Sobre as Vidas Gémeas
O objetivo destas linhas não é, de forma alguma, oferecer um estudo académico aprofundado sobre as almas gémeas, muito menos perder-se em intrincados meandros do ocultismo onde o mais fácil e provável é cometer ingénuos erros; não é sequer correto, talvez, falar de almas gémeas quando a verdadeira intenção é seguir os passos, profundos e inquietos, dos grandes homens que foram no mundo. Vale a pena falar, portanto, com verdadeiro entusiasmo e sem falsos preconceitos, de Corações Irmãos. No mundo antigo, especialmente no que nos diz respeito aos episódios de guerra, temos numerosos testemunhos disto. Homero, o filho predileto das Musas, conta-nos no último ano da Guerra de Troia, como em pleno combate e no auge da batalha, encontrarão-se, do lado grego, o líder Diomedes, e do lado troiano, Glauco. Estes dois guerreiros, unidos pela sagrada hospitalidade que revelaram os seus antepassados, vão trocar as suas armas em sinal de amizade, sem que o sangue derramado à sua volta numa furiosa oferenda à dor e à morte, seja um obstáculo que os impeça de estarem em harmonia, isto é, coração com coração. De bronze eram as armas de Diomedes, filho de Tideo, e forjadas em reluzente ouro tinham sido as de Glauco.
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