A Nova Acrópole propõe uma grande mudança social e humana. A grande mudança que propõe será conseguida através da educação. Essa é a revolução silenciosa e pacífica que já está a acontecer.

Nos tempos que correm, é possível que grandes mudanças comecem a produzir-se cada vez mais rápido. Fazer este tipo de previsões é difícil, mas em todo o caso é bom não misturar o que é previsão com o que é o nosso desejo. Podemos desejar algumas dessas mudanças, mas temos que ter cuidado com aquilo que desejamos.

Quanto mais rápidas e drásticas forem as mudanças que acontecerem no mundo, mais pessoas vão sofrer os seus efeitos. Se a mudança for mais lenta, arrasta-se o estado de coisas atual, mas haverá uma menor probabilidade de sofrimento excessivo. O que acontece com as guerras e as revoluções são tentativas de mudança muito bruscas, e algumas delas podem, a longo prazo, ser geradoras de efeitos positivos. Mas durante as guerras e revoluções, enquanto duram, o que acontece é, geralmente, uma grande quantidade de sofrimento e sangue derramado. O mesmo acontece com as mudanças impulsionadas pelas grandes catástrofes naturais, nas quais a natureza nos obriga a uma rápida adaptação e nos ensina lições que de outro modo nunca compreenderíamos.

O caminho alternativo, apesar de mais lento, é o da Educação de um conjunto suficiente de pessoas para que se torne possível uma transformação de fundo dos paradigmas vigentes.

A mudança desde o interior humano

“A verdadeira mudança, então, não vai começar
fora do indivíduo, mas dentro dele mesmo,
e isto só se pode conseguir através da educação.”
Jorge Ángel Livraga

A mudança mais importante que podemos produzir é no interior de cada ser humano. É muito difícil que se produza essa mudança a ler um livro ou a assistir a uma conferência. A mudança acontece ao longo da vida com um trabalho continuado e através do desenvolvimento de uma vida interior que leve ao despertar da consciência. Para esse trabalho a Nova Acrópole reúne um conjunto de ferramentas com as quais podermos facilitar essas transformações de forma eficaz, segura e pacífica.

Uma das mais nítidas mensagens do Professor Jorge Angel Livraga, fundador da Nova Acrópole, é a de que a mudança mais segura para a humanidade deve começar a partir do indivíduo. Se alterarmos primeiro os sistemas sociais, económicos ou políticos, a mudança do indivíduo que se seguir vai ser o resultado de um encaixe de cada um aos moldes pré-estabelecidos pelos sistemas, condicionando e coagindo as consciências.

Começar pelo indivíduo significa trabalhar para melhorar a índole das pessoas e a sua maneira de pensar, ensinar a refletir de forma profunda e inteligente, a discernir os melhores valores e a viver princípios éticos mais elevados; significa inspirar as pessoas a participar em ações positivas, em projetos e iniciativas desinteressadas, num caminho altruísta que produza uma alquimia interior de harmonização entre o mundo ético espiritual e o mundo das nossas ações quotidianas. Conseguido isto, o sistema externo poderá então ser transformado num modelo social mais harmónico, mais justo e facilitador da liberdade e evolução humanas.

Para se produzir esta mudança genuína necessitamos, mais do que meios materiais ou tecnológicos, de pessoas genuínas e generosas. Generosidade vem de gerar, e gerando passamos a ter para dar. Quanto mais temos, mais podemos dar. E, a nível espiritual e humano, quanto mais damos, mais temos. Portanto, é um dever daquele que quer participar numa transformação positiva no mundo, gerar dentro de si as ferramentas e os saberes necessários ao seu tão necessário contributo. Essas ferramentas e saberes crescem na proporção direta do seu uso e da sua comunicação aos outros.

Daí que a Nova Acrópole seja uma organização onde as pessoas podem dar, participando em projetos humanistas que melhoram a sociedade. Mas é também um local onde podemos melhorar-nos a nós próprios, crescer, desenvolvermos internamente, a nível emocional, mental, espiritual, de modo a estarmos cada vez mais preparados para uma ação positiva no mundo.

