel Livraga (1930-1991) escreveu um artigo, muito interessante, não tanto pelo tema em si mesmo, mas sobretudo pela sua visão sobre a temática. Esse artigo foi intitulado «O que fazem os mortos no além», refletindo numa linguagem acessível, as relações que os mortos têm com os vivos, ou simplesmente, a comunicação entre desencarnados e encarnados. Em certo momento, Jorge Livraga transmite-nos a convivência com o mecanismo da mediunidade, sem referir o termo, escrevendo que «tanto os vivos como os mortos são interdependentes e fazem-nos chegar os seus desejos e temores por uma espécie de telepatia, e nós fazemos o mesmo com eles». Mas logo confessa que esta instrução que nos fornece é voluntariamente limitada. Claramente que Jorge Livraga tem a noção da complexidade deste mecanismo espiritual complexo, muitas vezes conhecido por sexto sentido. A mediunidade é de facto esta capacidade de o ser humano compartilhar o mundo físico e espiritual, apoiado no princípio universal da crença na sobrevivência da alma. A humanidade também tem o seu próprio Espírito, que podemos designar por «Espírito do Mundo», anima mundi, ou simplesmente «Espírito», o Geist ou Weltgeist, entendido como a atividade humana exercida no interior da mente do ser humano. A mediunidade é então um intermediário de si mesmo, proveniente dos níveis mais profundos da personalidade anímica, da consciência subliminar. Geist é um conceito central na obra «A fenomenologia do Espírito», de Georg Friedrich Hegel (1770-1831), que deve ser interiorizada como a história do Espírito ou da Consciência, muito difícil de entender, mas que influenciou muitos outros pensadores.

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Sentido do Mito em Platão

Francisco Duque Videla 0 957

A maioria dos pensadores modernos que recolhem e analisam a obra mítica da epopeia grega, digamos «primitiva», consideram que constitui uma fórmula pré-lógica de conceção dos fenómenos cósmicos e naturais que moveram os gregos. Este traço positivista não abandona a maioria dos historiadores da filosofia. Assim, a interpretação de Tales ou Empédocles é considerada uma transição do mundo mítico para o racional.
Portanto, é surpreendente para estes pensadores que Platão e mesmo Aristóteles voltem ao mito como recurso expressivo, e tentem interpretar esse facto como uma transição gradual de uma «filosofia mítica» até uma «filosofia científica».
Entre os platónicos encontramos a opinião de que Platão, através do seu sentido poético, interpreta os mitos como um meio de quebrar o rigor racional. Atribui-se a sua às ideias religiosas órficas, movimento espiritualista que teve grande influência em alguns dos pré-socráticos, especialmente em Pitágoras.
Geralmente é apresentado em oposição ao Mitos com o Logos, entendendo o primeiro como o conceito pré-lógico antecedente à conceção racional. Contudo, Platão afirma que o conhecimento lógico tende a desaparecer da memória do homem depois de algum tempo mais ou menos extenso, e então permanece fresca a imagem do mito como símbolo do conteúdo filosófico.
Vemos que o significado platónico do mito se aproxima muito de um caráter paradigmático, isto é, como modelo arquetípico de uma realidade que é apenas mimesis, imitação de outra original, eterna e imutável.

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Podem os Desígnios de Deus Ser Conhecidos?

Jorge Ángel Livraga 0 521

Este tema obriga-nos a estar atentos a um primeiro erro que habitualmente cometemos, mais ou menos cegos pelas religiões exotéricas que prevaleceram na nossa educação infantil. Um filósofo como amante da verdade que é, deve evitar personalizar Deus. “Aquilo” que, nós filósofos, chamamos de Deus, não tem propriedades nem podemos atribuir-Lhas. H.P. Blavatsky disse: “Se as vacas tivessem alguma forma religiosa e quisessem representar Deus, é evidente que o representariam com chifres. Não devemos esquecer que todas as religiões são formas exotéricas, adaptadas ao lugar e ao tempo, para beneficiar determinados homens. Assim, os indianos puseram a cabeça de elefante ao seu deus de sabedoria; os egípcios, cabeça de íbis. Assim também, Buda entra no Nirvana com os olhos semifechados, impoluto de toda a sujidade e adormecido; Cristo entra no Reino dos Céus, humanamente sujo e sangrando, depois de ter sofrido a última prova da dúvida, tendo como companheiros dois ladrões. Porém tudo isto é puro exoterismo; revestimento exterior de coisas mais profundas e misteriosas. Quando Platão disse que “jamais o que é vulgar será filósofo”, não cometeu nenhum erro social…; simplesmente disse a verdade. Há que deixar de ser “vulgar” – ou seja exotérico -, para alcançar a verdade do esoterismo.

