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Filosofia

Miguel Torga e o Veneno de Sartre

José Carlos Fernández 1 234

Ao ler o V Diário de Miguel Torga (1907-1995) constatamos que este poeta transmontano estudava, em 1949, como milhares de jovens na Europa, os livros de Jean Paul Sartre. Estes milhares, então, à medida que iam passando os anos, converter-se-iam em milhões, e o efeito tangível da filosofia deste autor existencialista haveria de se notar, nos ventos de destruição, caos, angústia e dissolução que provocaram, inclusive, no que um escritor francês chamou: a encarnação do desastre cultural francês do pós-guerra. E sendo a França o coração da Europa, essa arritmia, gangrena ou náusea, a escuridão do puro nada ou morte moral, estenderam-se por todos os membros, chegando também, está claro, a Espanha e a Portugal, nosso país irmão.

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Filosofia: Um Modo de Vida

Delia Steinberg Guzmán 1 284

Estou convencida de que todos os seres humanos, mesmo que não o saibam e não tenham um título, são filósofos. Estou convencida de que qualquer ser humano que questiona as coisas e quando está sozinho consigo mesmo, quer saber quem é, deu nascimento a um filósofo.
O que é a filosofia? Não gosto de definições, talvez porque tive que estudar muitas, porque percebi que nesses casos a memória pouco serve, e o que tem servido é o que nos vai ficando na Alma. A filosofia, para além dos muitos conceitos que se têm explicado ao longo da história, para além do equilíbrio de finalidades que lhe têm dado, é a Grande Arte, a Grande Ciência. É uma atitude perante a vida. É uma atitude que requer uma Ciência; se alguém se faz perguntas, necessita respondê-las. E é uma atitude que implica uma arte porque essas palavras não se podem responder de qualquer forma.
O que é atitude perante a vida? É… ir por ela com os olhos abertos; é não ter medo de indagar os grandes mistérios; é não ter medo de olhar para o Universo e perguntar-se por ele, sobre si mesmo, sobre o Ser humano. E é ali onde coincidem todos os povos, porque, em todos os momentos, quando o homem se perguntou como se une com o Universo, encontrou Deus e refletiu-O de mil maneiras.

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Profecias sobre o Fim do Mundo. Segunda Parte

Jorge Ángel Livraga 0 486

São várias perguntas. Vamos tentar solucioná-las. Uma delas é sobre os registos akáshicos. Existe um plano total que se vai cumprindo, parte por parte, de forma inexorável? Vamos supor que isso existe. Se existe esse plano inexorável que vai levar cada um de nós a algum lugar, há um problema; um problema não apenas ético, mas também científico. Então, onde está o livre-arbítrio? Onde está a virtude e onde está a maldade? Porque se já está escrito que um homem vai ser assassino, vai matar outro, que culpa tem esse homem? Então, esse homem não seria realmente mau. E um homem que dedicou a sua vida à santidade, à oração, à generosidade, se já estivesse escrito, absolutamente, que deveria dedicar-se à oração, à generosidade, à pureza, que virtude haveria em fazê-lo? Porque seríamos simples marionetas, penduradas numa espécie de fios que tornam inexorável tudo o que temos que fazer.

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Prefácio do Livro “Antologia Poética” de Fernando Pessoa

Entre as 25.000 páginas empilhadas no famoso baú de Fernando Pessoa, mais de duas mil pertencem a poemas, uma obra realmente ingente. Poemas manuscritos ou datilografados, a maior parte, claro, em português, mas muitos outros em inglês – vários monumentais – e uns poucos em francês. Alguns destes poemas são linhas breves, mas outros, dezenas de páginas historiadas.

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Fundamentos Filosóficos da Ecologia