O método para a transformação

“O acto de educar não implica ‘dar algo novo’,
mas vivificar essa semente que se encontra
no discípulo em estado latente.”
Jorge Ángel Livraga

As ações educativas da Nova Acrópole acontecem em três vertentes diferentes, nomeadamente através da Filosofia, da Cultura e do Voluntariado.

A filosofia diz respeito à busca de sabedoria e, portanto, ao despertar interior de cada ser humano. Para este trabalho contamos neste momento com milhares de instrutores voluntários, em mais de 500 cidades do mundo, que, tendo já percorrido um certo percurso filosófico e dando provas do seu avanço ao nível do trabalho interior necessário, se colocam ao serviço de novos aspirantes à sabedoria para os auxiliarem no seu próprio percurso. É um voluntariado subtil, metafísico, que nos leva ao encontro das causas e motores profundos da mudança, a uma mudança mais permanente e eficaz, que não apenas nos torna diferentes, mas sobretudo melhores.

As iniciativas culturais servem de veículo para a introdução de novas ideias na sociedade, para a promoção de valores humanos intemporais e para a transformação das mentalidades consumistas e materialistas em consciências mais espirituais e humanas, de relação harmónica com tudo o que nos rodeia. Os membros da Nova Acrópole propõem-se dar conferências, escrever artigos, publicar livros e revistas, interpretar o património histórico dos seus respetivos países, organizar círculos de estudos de temas filosóficos, espirituais, científicos ou artísticos, entre muitas outras iniciativas. A cultura alimenta a busca filosófica, ou seja, tem invariavelmente, como motivo e finalidade, o enriquecimento humano e a promoção do amor pela sabedoria.

O voluntariado é a expressão do espírito de compromisso com a sociedade e a harmonia da natureza, gerando um campo de aplicação dos valores humanistas e ecológicos, fortalecendo esses mesmos valores no interior das pessoas. Projetos de voluntariado social, ambiental e cultural criam linhas de ação no mundo que são o exemplo concreto e visível de uma forma de vida comprometida com as melhores aspirações da humanidade, vivendo na prática os ideais da fraternidade universal. O voluntariado é aqui entendido não só como uma colaboração para a mudança social – atenuando o sofrimento humano, descontaminando a natureza ou promovendo valores humanos –, mas também como a concretização das aprendizagens filosóficas e culturais dos intervenientes, pois a aplicação daquilo que se aprende e a aprendizagem através da prática fazem parte do processo mais completo para o crescimento humano.

O método utilizado na Escola de Filosofia da Nova Acrópole está inspirado nas disciplinas deixadas pelos grandes Mestres da humanidade, nos seus ensinamentos intemporais, nos conhecimentos profundos revelados acerca da natureza humana e das leis universais. A humanidade tem um legado de sabedoria, um tesouro deixado pelas várias civilizações que nos precederam, que constituem uma experiência acumulada à qual deveríamos prestar a nossa melhor atenção. Não se trata se aprendermos de memória uma grande quantidade de informação, mas de nos formarmos com os melhores ensinamentos, que melhor estejam em conformidade com a natureza de cada um e com o grau de despertar da sua consciência.

É necessário reconhecer a diferença entre informação, formação e transformação, se é que desejamos trabalhar com a sabedoria universal para produzir mudanças positivas. São três graus de aproximação à sabedoria, surgida apenas como última etapa de um longo processo.

Voluntários da Nova Acrópole durante uma ação ecológica na limpeza de um rio

A Informação

“Educar é fazer que cada indivíduo veja,
dentro do ambiente em que se desenvolve e nele mesmo,
o melhor, o mais autêntico e natural.”
Jorge Ángel Livraga

No mundo em que vivemos estamos submersos numa quantidade enorme de informação e temos acesso, através dos canais digitais, à maior quantidade de conhecimentos jamais acessível sem sairmos de casa. No entanto, o uso que damos a essa informação é extremamente reduzido, pelo menos no que diz respeito a uma real progressão da nossa consciência, pois só nos é útil aquele conhecimento que nos torna melhores a nós ou ao mundo. Se a informação serve apenas para nos convencer a comprar determinados produtos, para nos condicionar as opiniões, para nos levar a determinadas escolhas políticas, então a informação é mais parecida com um agente de encarceramento da consciência do que um facilitador do despertar interior.

