Os animais estiveram sempre ao nosso lado. Nos primórdios da nossa humanidade, eles desempenharam um papel importante na sobrevivência da nossa espécie. Graças a esta coabitação ensinaram-nos a seguir o instinto para ultrapassar as adversidades do meio ambiente. Os homens seguiam as manadas e com elas deslocavam-se para alcançar novos territórios mais férteis e acolhedores. Eles proporcionaram-nos não só o alimento como também foram os nossos mestres na arte da caça; graças ao seu instinto infalível para antecipar mudanças de tempo ou calamidades naturais ensinaram-nos a precaver-nos de perigos e a criar abrigos.

Nas cavernas da pré-história podemos admirar a relação mágica que unia os nossos antepassados aos seus animais protectores. Com alguns traços, os artistas da arte parietal reproduziam toda a beleza dos seus movimentos e ainda hoje sentimos a vida palpitar nos santuários da terra mãe. No silêncio das profundezas das grutas ouve-se o eco das suas lutas e o sopro quente dos bisontes aquece as húmidas paredes do seu esconderijo. Os chamanes da pré-história invocavam a protecção animal para pactuar com a Natureza. Revestiam-se das suas peles, adornavam os seus corpos com dentes, chifres ou ossos, imitavam os seus traços e expressões nas suas pinturas faciais para assustar o inimigo, realizavam ritos de simulação ou magia simpática para se aproximar do seu poder, da sua força, astúcia e agilidade.

As penas das águias, do condor ou colibri enfeitavam os seus corpos e toucados nas suas danças rituais; imitavam o movimento das asas para voar com a sua imaginação.

A memória dos animais orientou os homens na sua busca de melhores condições de vida. Com eles realizaram grandes migrações e foram desafiando o desconhecido. Os nossos antepassados viviam muito perto da Natureza e sabiam ler o grande livro da vida. Eles conseguiam interpretar o voo dos pássaros e captavam sinais de alterações nas suas entranhas. À medida que foram domesticados, os animais contribuíram para o trabalho dos homens, ora como meio de transporte, ora para a agricultura. Os lobos e os felinos transformaram-se em cães e gatos, tornando-se guardas de lugares sagrados. No antigo Egipto o cão (chacal) Anubis e o gato Bastek alcançaram o título de deuses protectores dos templos e chegaram a ser mumificados. Na Índia o elefante tornou-se símbolo da sabedoria pela sua memória e bondade; diz-se deste animal de grande porte e comedor de frutos, que os seus excrementos largados ao longo do caminho, transportam sementes de futuras árvores e fecundam a terra; por onde passa o elefante brota uma vida nova. A serpente também foi venerada como símbolo de renovação e de poder sobre a morte. Muitos templos foram adornados com a sua representação; guardiãs dos tesouros espirituais deram o nome de Nagas ou serpentes aos grandes iniciados da Índia. Um insecto como o escaravelho tornou-se no Egipto o símbolo do coração que se abre à luz do espírito. A andorinha, símbolo da alma que nunca se esquece de voltar à sua terra celestial. As abelhas deram-nos o mel que permitiu a confecção do elixir dos deuses ou Ambrósia na Grécia Antiga. Mel que ainda hoje é o alimento base para muitos povos que vivem dos recursos da natureza selvagem: o zumbido das abelhas na colmeia serviu de inspiração para os sons litúrgicos que os homens faziam soar no leito dos defuntos com o fim de ajudar a unificar a sua consciência com a alma do mundo. Este som hoje é um mantra poderoso para alterar o nível de consciência.

Gato Egípcio, Museu Gulbenkian / wikimedia

Também aprendemos a arte da tecelagem com as habilidosas aranhas e a seda é produzida pelo bicho que deu nome a esta fabulosa fibra. A lã é-nos fornecida pelas ovelhas e dos moluscos extraímos a tinta que serve para tingir as peças do nosso vestuário. Muitos dos remédios populares vêm-nos dos animais como o sangue seco de macaco, o pó de chifre de veado, os ninhos de andorinhas, o uso de venenos como o do escorpião, de serpentes ou até das abelhas para cicatrizar feridas ou para o uso de formas de acupunctura, as sanguessugas para descongestionar obstruções da circulação sanguínea e que fizeram parte da antiga tradição da medicina natural.

São infinitos os recursos que os animais nos concederam durante séculos. Fizeram parte da nossa educação quando, através de fábulas, deram vida aos nossos defeitos e virtudes. O antigo texto hindu “Pacha Tantra” é uma recompilação de histórias da época clássica (séc. II a.C.) que utiliza animais como protagonistas; Esopo (620 a.C.) é um célebre fabulista grego que imortalizou os animais dando-lhes o rosto das nossas paixões. Com narrativas curtas, simples e humorísticas educou o povo. Escutemos uma das suas fábulas:

A videira e a cabra

Uma cabra que era perseguida pelos caçadores refugiou-se numa vinha e ali ficou escondida atrás das videiras. Quando lhe pareceu que o perigo tinha passado levantou-se e começou a comer as folhas da videira. Contudo, os caçadores não andavam longe e ouvindo o sussurro das folhas, voltaram à vinha, encontraram a cabra e mataram-na. Ela mereceu o castigo, porque prejudicou quem a tinha protegido.

