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Ética

Robert Oppenheimer, Notas Biográficas e Reflexões

José Carlos Fernández 0 961

Robert Oppenheimer (1904-1967) é com justiça considerado o pai da bomba atómica. Se por vezes, encontramos personagens que bem poderíamos chamar “encarnações históricas”, este é um deles, arrastando na sua alma a cruz de todos os paradoxos que lhe permitiram abrir a porta à era atómica, da qual, evidentemente, se sairmos violentamente, sairemos muito mal: o caminho só vai para a frente ou um quase “começar de novo”, ou um esquecimento e abandono e continuar de outra maneira.
De família abastada, culta e de ascendência judaica, nasceu em Nova Iorque e desenvolveu uma fina sensibilidade moral ao ser educado numa espécie de escola pública e comunidade filosófica chamada Sociedade para a Cultura Ética, cujo lema era que “o homem deve assumir a responsabilidade de dirigir a sua vida e o seu destino”, palavras proféticas no seu caso.
Ele próprio recordaria que “fui uma criança empalagosa e repulsiva de tanta bondade. Tive uma infância que não me preparou para o facto de o mundo estar cheio de crueldade e de amargura.

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Druidas, Bardos e Escaldos “Influenciadores” e Guardiões da Sabedoria Nórdica

Franco P. Soffietti 0 692

Em grande parte das culturas conhecidas, os poetas caracterizavam-se pela sua eloquência e a sua maneira bela de traduzir ideias mediante palavras, geralmente cantadas. No mundo celta existiam dois tipos de poetas, duas classes diferentes: bardos e druidas, cujo papel ia muito mais além do mero entretenimento, já que eram guardiões da sabedoria, da história, dos mitos, dos valores e das tradições do seu povo.
Se bem que os druidas eram líderes religiosos, sábios, juristas e frequentemente considerados mediadores entre os deuses e as pessoas, nos seus atributos também se destacava o de poetas. Tanto druidas como bardos eram os educadores dos povos e pais da cultura. Numa cultura onde a escrita não era a principal forma de registo, os poetas desempenharam um papel crucial na preservação da história e da mitologia. A sua habilidade para memorizar e recitar extensos relatos, era essencial para manter viva a memória coletiva e a identidade dos povos.

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A Ética de (Bento, Baruch, Benedictus) Espinosa

Teresa Álvarez Santana 0 272

A vida de Espinosa foi muito singela. A sua família tinha vindo de Portugal para a Holanda para escapar à Inquisição. O próprio Espinosa foi educado no ensino judaico, mas achou impossível manter-se ortodoxo. Ofereceram-lhe cem florins por ano para que mantivesse as suas dúvidas escondidas; quando os recusou, tentaram assassiná-lo. Apesar de tudo, viveu tranquilamente, primeiro em Amesterdão e depois em Haia, ganhando a vida a polir lentes. As suas necessidades eram poucas e singelas e, durante toda a sua vida, mostrou uma rara indiferença pelo dinheiro. O governo holandês, com o seu habitual liberalismo, tolerava as suas opiniões sobre questões teológicas, embora, a certa altura, tenha sido mal visto politicamente, por se ter aliado aos Witts contra a Casa de Orange. Na idade precoce dos 44 anos de idade, morreu de tuberculose.

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Ubuntu, a Filosofia Africana do Respeito

Ubuntu é um dos melhores presentes que a África deu à humanidade, disse o desaparecido Desmond Tutu (1931-2021). É uma norma ética baseada na crença de que existe um vínculo humano universal nos conecta a todos e nos permite superar qualquer desafio que tenhamos que enfrentar, tanto individual como coletivamente. É uma filosofia moral, uma ideia integradora de fraternidade, solidariedade e lealdade que nasceu na África do Sul e que influenciou muitos outros países, não só africanos – como o Senegal ou o Congo –, mas também em todo o mundo. O seu objetivo é que toda a comunidade esteja protegida, que ninguém deve ser deixado sozinho ou isolado, pois estão convencidos de que se um só membro da tribo sofre de uma injustiça, os afeta a todos. Esta filosofia do respeito, nasce em primeiro lugar, do respeito por si mesmo, pois se o sagrado que existe é negado em cada um de nós, vamos também negar o sagrado que está nos demais. Ubuntu é o fio dourado com o qual se tece a concórdia e a unidade da alma dos diferentes povos, criando uma comunhão entre todos que os irá defender sempre, não só de si mesmos, senão também das ameaças do depredador estrangeiro.

