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Alfredo Aguilar

O Herói de Mil Faces. Primeira Parte

Alfredo Aguilar 0 612

Este é o título de uma obra publicada em 1949 pelo mitólogo, escritor e professor americano Joseph Campbell, onde analisa a partir da mitologia comparada a estrutura mitológica da jornada do herói arquetípico que podemos encontrar nos mitos de diferentes povos ao longo da história da humanidade. O professor Campbell constata que as narrativas mitológicas geralmente compartilham uma estrutura fundamental, o que ele chamará de monomito ou jornada do herói, que poderia ser resumida da seguinte forma: “O herói começa a sua aventura a partir do mundo conhecido, recebe o chamado à aventura que o leva a uma região de maravilhas sobrenaturais, ele enfrenta forças fabulosas num caminho de provações, onde evidentemente será testado e em algumas ocasiões receberá a ajuda de um aliado, e obtém uma vitória decisiva. Então o herói retorna da sua misteriosa aventura com a capacidade de conceder dons a seus irmãos.” Este processo tem fundamentalmente três etapas: a partida ou separação, que é quando o herói parte perante o chamado à aventura (ou à desventura conforme o caso); a iniciação, isto é, as aventuras que o testarão ao longo do caminho; e o regresso, a volta a casa e ao mundo quotidiano, transformado pela experiência.

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Um Método Perigoso

alfredo-aguilar 0 528

Este é um filme de 2011 que trata das complicadas relações pessoais entre Carl Jung, fundador da psicologia analítica, Sigmund Freud, fundador da psicanálise, e Sabine Spielrein, primeira paciente de Jung e depois ela mesma médica e uma das primeiras psicanalistas. É um drama de época, apresentado no período anterior à Primeira Guerra Mundial, começando em 1904, quando Sabine Spielrein é internada como paciente de Jung enquanto sofria um ataque psicótico. O filme, dirigido por David Cronenberg, foi realizado entre maio e julho de 2010 em Colónia, com exteriores em Viena. É protagonizado por Michael Fassbender, interpretando Jung; Viggo Mortensen, no papel de Freud; e Kiera Knightley como Sabine Spielrein. Devemos acrescentar Vincent Cassel no papel de Otto Gross, um anarquista psicanalista austríaco; e Sarah Gadon, atriz canadiana, como Emma, esposa de Jung.

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Edward Bernays ou a Gestão da Opinião Pública

Alfredo Aguilar 0 835

Hoje em dia estamos habituados, infelizmente, com a influência da publicidade nas nossas vidas oferecendo-nos produtos que nunca ouvimos falar, mas que são sem dúvida o que «esperamos” ou o que «queremos» e o que ainda não ouvimos, mas a publicidade se encarregará de nos informar para, imediatamente, irmos atrás deles e os adquirimos. Há também consultores de imagem que protegem os seus clientes, apresentando-os da melhor maneira possível e fazendo desaparecer qualquer coisa que possa manchar tal imagem. No caso das ideias, ou melhor, ideologias, sejam elas políticas ou religiosas, estaríamos falando de propaganda, embora o termo não seja usado hoje pela má imprensa e para diferenciá-la da publicidade, que se refere a produtos físicos, embora há algum tempo muitas empresas tenham começado a chamar «produtos» aos seus serviços, mas isso é apenas um dos muitos exemplos do esvaziamento conceitual tão comum nos nossos dias.

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A Lenda De Bagger Vance

Alfredo Aguilar 0 435

Este filme de 2000 é a adaptação do romance homónimo de Steven Pressfield, e foi o primeiro sucesso do autor, em 1995, ao qual se seguiu a sua obra mais popular, “Portas de Fogo”, em 1998, razão pela qual muitos de nós o conhecemos. Em “A lenda de Bagger Vance”, Pressfield quis transferir para o mundo do golfe o modelo de ensino do Bhagavad Gita – uma obra mística da Índia -, que o impressionou muito e a que se refere com frequência nas suas reflexões pessoais, especialmente nos seus últimos trabalhos.