Moral da história:

Muitos procuram refugio junto dos amigos quando estão aflitos, mas depois são ingratos com eles.

Syrischer Maler em 1354: Kalîla e Dimma von Bidpai / wikimedia

La Fontaine, o famoso fabulista francês do século XVII exprime o bom senso popular nas suas histórias. A sua obra iniciou milhares de jovens e adultos na compreensão de uma moral natural. La Fontaine dizia: “O homem é de gelo para as verdades e de fogo para as mentiras”, por isso a moral das fábulas é uma prevenção contra os desvios dos homens.

Com o tempo, e à medida que o homem foi desenvolvendo tecnologia que o emancipou da dependência directa do animal, descobrimos outros benefícios da domesticação: A ligação afectiva do homem com o animal de estimação revelou-se um dos melhores contributos para a nossa civilização. Ao aproximar-se do estudo da natureza, a ciência pode constatar que, para além dos seus instintos, os animais possuem dons de sentir à distância, como se fosse precognição. A ciência fala-nos dos campos mórficos que regem toda a natureza e que estão por detrás das formas como uma rede inteligente que intercomunica com o mundo físico. Os antigos chamavam a esses campos o Anima Mundi ou Alma do Mundo, que representa a grande matriz astral da Natureza. Se os animais são seres animados que sentem, sofrem, antecipam e se ajustam às mudanças do seu meio ambiente, é lógico pensar que, através deles, podemos interpretar os vários sinais que eles captam nessa dimensão superior. A magia antiga dedicava-se a relacionar essas várias dimensões da vida, a fim de poder agir em concordância com as leis da Natureza.

Mapa astronómico de Monoceros, Canis Minor e da constelação obsoleta do Atelier Topográfico, Sidney Hall / wikimedia

No século do racionalismo (XVII) Descartes anunciava que os animais eram máquinas sem alma, mas hoje a ciência animal confirma novamente que cada espécie é movida por uma consciência grupal e constatou os seguintes aspectos:

  • O animal tem consciência daquilo que o rodeia, do ambiente em que vive ou onde se encontra.

  • Tem consciência do que lhe acontece.

  • Tem consciência das emoções que sente.

  • Tem capacidade de aprender com as experiências que vive.

  • Tem consciência das sensações do seu corpo, tais como a dor, a fome, o calor e o frio.

  • Tem consciência das suas relações com os outros animais e com o homem.

Em resumo, os animais são sensíveis ao seu meio envolvente e respondem por afinidade, não possuem razão própria mas são capazes de seguir as suas emoções. Quando se ligam ao homem, adaptam-se e usufruem do contágio com a sua vida mental; são como crianças que vivem à sombra dos pais. Para eles somos como deuses que iluminam e orientam o seu caminho.

 

Exemplos de capacidades dos animais

O comportamento altruísta existe nos animais: muitas mães sacrificam-se para salvar os seus filhos; também há animais que põem a sua vida em risco ou mesmo se sacrificam para salvar humanos ou se deixam morrer no túmulo dos seus amos.

Existem abutres que largam pedras sobre os ovos de avestruz, podendo assim alimentar-se.

Os pássaros migratórios seguem os campos magnéticos da Terra, outros anunciam tremores de terra, erupções vulcânicas e cheias; um observador do Mali dizia que bastava observar os ninhos dos pássaros nas margens do rio Níger para saber o tempo que iria fazer, pois os ninhos altos anunciam cheias e muito baixos são sinal de grande calor.

Os cientistas criaram um detector de tempestades no mar graças à observação de sinais emitidos pelas medusas quando vai ocorrer uma mudança brusca de tempo.

O mocho possui um olfacto que capta o processo bioquímico e necrobiótico que antecipa a morte; os seus gritos são sempre sinal de uma morte que acontece na sua proximidade.

Sem nunca ter estudado a resistência dos materiais de construção, as térmitas com os seus corredores, galerias e pilares podem elaborar estruturas de mais de 4 metros de altura.

Os alvéolos de uma colmeia têm a forma de decaedro e acabam na sua ponta por um tetraedro, ou seja, as abelhas, sem qualquer instrumento de medição, realizam o ângulo perfeito de um prisma hexagonal de 109,18º.

Os corvos da Líbia quando têm necessidade de beber e o seu bico não alcança o nível da água, deitam pedras na cavidade para fazer subir o nível da água.