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A Economia da Felicidade: o Decrescimento Económico Controlado

Carlos Paiva Neves 0 298

Amiúde, damo-nos conta com a reflexão sobre a ideia de felicidade. Esse exercício parece estar envolto numa complexidade que muitas vezes é referida como subjetiva. Vamos tentar simplificar, uma vez que essa subjetividade está muito provavelmente relacionada com a infelicidade e a insatisfação do ser humano. Parecendo dois conceitos antagónicos, atrevo-me a afirmar que a via para a infelicidade é muito mais percetível, do que aquela ideia que teimamos em dificultar, quando buscamos a sua natureza – a felicidade. Porque não assumimos o caráter singelo e puro da felicidade, como um estado de espírito que está tão perto de nós? A felicidade pode transmitir-nos com grande fulgor, e simplesmente, um estado de uma consciência plenamente satisfeita. A sua origem do latim, felicitas, pode significar fertilidade, felicidade, boa fortuna, sorte, favor dos deuses e prosperidade. Heráclito, filósofo pré-socrático (500-450 a. C.), deixou-nos com esta máxima: Se a felicidade residisse nos prazeres do corpo, diríamos que os bois são felizes quando encontram feno para pastar. Sócrates (470-399 a. C.) afirmava aos seus discípulos que tinha tudo o que desejava, mas que adorava ir ao mercado para descobrir que continuava completamente feliz, sem todo aquele monte de coisas. Platão (428-348 a. C.) promoveu o exercício da temperança no que diz respeito à busca de riqueza material, de modo que, ao fortalecer a moderação, a pessoa pudesse preservar assim, a ordem de sua psique. Diógenes de Sínope (412-323 a. C.), filósofo cínico interpretou a felicidade através de uma vida simples, e a necessidade de retornar à natureza, apesar de todas as convenções e costumes que nos tendem a afastar. Epicuro (342-270 a. C.) identificou que a raiz do mal se encontra na intemperança dos desejos, que sobre o efeito de uma falsa representação do prazer e da felicidade, impulsiona-nos a possuir sem limite, quando não é buscar a qualquer preço um diminuto poder ou glória de um curto momento. Lao Tse (V-IV séc. a. C.), filósofo da Antiga China, preconizou a rejeição do supérfluo, e defendeu uma certa ética da frugalidade e da autolimitação, valorizando a busca de harmonia com a natureza, mais do que a acumulação de bens materiais. Diz-nos ainda, Lao Tse, que a sabedoria é o caminho que desprende o excesso, a extravagância e o exagero. A ideia de felicidade não tem, afinal, qualquer subjugação ao subjetivo material, sem ligação às conquistas da posse e das coisas transitórias.

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Filosofia: Um Modo de Vida

Delia Steinberg Guzmán 1 643

Estou convencida de que todos os seres humanos, mesmo que não o saibam e não tenham um título, são filósofos. Estou convencida de que qualquer ser humano que questiona as coisas e quando está sozinho consigo mesmo, quer saber quem é, deu nascimento a um filósofo.
O que é a filosofia? Não gosto de definições, talvez porque tive que estudar muitas, porque percebi que nesses casos a memória pouco serve, e o que tem servido é o que nos vai ficando na Alma. A filosofia, para além dos muitos conceitos que se têm explicado ao longo da história, para além do equilíbrio de finalidades que lhe têm dado, é a Grande Arte, a Grande Ciência. É uma atitude perante a vida. É uma atitude que requer uma Ciência; se alguém se faz perguntas, necessita respondê-las. E é uma atitude que implica uma arte porque essas palavras não se podem responder de qualquer forma.
O que é atitude perante a vida? É… ir por ela com os olhos abertos; é não ter medo de indagar os grandes mistérios; é não ter medo de olhar para o Universo e perguntar-se por ele, sobre si mesmo, sobre o Ser humano. E é ali onde coincidem todos os povos, porque, em todos os momentos, quando o homem se perguntou como se une com o Universo, encontrou Deus e refletiu-O de mil maneiras.

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A Revolução do Século XXI

Carlos Adelantado Puchal 1 459

No panorama humano do nosso novo milénio, parece necessária uma revolução para o positivo. Uma revolução que envolva diferentes gerações e que a sustente no tempo, capaz de semear uma ética profunda e de colher no futuro, frutos mais conformes à dignidade humana do que os oferecidos pelo nosso presente. O futuro é sempre incerto. A única coisa certa é que ele é condicionado pelo passado. Desde a China antiga, com os pensadores da era pré-Han (séculos V-III a.C.), o conceito de revolução foi definido como mudança violenta. No pensamento de Confúcio, o conceito implicava uma transformação do espaço e, mais tarde, ao abranger também o tempo, chegamos à revolução sem tempo, da qual Mao Tsé-Tung teria esboçado alguns elementos e que Ho Chi Ming (aquele que ilumina) teria expressado melhor. Trata-se de fazer com que a revolução não se limite a um lugar, mas seja transferida para muitos outros lugares com a participação de diferentes gerações que prolongam o seu tempo de vida. E hoje, no dealbar do século XXI, volta-se a falar de revolução: social, política, económica, artística, etc., mas num ambiente bastante obscurecido e confuso.