O livre acesso à informação está intimamente ligado à liberdade de expressão das democracias modernas. A censura, como elemento típico de muitas ditaduras, deixou uma dolorosa marca nas mentes dos livres-pensadores, principalmente naqueles que desejavam lutar contra o sistema político instituído. É um medo inconsciente, de perda ou redução da nossa liberdade individual, aquele que nos impede de ver com maior claridade o quão nefasto é para as nossas mentes estarmos sujeitos a tão elevada quantidade de informação e de opiniões contrárias.

Todas as coisas supostamente boas, levadas ao seu extremo, podem tornar-se perniciosas. Em nome da liberdade de opinião política, o acto de governar torna-se uma luta constante entre partidos opostos, alimentada por intermináveis debates que mais procuram a imposição da sua visão parcial do que a vitória da verdade e da justiça; em nome dos ideais de sociedade aberta e livre, permitem-se e fomentam-se todo o tipo de alteração dos costumes, mesmo aqueles que garantiam uma certa estrutura harmónica dessas sociedades; em nome da globalização, permite-se que o modo de vida e a mentalidade ocidentalizantes se vão infiltrando em todas as culturas do mundo, promovendo a estrutura mental profícua à expansão do capitalismo e do consumismo descontrolado; com directa relação, em nome da inovação e do crescimento económico, permite-se o livre mercado e circulação de bens, ainda que isso tenha como resultado a dizimação quase completa do que eram os saberes e ofícios tradicionais que garantiam a diversidade e a identidade própria aos diferentes povos da Terra.

Torna-se cada vez mais evidente o caminho que a total liberdade de circulação da informação está a tomar, com a explosão de notícias falsas e da já imperante pós-verdade, característica da nossa era, atordoando até o mais sensato e atento dos analistas. Como num pêndulo, chegará o momento em que se levantarão de novo as vozes que indicarão a necessidade de um maior critério e de uma moderação pedagógica da informação que circula. Se compreendermos que tanto se controla a sociedade pela limitação como pelo excesso de informação disponível, talvez se volte a equacionar os benefícios espirituais da moderação dos meios de comunicação, em contraposição ao adormecimento espiritual generalizado causado pela informação fabricada intencionalmente para esse efeito.

Enquanto isso não se generalizar nos sistemas sociopolíticos do mundo, teremos que formar a maior quantidade de pessoas para a necessidade de manter, ao nível individual, um filtro apertado em relação à quantidade e qualidade da informação que consumimos. Os meios digitais de comunicação submergiram-nos num mar de lodo informativo, do qual se torna extremamente difícil recolher as pérolas do conhecimento verdadeiro e os elementos construtivos para a nossa aprendizagem. Daí que seja necessário um método formativo para nos auxiliar na navegação através do oceano da sabedoria.

Visita guiada ao simbolismo alquímico do Bom Jesus do Monte

A Formação

“Uma coisa é ser ideólogo e outra, muito diferente,
é ser idealista. O primeiro tem ideias; o segundo,
além de as ter, vive-as e ensina a vivê-las.”

Jorge Ángel Livraga

É cada vez mais nítido que necessitamos de uma redução acentuada da quantidade de informação a que estamos sujeitos, se queremos produzir na mente um estado mais adequado a uma aprendizagem harmónica e profunda, a única capaz de nos tornar verdadeiramente livres. A aplicação de um critério àquilo que aprendemos é o início da passagem da Informação para a Formação.

A quantidade de informação deve ser minorada – através de um critério que determine a sua pertinência e veracidade – de modo a criarmos um ajuste entre a informação recebida e a nossa capacidade de assimilação. Ambos os critérios – a pertinência e a veracidade – são muito importantes para este processo. Uma vez que a nossa consciência se alimenta de conhecimentos verdadeiros, devemos procurar as fontes mais sábias e seguras que temos disponíveis, conhecendo a sua qualidade pelos resultados que geram. Como afirmou o sábio nazareno, “pelos frutos os conhecereis”. No entanto, há que atender também à pertinência do conteúdo a cada momento de aprendizagem, pois não é pedagógico que se estudem assuntos demasiado avançados, ainda que aproximados à verdade, sem a devida preparação prévia através de conhecimentos mais simples.