Um exemplo muito publicitado de comunicação com os animais é o caso de Emile Plocq (1873-1937), relojoeiro de profissão, que nutria um amor e um interesse por muitas espécies de animais, em particular pelos pássaros: conseguiu domesticar andorinhas que o seguiam por todo o lado, e também peixes, serpentes, lebres, martas, lagartos, com quem comunicava de forma telepática.

Quando saía de bicicleta, a vizinhança dizia que estava sempre acompanhado de vários pássaros que voavam no seu rato. Mesmo quando morreu, muitos dos acompanhantes presentes no seu funeral foram os seus animais de estimação.

Terapia assistida com animais

Hoje é sabido que os animais podem ajudar em tratamentos de problemas físicos e psicológicos: Cães, gatos, cavalos, póneis, golfinhos, peixes, ovelhas, etc., são os protagonistas de uma nova área de ciência médica e veterinária – a zooterapia, que pode revelar-se útil em doenças como alzheimer, esclerose múltipla, trombose, etc. Já estão a ser avaliados os múltiplos benefícios da colaboração de animais: Estão a ser treinados cães para auxílio na fisioterapia para idosos com resultados muito satisfatórios, por exemplo para os motivar a movimentar-se jogando com o seu companheiro canino. Os animais têm também contribuído, graças ao seu afecto e capacidade de sentir à distância, para detectar pessoas desaparecidas ou presas sob os escombros em casos de sismos ou desabamentos de terras. Foi ainda testado o olfacto dos cães para alertar o seu dono em caso de crise de diabetes ou de esquizofrenia, já que ele capta os sinais que antecedem a manifestação da doença. Os cães e os gatos constituem um remédio anti-stress e ajudam a restabelecer a pulsação cardíaca pelo simples gesto de os acariciar. Os cães-guia permitem melhorar a qualidade de vida dos invisuais, e cada vez mais são os companheiros seguros para tudo: Para aqueles que sofrem de solidão, de situações traumáticas, de depressão e para muitos outros casos de alterações emocionais na infância.

Em muitos países da América do Norte e do Sul, bem como na Europa, um trabalho importante está a ser realizado pela TAA (terapia assistida com animais). Reabilitando o conceito de que o animal é um amigo do Homem, ele deve ser tratado com respeito e carinho para o sucesso do tratamento. Dennis Turner, professor de veterinária na Universidade de Zurique, chega mesmo a dizer que “os animais são a cura do século XXI”, porque sabemos que eles oferecem o seu amor e dedicação de forma incondicional e aceitam as pessoas tal como são.

Criança num cavalo / hoybebes

Alguns exemplos de terapias assistidas com animais:

A equinoterapia é um método terapêutico que utiliza o cavalo para os casos de paralisia cerebral, autismo, hiperactividade, depressão infantil e deficiências motoras: os movimentos do corpo do cavalo mexem com as articulações e melhoram a coordenação e o equilíbrio do deficiente.

Em França foi criado para bebés e crianças dos dezasseis meses aos dois anos e meio o clube dos “Baby Poneys” que tem por missão ajudar a estabilizar e fazer crescer os bebés, graças ao contacto com os póneis, que ficam a cargo de cada criança para os escovar e acariciar antes de os montar. Os jogos realizados com eles desenvolvem nessas crianças o autodomínio (em cima do pónei adquirem uma postura de afirmação), facilitam o seu desenvolvimento sensorial e afectivo (através do contacto, respeito e amor ao animal), ajudam a controlar melhor os reflexos e o stress, treinam a obediência e a disciplina, evitando assim os impulsos e reacções bruscas.

Foram reconhecidos os mesmos benefícios com a terapia assistida por golfinhos, pois eles ajudam a criança a comunicar, sobretudo em caso de traumas psicológicos; podem assim libertar-se das tensões e dos medos, mantendo uma relação de cumplicidade com o golfinho, que por sua vez ajuda a criança a restabelecer o seu equilíbrio psico-somático.

Seriam inúmeros os exemplos que poderíamos citar no domínio da zooterapia e é certo que estamos face a uma nova forma de educar e interagir com a Natureza. Hoje abre-se um caminho novo de compreensão e de utilização dos recursos naturais para melhorar o mundo e servir a vida sem ferir ou prejudicar o nosso planeta. Ainda há um longo caminho a percorrer, mas a evolução da nossa humanidade faz-se passo-a-passo. Se conseguir-mos desenvolver a união entre a inteligência e o amor, a ciência da Natureza e a sabedoria da vida, estaremos mais perto de recriar um novo paraíso na Terra; os nossos voluntários de quatro patas, de barbatanas ou de asas estão connosco nesta imperiosa mudança para a Nova Era, e com eles aprenderemos com certeza a tornarmo-nos mais humanos.