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Confúcio, Sabedoria, Ideias e Grandeza de Alma

Rita de Cássia 0 635

Ao decidir fazer o trabalho com este tema quero contribuir para um bom aproveitamento dos que são pedagogos, para enriquecer os conhecimentos acerca do conteúdo abordado e também com o objetivo de apresentar alguns aspetos sobre o pouco que sabemos da vida, da obra e dos ensinamentos deste Grande filósofo que foi Confúcio, o seu legado agrega muito valor a qualquer um que queira beber de sua fonte, pois foi uma das suas características, levar o conhecimento a todos, sem distinção, estabeleceu uma verdadeira fraternidade.
Contaremos um pouco sobre sua vida, seus ensinamentos, seus discípulos, como viveu e como morreu. O que sua filosofia de vida enfatizava na questão moral, política e social. A sua influência na sociedade em que viveu, seus interesses e ideias notáveis. Os valores que deixou tanto para sua época quanto para os dias de hoje, muito embora sabemos que tudo o que foi escrito sobre ele foi quase quatro séculos após a sua morte. Sabemos também, que quando vamos estudar estes grandes seres que agregam valor e sabedoria à história humana, muitos dos factos, dados históricos e como viveram fazem parte de lendas que se criam ao redor deles.

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Ubuntu: Eu Sou porque nós Somos

Manjula Nanavati 0 731

Um dos fundamentos de como conceituamos o nosso senso de identidade hoje, talvez tenha vindo da máxima mais famosa do filósofo do século XVII René Descartes, cogito ergo sum ou penso, logo existo. Levado a um extremo que o próprio Descartes pode nunca ter querido dizer, somos condicionados a priorizar o interesse próprio, aplaudir a busca da nossa própria felicidade e promover liberdades pessoais ditadas pela própria moralidade. Hoje pensamos na sociedade como composta por uma coleção de seres humanos autónomos, separados do ambiente e, de muitas maneiras, independentes da sociedade, onde apenas os mais aptos sobrevivem, levando à competição e ao conflito numa tentativa de alcançar o sucesso protegendo a mim e aos meus.

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Ética na Medicina

Antonio Alzina 0 821

O médico em exercício deve tomar decisões que possam influenciar a liberdade ou a vida humana. Deverá resolver problemas que não dependem apenas dos seus conhecimentos científicos, mas das suas crenças e convicções humanistas. A consciência dos nossos próprios limites, o respeito pela dignidade humana, a capacidade de se colocar no lugar do paciente, por exemplo, influenciarão claramente na assistência médica. Assim sensibilizado com o aspeto humano da doença, o médico pode compreender que está na presença de um ser completo que sofre e que precisa da ciência. Há uma ética geral e uma ética específica da medicina cujas origens se confundem. A história da ética médica é a história dos ideais profissionais e dos valores associados que influenciam a função do médico. Esses ideais éticos foram desenvolvidos e codificados em cada época pelos médicos mais renomados, e constituíram as normas que os praticantes impuseram a si mesmos. Desde o início da Humanidade, tem havido uma sobreposição entre religião e medicina. Não é de surpreender, então, que a ética religiosa tenha um lugar particular na deontologia médica. Da mesma forma, noutras épocas, os médicos descobriram a aplicação médica e social dos ideais ensinados por filósofos e pensadores: os pitagóricos, os estoicos e outros.

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Epicteto. O Escravo Filósofo que Sempre Foi Livre

Maria Kokolaki 0 1410

É muito provável que este não fosse o seu nome, mas um apelido já que, Epicteto, Επίκτητος, em grego significa adquirido. Era costume denominar os escravos com um apelido ignorando os seus nomes, mais uma maneira de desprezá-los. É o caso deste filósofo, que nasceu em Hierápolis, uma antiga cidade helenística que se encontra na atual Pamukkale, província de Denizli, Turquia.

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Os Peles Vermelhas no Cinema

Alfredo Aguilar 0 1226

O tratamento que o cinema deu aos chamados “Índios pele-vermelhas” – que agora se chamam de “nativos americanos” no discurso moderno e politicamente correto – evoluiu de uma visão depreciativa para uma mais respeitosa ou, dito de outra forma, passou de ser os “maus” para ser os “bons”. Isso coincide, embora não exatamente, com a atitude da população norte-americana em relação a este coletivo composto pelas diferentes tribos que povoavam o vasto território americano, uma vez que essa mudança aqui é relativa. Imagem: Chefe índio americano. Dominio Púlico.

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O Ser Humano como coisa

Henrique Cachetas 1 1917

Ver o Homem como coisa, como um pedaço de matéria animada, alterável, reprogramável, melhorável através do acrescento de peças ou da remoção e troca de partes, físicas ou psicológicas, é castrá-lo daquilo que realmente o faz humano: um ser com vontade, amor e inteligência, com um potencial infinito dentro de si, ainda por descobrir. Essa dimensão desconhecida, nas profundezas da sua subjectividade, esse mistério é aquilo que, tornado consciente, nos pode elevar desde sermos um pedaço de terra que olha o céu numa noite escura, até um pedaço céu que olha a terra para a iluminar.

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A honestidade, verdadeira beleza

Carmen Morales 0 1821

A falta de honestidade no ser humano é um problema não só individual, como também social. Uma pessoa honesta inspira confiança enquanto que o contrário gera insegurança, desconfiança e, inclusivamente, temor. As bases das relações humanas fundam-se na confiança mútua e quando esta falta, a sociedade desintegra-se porque sentimo-nos traídos.

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