Existem muitos livros, muitas correntes, muitas técnicas e tipos de ensinamentos que estão disponíveis atualmente para quem deseja enveredar por um caminho de desenvolvimento interior e aprendizagem ao longo da vida. Descartando as correntes que nitidamente nos tentam encaminhar para uma degradação da condição humana, em todas as linhas de conhecimento e correntes espirituais pode haver madeira útil ao nosso fogo interior. No entanto, demasiada lenha acaba por apagar o fogo. Isto é tanto mais importante de reconhecer se temos um papel ativo na transmissão de conhecimento.

Quanto mais linhas e correntes diferentes misturamos, maior será a confusão que se pode originar. No entanto, se apenas nos cingimos a uma só filosofia ou corrente de pensamento, o mais natural é irmos fechando a nossa mente a todo o conhecimento que não esteja de acordo com a nossa visão, seja ele verdadeiro ou não. Há, no entanto, um meio termo que devemos procurar. Esse meio termo corresponde, por si só, a toda uma atitude filosófica, muito antiga, que hoje se torna novamente necessária: o Ecletismo. O Ecletismo reconhece a existência da verdade, sendo as diferentes filosofias aproximações parciais a ela. Daí a necessidade de um estudo multifacetado para uma aproximação paulatina, sem pretensões de absolutismo, à verdade e à realidade profunda do universo e do ser humano.

A formação das novas gerações não pode cingir-se à transmissão dos nossos conhecimentos e pontos de vista, pois com a passagem das nossas concepções vamos transmitir também as nossas limitações e os nossos preconceitos, não permitindo um progresso verdadeiro. A formação deve focar-se, mais que nos conteúdos que possamos transmitir, no desenvolvimento das capacidades interiores, dos valores humanos, das virtudes, do autoconhecimento, do discernimento inteligente, da imaginação criadora, da afetividade saudável, da moderação nos hábitos, no despertar de um eu humano que se possa sobrepor ao eu animal, permitindo assim o governo interior de si próprio.

A Nova Acrópole aplica estes princípios através da criação de um Programa de Estudos que se desenvolve através de 7 níveis, conjugando conhecimentos filosóficos, sociopolíticos, científicos, místicos e artísticos, numa estruturação coerente e pedagogicamente organizada. Através deste estudo comparativo gera-se uma visão global e multifacetada de cada assunto, exercitando-nos numa compressão mais profunda, na tolerância ao ponto de vista do outro, e na busca de uma verdade que apenas intuímos por cima de todas as nossas possibilidades de raciocínios e teorias abstratas.

Por outro lado, o aspecto prático e aplicável do conhecimento é destacado desde o primeiro nível de estudos, o qual, por sinal, é chamado de Curso de Filosofia Prática. A prática daquilo que se aprende é tarefa para todos os dias e para a vida inteira, e não está sujeita ao horário ou à duração de um curso. Como afirmava o Professor Livraga, mais que saber muitas coisas, importa viver algumas. A consciência não é algo que se adquire a ler ou a ouvir aulas, ainda que sejam ensinamentos ouvidos diretamente da boca dos Sábios. A consciência só avança vivendo, experienciando a sabedoria.

Aquilo que podemos fazer, como Escola, é reunir os melhores ensinamentos das Idades e organizá-los com uma linguagem acessível e conteúdos ajustados à mentalidade contemporânea; apresentar um programa de estudos, com os seus manuais e demais ferramentas pedagógicas conformes a cada grau do percurso discipular; melhorar as condições de aprendizagem, criando um ambiente de partilha, fraternidade e concórdia, no qual a luz de cada um possa contribuir para a iluminação do caminho de todos os outros.

É fundamental que a formação teórica deva estar constantemente acompanhada por uma prática. É deste modo que todos os estudantes da Nova Acrópole são convidados a participar de forma activa na construção da instituição, contribuindo com as suas melhores capacidades, desenvolvendo assim o seu melhor potencial humano e colocando-o ao serviço dos ideais que sempre acompanham a humanidade.

