Por volta do ano 563 a.C., segundo os escritos de Asoka, as crónicas chinesas e as crónicas cingalesas (Dipavamsa e Mahavamsa), nasceu no norte da Índia, no pequeno reino dos Sakya, um príncipe a quem chamaram Siddhartha Gautama. Um dia saiu do seu palácio com a intenção de ver o seu povo, e viu-o contente e feliz. Mas, de repente, encontrou sucessivamente a velhice, a doença e a morte. A Teoria do Impacto, que provoca uma ativação da consciência, fez-se realidade para o Príncipe Siddhartha, que a partir desse momento decidiu recluir-se no seu palácio. Percorreu a grande velocidade a primeira etapa do Despertar, pela qual mais cedo ou mais tarde todos os humanos temos de passar. Sentiu curiosidade em ver os velhos, os doentes e a morte, e aproximou-se para conversar com os seres humanos, vítimas do sofrimento, através de Channa, o seu cocheiro. Esta aproximação, provocada pela atração, permitiu-lhe entrar em contacto com a dor que os seres padecem, e o foi tanto o seu interesse que se propôs dedicar a sua vida a encontrar o remédio para aliviar essa dor. Decidiu seguir o dharma da casta a que pertencia, uma vez que a palavra «Kshatriya» significa «aquele que alivia a dor dos outros».

Sermão no Parque dos Veados de Sarnath. Creative Commons

O príncipe abandonou o seu palácio para não voltar e entrou em cheio na segunda etapa da Transformação. Em busca de instrução escutou as palavras de instrutores como Alara Kalama e Uddaka Ramaputta. Em pouco tempo seguiu o seu caminho de ascetismo e meditação, para entrar numa fase de formação onde praticou os ensinamentos até então recebidos. Trabalhou a concentração para controlar o desejo e o pensamento, e alcançar a serenidade. Este processo culminou no desenvolvimento de uma consciência plena e pura. Chegado a este ponto, contam-nos que Siddhartha interiorizou os ensinamentos, e pôde integrar, em primeiro lugar, a memória de vidas passadas; logo, o conhecimento completo do karma; e, por último, a compreensão do sofrimento e das Quatro Nobres Verdades. Na terceira etapa da Transmutação, Siddhartha Gautama alcançou a converter-se em um Buda, um «Iluminado». Segundo a tradição, tal como o seu nascimento, isto ocorreu na primeira noite de Lua Cheia de Vesakha, no mês de maio. Para começar a percorrer este longo caminho de realização, bastou-lhe um primeiro contacto com a velhice, a doença e a morte. A velhice, a doença e a morte viajam connosco, fazem parte do caminho da realização. Tens medo? O que nos dá medo, geralmente esconde grandes segredos. E os grandes segredos, quando descobertos, fazem-nos crescer as asas da consciência. Não tenhas medo de voar, enquanto seja na direção correta, sempre para cima e sempre para a frente. E voa o mais alto que puderes.

Carlos Adelantado Publicado na Biblioteca Nueva Acrópolis em 15-07-2024

Imagem de destaque: O Deus Mara, tentando perturbar o Siddhartha Gautama pouco antes do seu despertar. Creative Commons