Miguel Ángel Padilla 1 1169

A cada 22 de abril celebra-se o Dia Internacional da Mãe Terra. Este ano fará quase meio século que se comemora, no entanto, são poucas as mudanças conseguidas para tornar a nossa relação com o nosso planeta sustentável. Algumas destas mudanças deverão ser tão profundas que poderemos não estar dispostos a adotá-las, indo contra a nossa vontade de manter uma forma de vida e um ideal de felicidade e de desenvolvimento baseados no consumo, no conforto, na ganância, na necessidade de ter cada vez mais e mais de tudo, em lugar de explorar outras formas de ser e de estar na Terra.
Neste artigo pretendo compartilhar algumas reflexões em torno do pensamento dominante fundamentalmente nos séculos XIX e XX, e nas ideias emergentes que vão ao encontro de muitas das abordagens às necessidades tradicionais de grande parte dos povos da Terra.
A ecologia, como ramo da biologia que estuda as relações dos seres vivos entre si e com o meio envolvente, é relativamente jovem como ciência. Nasceu em 1869, no entanto, o termo engloba algo de crucial importância: as relações do ser humano com a natureza, das ideias e atitudes que deram origem a essa relação e as consequências que decorrem do nosso comportamento face aos outros seres vivos e ao próprio planeta. Esta é a proposta filosófica: proporcionar diferentes formas de compreender e de nos relacionar com a Terra, tanto nas culturas ancestrais como atuais.

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Filosofia ou Religião: Qual a Diferença?

Pierre Poulain 0 1219

Quando escrevo um artigo para esta revista, geralmente escolho um acontecimento do noticiário diário para comentar. Hoje não vou falhar neste hábito, mas optei por comentar não um acontecimento, mas uma experiência pessoal ocorrida numa aula, no Centro da Nova Acrópole, em Telavive.
Tivemos um seminário de um dia, com exercícios teóricos e práticos sobre filosofia e o caminho para a sabedoria, e durante esse seminário respondi a algumas perguntas. Uma das perguntas era: Qual é a diferença entre Filosofia e Religião?
Devo dizer que a princípio senti que a resposta devia ser óbvia… mas na verdade não foi. E quanto mais eu pensava nisso, mais achava que seria interessante desenvolver a resposta como um pequeno artigo… então aqui estamos.

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O Desafio da Convivência. Segunda Parte

Carlos Adelantado 0 489

E sempre esteve relacionado com a convivência. A zona de onde venho, antigamente fazia parte do reino da Coroa de Aragão. Há muitos anos tive que fazer um trabalho de investigação. Nos arquivos da Coroa de Aragão, muitos documentos estavam em latim, ou em catalão ou em valenciano antigo. Em documentos de cerca de 1200 é muito curioso que quando se fala de cidades, lugares, aldeias, não dizem “há dez casas” ou, por exemplo, “há 40 famílias em 40 casas”… Não dizem isso. A expressão literal em latim, catalão e valenciano é “em tal cidade há 40 fogos”. É daí que vem a palavra casa: da palavra fogo. Ou seja, quando falamos de fogo, inevitavelmente estamos a falar de convivência: os seres com fogo, os seres humanos, reúnem-se em redor do fogo, em círculos ou em linhas, porque ao fim e ao cabo o que une os seres humanos, de uma maneira ou de outra, é sempre o fogo. Se pensarmos nas características do fogo, perceberemos que, além de muitas outras, o fogo dá-nos luz e calor.

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Nova Acrópole como Exemplo de Filosofia Natural e Ativa

José Carlos Fernández 0 672

No Dia Mundial da Filosofia, todos os Centros ou Escolas da Nova Acrópole, internacionalmente, mais de 300, celebram o poder transformador “deste princípio luminoso da razão que recebemos do Céu”. Chamamos a isto Filosofia Natural, porque em vez de se perder de forma estéril nos labirintos da mente, quer ler e lê na natureza infinita que nos rodeia, nos acontecimentos e no seu significado (a que chamamos história), e nos mesmos véus da alma humana, no seu mistério sempre vivo.

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Explorações e Conquistas: a Viagem das Ideias

Mª Dolores F.-Fígares 0 590

Entre as duas polaridades extremas no eixo equinocial do mundo, a China no Oriente e no Ocidente a zona de influência da cultura grega: Itália, sul da Gália, Sicília, Cartago, Sardenha e a costa sudeste da Espanha, teceram-se juntas ao longo dos séculos influências e civilizações. As ideias viajaram pelos mais inesperados caminhos, fertilizando no seu rastro as grandes extensões onde surgiram as culturas dos povos semitas, Irão e a Índia, verdadeiros intermediários, lugares de síntese duradouros.
Embora tenhamos a ideia de dois mundos diferentes, que vivem a História com ritmos diferentes, o Oriente e o Ocidente partilham desde tempos antigos formas culturais e meios técnicos, a tal ponto que a divisão entre estes dois mundos é artificial e só resulta de uma oposição inventada pelo reducionismo. Também é impreciso atribuir às chamadas «culturas superiores» todos os avanços civilizatórios, e considerar os povos que sucessivamente invadiram os seus domínios como bárbaros desprovidos de qualquer cultura, pois eles também contribuíram para aumentar o património cultural.