A formação não se pode cingir a uma “escolaridade obrigatória”, que inconscientemente transmite a ideia de, terminando a escolaridade, estar terminada a possibilidade de aprendizagem no tempo restante da vida. A formação deve ser contínua, ao longo e para todas as idades da vida. Deixando para trás a Sociedade do Informação ou do Conhecimento em que estamos inseridos, devemos propor uma Nova Formação, numa autêntica Sociedade da Educação, a qual necessita de um trabalho individual prolongado, de uma certa disciplina que alia o autoconhecimento sincero, a investigação serena e profunda, e o serviço desinteressado à sociedade.

A Transformação

“A Educação é um acto mágico,
não pelo que dá, mas pelo que desperta.”

Jorge Ángel Livraga

É fundamental considerar a educação como o propósito capital da existência humana. Educação, bem entendida, deve ser promovida como o despertar interior das potências latentes de cada indivíduo, fazendo-os descobrir a sua identidade, a sua vocação, as suas qualidades e características individuais. Cada pessoa é diferente e, portanto, a educação deve eduzir, ou seja, fazer surgir desde o interior humano o melhor de cada um.

A democratização da educação, infelizmente, entendeu a palavra “democratização” como é inevitável entendê-la, ou seja, como uma prevalência do número de educandos em relação à qualidade do ensino. Isto levou a uma massificação da educação e, por consequência, ao completo oposto daquilo que seria o primeiro propósito da educação: a individualização de cada um, o despertar de uma consciência individual e própria, saída da massa informe manipulável e condicionada exteriormente pelo sistema vigente.

Portanto, para que seja exequível um modelo não massificante, o professor deve ter o tempo e os meios necessários para que possa conhecer de forma profunda cada um dos seus alunos, transmitindo-lhe em cada momento os conhecimentos, acompanhando-o nas suas dificuldades, orientando-o nas suas iniciativas, recriando constantemente as circunstâncias mais apropriadas ao seu desenvolvimento. Não pode continuar um sistema educativo baseado em conteúdos e programas iguais para todos, exames iguais para todos, métodos iguais para todos, em que um professor tem, em cada ano lectivo, mais de 100 alunos aos quais ensinar, muitas vezes durante apenas um ano, passando estes para outro professor sem que o anterior tenha tido tempo de conhecer profundamente quem ensina. Cria-se, deste modo, uma sistema mecânico, focado nos conteúdos, ou seja, na informação, e não no ser humano que necessita ser formado de acordo com as suas características individuais.

Em vez de se acreditar no professor, impõe-se uma infindável burocracia de controlo do ensino, no seio da qual o professor perde o seu precioso tempo, oblitera o seu papel de pedagogo e se transforma num agente de imposição de conhecimentos pré-fabricados e de exames superficiais que pretendem auferir a aprendizagem dos alunos. Da cadeia de montagem do sistema de ensino saem seres humanos catalogados por um número, a nota média das suas disciplinas, que os posiciona de forma artificial e injusta perante a sociedade e as universidades: se é carimbado um 19, é um aluno brilhante, se tem um 11, faz parte da média e se tem um 7, é medíocre que apenas servirá para os trabalhos mais servis. Num único número, pretende-se resumir a qualidade de um aluno, dissipando a complexidade inerente da natureza humana.

Será necessário, obviamente, aumentar o número de professores numa grande quantidade, formando-os adequadamente, o que só será possível como uma completa alteração das prioridades do Estado. É absolutamente inadmissível e decadente afirmar que não há dinheiro nem meios, para uma educação dos povos mais abrangente e de maior qualidade. O Ministério da Educação, e não o das Finanças, deveria ser aquele que mais peso político tem dentro do Estado, pois a primeira função do Estado e da própria existência de sociedades é colaborar com o desenvolvimento interior e a realização de cada um dos indivíduos que beneficiam.

Não é a educação que deve ser direcionada a todos os meios de produção e à geração de crescimento económico, como se as pessoas fossem as peças motrizes de uma imensa cadeia de montagem. São, pelo contrário, os meios de produção e a economia, sem perder a harmonia com a natureza, os que devem estar sujeitos às necessidades educativas e do cultivo espiritual da humanidade. Isto será visível quando, nas cidades, os melhores edifícios forem dedicados a centros culturais, ao invés das instituições bancárias e das lojas de luxo que vemos nas ruas centrais e mais caras; quando, em vez de 200 canais dedicados com esmerada ciência à viciação e ao embrutecimento da mente humana, tivermos, sim, uma cultura de leitura diária dos melhores clássicos, um hábito de sair para concertos que elevem o espírito, para conversas que humanamente nos aproximem, ou para o teatro que faça vibrar as cordas mais internas da nossa alma.