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De Crise em Crise

Alfredo Aguilar 0 360

A atual geração tem vivido desde 2007 uma transformação após outra. Primeiro a grande recessão de 2008 com uma grande crise imobiliária e financeira, depois o grande confinamento de 2020, quando o mundo literalmente parou, e desde fevereiro de 2022 a guerra da Ucrânia após a invasão russa. É, sem dúvida e também inegável, que a aceleração dos tempos – que alguns veem como positiva, talvez deslumbrados com o auge da tecnologia – esteja a quebrar todos os laços que mantêm unida a nossa civilização e o seu modo de vida. Isto acabou com muitas das nossas certezas, inúmeras coisas que antes dávamos como garantidas e que já não existem ou deixaram de existir.

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Além da Vida

Alfredo Aguilar 0 490

Este é um filme de 2010 que narra três histórias em paralelo relacionadas de alguma maneira com o além. O primeiro caso é o de um homem com o dom de comunicar com os mortos através do contacto físico com uma pessoa próxima do falecido; o segundo é o de uma mulher que sobrevive a uma experiência de quase-morte durante um tsunami e o terceiro o de um menino que perde o seu irmão gémeo num acidente de trânsito e tem uma necessidade urgente de comunicar com ele. A primeira vez que vi este filme, na televisão, já tinha começado e eu não sabia do que tratava o enredo, mas, como um bom cinéfilo, quando reconheci alguns actores disse “vamos ver”. No primeiro dos três casos, o homem com dotes mediúnicos é interpretado por Matt Damon, e a acção decorre em São Francisco, nos Estados Unidos. Por sua vez, a mulher que sobrevive ao tsunami é francesa, trabalha para a televisão e estava numa missão na zona do Oceano Índico, interpretada aqui pela actriz belga Cécile de France. Entretanto, a história relacionada com os meninos gémeos, interpretados pelos irmãos gémeos Frankie e George McLaren, passa-se em Londres.

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Terra Queimada

Alfredo Aguilar 0 498

A política de terra queimada tem sido utilizada em inumeráveis ocasiões ao longo da história como medida defensiva perante um exército invasor ou, em seu lugar, também por uma força invasora como castigo ao grupo derrotado. A ideia pressupõe queimar ou destruir todos os recursos que pudesse utilizar o inimigo para se alimentar e abastecer, além de envenenar os poços de água e impedi-lo de sobreviver. Todas estas acções de carácter bárbaro aconteceram em tempos de guerra e até um terrível conquistador se vangloriava que a erva não voltaria a crescer por onde ele passava.

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A Música de John Williams

Alfredo Aguilar 0 628

Nos primeiros meses de 2020, John Williams dirigiu um concerto com a sua própria música em Viena, com a Orquestra Filarmónica da cidade, onde teve como solista convidada a violinista Anne-Sophia Mutter. Àquela data, Williams tinha 88 anos recém cumpridos, um mérito acrescido, a meu ver, dado o esforço que representa dirigir um concerto em qualquer idade. Aquele concerto, que me apressei a gravar, teve para mim um acrescido prazer visual por ser pré-pandemia, quer dizer que o teatro estava completamente cheio e ninguém necessitava ainda das omnipresentes máscaras (tapa bocas ou cobre bocas noutros países) de que ainda não podemos prescindir em 2022, quando escrevo.

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O Concerto

Alfredo Aguilar 0 507

“O Concerto” é um filme de 2009 dirigido por Radu Mihaileanu, um realizador romeno radicado em França. Nele nos apresenta em tom de comédia, dramática e emotiva, pequenas e grandes tragédias humanas com o mundo da música clássica como pano de fundo. A história gira em torno de um célebre maestro da Orquestra Bolshoi de Moscovo que caiu em desgraça, juntamente com toda a sua orquestra, por se recusar a fazer parte de uma purga de músicos judeus no final dos anos 70.