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Devemos Preservar a Pureza da Natureza… e do Homem

Jorge Ángel Livraga 1 803

Depois da “guerra fria” ou “guerra suja” que se seguiu à Segunda Guerra Mundial, ainda que se tenha mantido o mito dos maus e dos bons, a juventude do Ocidente caiu numa grande confusão. Como se fosse uma criança assustada, na sua intenção de excluir as “palavras malditas” que sobreviveram depois de 1945, também o fez com grande parte da memória coletiva a que chamamos “História”.

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Nova Acrópole como Exemplo de Filosofia Natural e Ativa

José Carlos Fernández 0 1011

No Dia Mundial da Filosofia, todos os Centros ou Escolas da Nova Acrópole, internacionalmente, mais de 300, celebram o poder transformador “deste princípio luminoso da razão que recebemos do Céu”. Chamamos a isto Filosofia Natural, porque em vez de se perder de forma estéril nos labirintos da mente, quer ler e lê na natureza infinita que nos rodeia, nos acontecimentos e no seu significado (a que chamamos história), e nos mesmos véus da alma humana, no seu mistério sempre vivo.

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Uma Aproximação à Realidade, de Nilakantha Sri Ram

José Carlos Fernández 0 998

Numa ocasião, Jinarajadasa, sendo Diretor Internacional da Sociedade Teosófica, comentou sobre Sri Ram (1889-1973), que mais tarde seria o seu sucessor no cargo, que era uma personagem, uma alma semelhante àqueles que acompanhavam como sábios e conselheiros os grandes Reis Iniciados do período védico. Todos os que puderam acompanhar as suas ações, discursos e livros diziam que a melhor qualificação para ele era o de Sábio, com maiúsculas.

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A Desintegração da Cultura

Jorge Ángel Livraga 0 610

O conceito de cultura poderia definir-se como o conjunto de valores permanentes, conhecimentos científicos, crenças e experiências que vão sendo acumuladas de geração em geração pela Humanidade. Sendo os componentes da Humanidade fisicamente efémeros, vencem, porém, o tempo e a morte, perpetuando-se na transmissão do melhor de si aos seus próprios descendentes, para que o homem, sempre renovado e jovem, seja “experiencialmente” cada vez mais velho e, portanto, mais apto e mais sábio.
A própria civilização não é mais do que a plasmação de uma cultura no plano concreto, tal como o vaso de barro é a plasmação da ideia que teve previamente o oleiro. Desta forma, sem cultura não há civilização. Pelo menos, não há uma civilização viva, capaz de reproduzir-se em tipos cada vez mais evoluídos. Uma civilização pode perdurar mesmo depois da dissolução da sua cultura, mas fá-lo-á como o cadáver o faz: só brevemente depois da morte. Logo virá o processo de putrefação, e a união harmónica que outrora regentara tudo, converte-se num caótico laboratório químico e físico, povoado de vermes e larvas, coberto apenas por uma mortalha fétida e pela fria lápide da recordação do que foi, mas não é mais.

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Necessidade de Ecologia Política

Jorge Ángel Livraga 0 615

Nos últimos anos comprovamos um interesse, a nível mundial, sobre a necessidade de harmonizar o Homem com a Natureza. Antigos preconceitos “religiosos”, unidos ao crescimento deformado da nossa civilização materialista degenerada, numa adoração aberrante do técnico–artificial e de um subjetivismo desumanizado, levaram-nos a este momento histórico altamente conflituoso e asfixiante, sumamente perigoso e com pressentimentos de um futuro apocalíptico.
É de desejar que não seja demasiado tarde.

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O Progresso É Sinónimo de Mudança?

Jorge Ángel Livraga 0 590

A frase, contundente e redonda como um postulado científico, resume na linguagem direta do grande escritor espanhol que viveu a cavalo entre os séculos XIX e XX, toda uma filosofia de vida. Não deixa uma brecha para introduzir a menor das perguntas: aceita-se ou nega-se.

E é um facto curioso que as asseverações mais absolutas partam, no geral, de pensadores que apresentaram características liberais. Vale a pena determo-nos nisto.

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O Caminho Inverso

Jorge Ángel Livraga 1 1068

Quando lemos os textos de História destacam-se as figuras de um Alexandre, um Júlio César, um Napoleão, um Bolívar, como que sobressaindo do seu fundo, de tal maneira, que somente os vemos a eles. É óbvio que não sonharam, trabalharam e lutaram sozinhos, mas isso pouco importa, e as suas silhuetas tremendas cobrem todo o horizonte dos feitos humanos, quase sem deixar lugar para outra coisa que não sejam eles mesmos. Inclusive, quando os seus colaboradores são mencionados, os seus inimigos, os seus amores, as suas amizades, todos estes parecem anões, e se os conhecemos é somente pelo cruzamento circunstancial com a figura do Herói. Se Xantipa não tivesse despejado em público um balde de água sobre a cabeça de Sócrates, o seu nome jamais nos teria chegado e dela sabemos – ou importa-nos saber – pouco mais do que essa historieta.

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