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A Linguagem dos Símbolos

Carlos Adelantado Puchal 1 673

Em várias ocasiões costumamos referir-nos à Filosofia como uma busca do conhecimento que nos falta. Essa busca implica a acção de movimento em determinada direcção, e assim consultamos livros que outros escreveram, escutamos coisas que outros dizem e submetemos a nosso critério os pensamentos e raciocínios dos outros. É certo que no mundo exterior a nós próprios podem-se encontrar muitas respostas interessantes, porque é um mundo no qual se pode experimentar e, de maneira racional, estabelecer relações que nos levam a conclusões lógicas. É um mundo partilhado por milhões de seres humanos, basicamente com os mesmos problemas e as mesmas necessidades, embora seja forçoso reconhecer que varia muitíssimo o grau de intensidade de problemas e necessidades para uns e outros. Mas também é certo que no mundo interno, íntimo e privado de cada um de nós, também se pode experimentar e chegar a resultados válidos. Aqui nos encontramos mais sós, embora estejamos rodeados por milhões de seres humanos. Nesse âmbito interno, os nossos problemas e necessidades parecem-nos únicos, as nossas ideias as melhores e as nossas emoções fazem-nos crer que são intransferíveis. Estes dois mundos, o externo e o interno, são absolutamente reais para cada indivíduo e não podemos estar totalmente certos de saber e conhecer algo se não o experimentámos nestes dois planos da existência.

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Os Exercícios Espirituais dos Filósofos Estóicos

Francisco Capacete 0 1557

Pierre Hadot foi um dos mais importantes historiadores do pensamento antigo dos nossos dias. O seu profundo amor pela filosofia e pelo mundo antigo fez com que reparasse nas supostas incoerências do ensino dos autores clássicos. Foi quando descobriu que a filosofia do mundo antigo não é um discurso teórico isolado, mas sim uma reflexão repartida, em resultado de uma maneira especial de viver. Assim, os exercícios espirituais surgem aos olhos do professor Hadot como a peça que falta para completar a imagem da filosofia antiga. As incoerências no discurso desaparecem, e em seu lugar brilha uma autêntica correspondência entre pensamento, sentimento e acção.

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Ciência sem Consciência É a Ruína da Alma

Manuel J. Ruiz Torres 0 1996

A Academia Real Espanhola define a palavra consciência com vários significados que têm a ver com a perceção do que está bem ou está mal ou com a capacidade de conhecer e refletir sobre algo. E ambos os sentidos serão usados ao relacionar ciência e consciência.
A frase «ciência sem consciência é ruína da alma» aparece na obra Pantagruel, do humanista, médico e escritor francês François Rabelais, no século XVI, e nela encontra-se a consciência como ponto de vista ético ou moral.

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Plotino e os Degraus da Virtude

Henrique Cachetas 4 1746

De acordo com a tradição deixada por Platão, as virtudes cívicas são quatro: a sabedoria, a coragem, a moderação e a justiça. Estas são as virtudes que fazem o nosso eu terreno assemelhar-se tanto quanto é possível a um reflexo do mundo inteligível. Isto é possível pois todas resultam da aplicação de uma mesma Medida, ou seja, de um sentido ético profundo da alma humana, proveniente da Inteligência, que assim consegue conduzir todos os pensamentos, emoções e ações pelo caminho medido, isto é, o caminho reto e virtuoso.

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Séneca e a Educação dos Príncipes

José Carlos Fernández 0 1522

Há muitos anos, numa aula com o professor Jorge Ángel Livraga (1930-1991), surgiu uma questão sobre a natureza do programa escolástico que seguíamos na Nova Acrópole, que não é só intelectual, mas também de desenvolvimento de valores morais. E ele respondeu, com toda a naturalidade, “claro, porque vós (…) estão a receber uma educação de príncipes”. Essa afirmação, com a espontaneidade e total convicção com que o disse, impressionou-me vivamente…

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A Via de Plotino. A Caminho do Uno

Henrique Cachetas 0 895

Quanto mais investigamos a diversidade de visões existentes acerca do Universo e do Ser Humano, mais nos apercebemos do monumental trabalho implicado na procura genuína da verdade.