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Hidalgo ou a Grande Corrida do Deserto

Alfredo Aguilar 0 1988

Hidalgo é o título original de um filme – que em Espanha chamaram de Oceanos de Fogo, talvez para evitar confundi-lo com outro filme sobre o famoso padre Hidalgo da história do México – mas também é o nome de um cavalo de raça mustang que ganhou muitas corridas de longa distância, no final do século XIX, montando por Frank T. Hopkins. Este lendário cavaleiro, pelos padrões do oeste americano, não apenas venceu corridas de 800 quilómetros ou mais, mas fê-lo com um cavalo mestiço em vez de com um puro-sangue, ou cavalo de raça, como a maioria dos corredores tinha feito. Imagem: Hidalgo

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A Música em “Casablanca”

Alfredo Aguilar 0 1050

Numa manhã de sábado, enquanto eu assistia e ouvia um concerto na televisão, uma das músicas chamou a minha atenção. Tratava-se da suite “Casablanca” de Max Steiner, que fazia parte de um programa de temas norte-americanos, ou sobre a América do Norte, como a “Rapsódia Azul” de Gershwin ou o Quarto Movimento da “Sinfonia do Novo Mundo”, de Dvorak, entre outros. Esta suite chamou a minha atenção porque é, em essência, a música que identifica aquele filme, englobando os diferentes momentos pelos quais passa o seu enredo, desde os de maior tensão aos mais íntimos ou românticos. Como é o caso da Marselhesa, que todos já identificamos com “Casablanca”. Imagem: O músico Dooley Wilson e o ator Humphrey Bogart em “Casablanca”. Domínio Público

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Akira Kurosawa e os seus Filmes Universais

Alfredo Aguilar 0 964

Akira Kurosawa (1910-1998) é o cineasta japonês mais conhecido do mundo, não só pelo seu grande talento, mas também por ser o mais ocidental dos realizadores japoneses. Ou seja, os seus filmes podem ser compreendidos em praticamente qualquer país e por um público capaz de compreender, através dele e da sua obra, as virtudes do cinema e da cultura japonesas. Imagem: Monte Fuji, Japão. Pixabay

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Joana d’Arc

Alfredo Aguilar 1 1196

Nos anos de juventude muitos temos uma etapa que eu chamaria épica, na qual há um desejo de viver aventuras que apenas alguns conseguem realmente. Os que não conseguem, buscam-nas em outras formas: por um lado, ao assumir riscos desnecessários que vão desde a ingestão de álcool em grandes quantidades até à condução de uma forma imprudente sem necessidade de fazê-lo, o que supõe uma autêntica deformação do espírito de aventura e uma busca de riscos irracionais sem razão de ser; a outra vertente tem a ver com o conceito de Homem “espectador” surgido no século XX, como consequência, primeiro, de habituar-se a ver a vida em filmes, depois na televisão e que termina talvez, a sua culminação, com a era da internet. Imagem: Jeanne d’Arc, Jules Bastien-Lepage. Public Domain

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Os Peles Vermelhas no Cinema

Alfredo Aguilar 0 1007

O tratamento que o cinema deu aos chamados “Índios pele-vermelhas” – que agora se chamam de “nativos americanos” no discurso moderno e politicamente correto – evoluiu de uma visão depreciativa para uma mais respeitosa ou, dito de outra forma, passou de ser os “maus” para ser os “bons”. Isso coincide, embora não exatamente, com a atitude da população norte-americana em relação a este coletivo composto pelas diferentes tribos que povoavam o vasto território americano, uma vez que essa mudança aqui é relativa. Imagem: Chefe índio americano. Dominio Púlico.

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“JFK: Caso Aberto” e a Queda de um Mito

Alfredo Aguilar 0 754

Ao terminar o filme, enquanto passava no ecrã o elenco que muito pouca gente lê, incluindo eu, notei que muitas pessoas estavam de pé parecendo em transe olhando a passagem do elenco sem o ver, claramente impactados pelo que acabavam de ver, como se este filme tivesse destruído a imagem idílica de um País que tinham como modelo de sociedade avançada e no qual lhes encantaria viver um dia.

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