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hipoconsumo

A Economia da Felicidade: o Decrescimento Económico Controlado

Carlos Paiva Neves 0 154

Amiúde, damo-nos conta com a reflexão sobre a ideia de felicidade. Esse exercício parece estar envolto numa complexidade que muitas vezes é referida como subjetiva. Vamos tentar simplificar, uma vez que essa subjetividade está muito provavelmente relacionada com a infelicidade e a insatisfação do ser humano. Parecendo dois conceitos antagónicos, atrevo-me a afirmar que a via para a infelicidade é muito mais percetível, do que aquela ideia que teimamos em dificultar, quando buscamos a sua natureza – a felicidade. Porque não assumimos o caráter singelo e puro da felicidade, como um estado de espírito que está tão perto de nós? A felicidade pode transmitir-nos com grande fulgor, e simplesmente, um estado de uma consciência plenamente satisfeita. A sua origem do latim, felicitas, pode significar fertilidade, felicidade, boa fortuna, sorte, favor dos deuses e prosperidade. Heráclito, filósofo pré-socrático (500-450 a. C.), deixou-nos com esta máxima: Se a felicidade residisse nos prazeres do corpo, diríamos que os bois são felizes quando encontram feno para pastar. Sócrates (470-399 a. C.) afirmava aos seus discípulos que tinha tudo o que desejava, mas que adorava ir ao mercado para descobrir que continuava completamente feliz, sem todo aquele monte de coisas. Platão (428-348 a. C.) promoveu o exercício da temperança no que diz respeito à busca de riqueza material, de modo que, ao fortalecer a moderação, a pessoa pudesse preservar assim, a ordem de sua psique. Diógenes de Sínope (412-323 a. C.), filósofo cínico interpretou a felicidade através de uma vida simples, e a necessidade de retornar à natureza, apesar de todas as convenções e costumes que nos tendem a afastar. Epicuro (342-270 a. C.) identificou que a raiz do mal se encontra na intemperança dos desejos, que sobre o efeito de uma falsa representação do prazer e da felicidade, impulsiona-nos a possuir sem limite, quando não é buscar a qualquer preço um diminuto poder ou glória de um curto momento. Lao Tse (V-IV séc. a. C.), filósofo da Antiga China, preconizou a rejeição do supérfluo, e defendeu uma certa ética da frugalidade e da autolimitação, valorizando a busca de harmonia com a natureza, mais do que a acumulação de bens materiais. Diz-nos ainda, Lao Tse, que a sabedoria é o caminho que desprende o excesso, a extravagância e o exagero. A ideia de felicidade não tem, afinal, qualquer subjugação ao subjetivo material, sem ligação às conquistas da posse e das coisas transitórias.

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