São tantas e aparentemente tão diversas as filosofias do mundo e dos séculos, tão variados e aparentemente tão distintos os caminhos propostos para o entendimento humano, que é natural surgir uma certa indecisão – quando não um cepticismo – sobre qual a melhor filosofia e o caminho mais propício a conduzir-nos à meta.

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Perguntas de Natureza Filosófica e Científica

Anton Musulin 0 1024

Neste número do boletim, colocamos uma série de perguntas importantes de natureza filosófica e científica e tentamos dar algumas respostas que possam colocar ainda mais perguntas. A ideia principal é esclarecer que há muito que não sabemos sobre o Universo e destacar a necessidade de reconhecer e aceitar as limitações do nosso próprio conhecimento. Ao contrário da natureza monológica dos textos e ensinamentos dogmáticos, a filosofia e a ciência são dialógicas e sugerem a busca de respostas aceitáveis e mais verdadeiras para as perguntas difíceis.

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Os Arquétipos em Platão e Carl Jung

María Kokolaki 1 4664

Carl Gustav Jung foi um médico psiquiatra, famoso pelo seu estudo e experimentação sobre o mundo psíquico humano. A sua contribuição para a psicanálise é fundamental e marca claramente um antes e um depois no estudo da psique. Consciente da profundidade e complexidade do mundo psíquico, incorporou na sua metodologia estudos de Antropologia, Alquimia, Arte, Mitologia, Filosofia, Religiões comparadas e Sociologia. Assim, as suas próprias viagens e experiências também foram muito importantes.
Neste artigo, propomos uma reflexão sobre a noção de arquétipos nos estudos do psiquiatra suíço e nos diálogos do filósofo grego Platão, uma vez que o primeiro tomou emprestado este termo das teorias platónicas para o introduzir no mundo da psicologia. No entanto, o termo não é tratado de igual modo pelos dois pensadores, não só devido à distância temporal que os diferencia, mas também devido à utilização que lhe dão.

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História Oculta da Espécie Humana

José Carlos Fernández 0 1619

Este livro é, na verdade, a versão resumida de “Arqueologia Proibida”, de Michael A. Cremo e Richard L. Thompson, de quase mil páginas. Este último, editado em 1993, é talvez, e o futuro o dirá, um dos livros mais importantes do século XX, pelo menos no que diz respeito à revisão histórica, e usando a palavra “revisão” no melhor sentido, ou seja, o da revisão necessária do que foi manipulado, adulterado, intencionalmente ocultado, etc.

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Infoxicação

Juan Martín Carpio 0 1302

Um novo dia começa. À nossa mente acodem recordações dos problemas recentes, talvez da nossa debilidade ou incapacidade para lidar com eles. Então a desorientação e o desconforto assomem ao nosso rosto.

De um modo instintivo tentamos escapar a tudo isso, quase compulsivamente ligamos a televisão, o rádio ou mais comumente o smartphone também conhecido como tonto-fone ou papagaio-fone, porque é claro, “smart” não é, pelo menos do nosso ponto de vista. Aqueles que são realmente “astutos” são os que promoveram o seu uso.

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O que é a Nova Acrópole?

Jorge Ángel Livraga 0 5706

Vamos começar a conversa de hoje tratando de definir o que é que faz a Nova Acrópole. Primeiramente, o seu nome marca a intencionalidade de fazer uma cidade alta, não no sentido material, mas sim no sentido espiritual. Além disso, chamamo-nos “escola” ou “movimento filosófico”. Hoje entende-se por filosofia algo muito abstrato, mas para os clássicos a filosofia era algo muito mais amplo. Na época pós-cartesiana dividiram a filosofia, a ciência, a política, a arte e a religião. Isto tem criado dentro da Humanidade verdadeiras tribos, com os seus totens e os seus tabus. Quer dizer, que os letrados se reúnem com letrados, os militares com os militares, os músicos com os músicos.

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O Sentido Oculto da Vida

Jorge Angel Livraga 1 2596

Desperta-me muito a atenção, como filósofo e como homem, que não haja uma preocupação mais profunda sobre o que é a vida e qual o seu sentido. Há coisas que afectam a uns e não afectam a outros, como os problemas políticos, económicos, mas há um problema comum que é o facto de que todos vamos morrer. Por isso surpreende-me, como filósofo e como homem, que haja tantos milhões de pessoas que não se preocupem seriamente em perguntar-se a si próprias e em perguntar aos grandes focos de Sabedoria da Antiguidade e aos grandes pensadores actuais o que é que tudo isto significa e que há por detrás disto.

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