Com este objetivo presente, de uma educação que enobreça continuamente a generalidade da população, deve então reformular-se toda a estrutura da sociedade para avaliar a utilidade de todas as coisas em relação ao benefício do espírito humano. As leis, o sistema de governo, a economia, a arte, a religião, a ciência, a tecnologia, devem tornar-se ferramentas ao serviço dessa evolução da consciência, e não escravas dos interesses financeiros, da economia ou do conforto material, como atualmente. O monstro dos mercados capitalistas, hoje cultuado como os deuses de outrora, está a destruir a possibilidade de uma vida espiritual, substituindo-a por uma vida de trabalho mecânico sem finalidade transcendente.

A Nova Acrópole, não se detendo com apresentar uma crítica às sociedades atuais ou uma solução teórica de acordo com a sua própria perspetiva filosófica, deu ela própria o exemplo daquilo que está ao seu alcance, de momento, numa trajetória de provas dadas nas décadas que decorreram desde a sua fundação em 1957.

Não apenas reivindicamos a necessidade de mais professores na sociedade, mas sim formamos os nossos próprios professores, que tendo reconhecido esta imperiosa necessidade histórica, trabalham de forma gratuita em mais de 500 cidades do globo, movendo-os a mais pura generosidade e idealismo; não nos conformamos com apontar as falhas de uma educação caduca pelos seus métodos antiquados e contrários às básicas características da natureza espiritual humana, mas apresentamos um programa e uma prática de ensino que se apoia num conhecimento profundo do ser humano ao nível físico, emocional, mental e espiritual; não acreditamos em modas nem em inovações fundamentais que afirmem trazer a panaceia educativa, pois a natureza humana não é tão diferente hoje de há milénios atrás; não propomos simplesmente, deste modo, um retorno a valores das sociedades do passado que se tenham perdido, mas sim a conexão de cada consciência individual à dimensão da ética intemporal que vem guiando o caminho da humanidade desde os tempos mais remotos.

Não temos receio de assinalar o aspecto intemporal das virtudes, forças do espírito que garantem a dignidade humana e tornam meritosa toda a conquista da felicidade. Não temos medo de afirmar inequivocamente a existência de Deus e da uma essência imortal no ser humano, sem por isso sermos uma religião ou participarmos dos métodos sectários dos grupos pseudo-místicos. Batemo-nos por relembrar continuamente a consciência humana da sua natureza espiritual, preparando uma fortaleza interior em cada ser humano dentro da qual, sabendo porque vive e porque caminha sobre a Terra, possa enfrentar as crescentes dificuldades de um mundo cujo suporte vital – por estarem minados todos os seus fundamentos e corrompidos todos os seus princípios – pode ruir a qualquer momento, deixando desamparada a quase totalidade da humanidade. Não nos contemos em proclamar que só ficaremos satisfeitos quando forem sábios aqueles que nos governam e isso é evidentemente impossível num sistema que continuamente alimenta falsas promessas e tem a mentira e a demagogia como argumento de luta entre partidos.

Acima de tudo, mais importante que almejar qualquer transformação daquilo que nos rodeia, temos que viver com intensidade uma vida interior que nos transforme desde dentro, melhorando-nos como seres humanos, enobrecendo-nos e dignificando-nos. Tendo mergulhado profundamente dentro de nós próprios, conectando com a nossa essência espiritual, devemos transformar a nossa personalidade à sua semelhança, melhorando o nosso caráter, limando os nossos defeitos, colmatando as nossas falhas, e gerando um modo de vida coerente com os melhores valores humanos.

Esse é o significado de Nova Acrópole, nova cidade alta, uma sociedade mais elevada, mais consciente, mais humana; um sonho que muitos sonham, um Ideal que muitos vivem, e que muitos mais terão que viver, transformando-se interiormente, para que num sombrio mundo de ferro possa surgir a aurora de um mundo de ouro; para que se transforme este mundo em algo novo e melhor.

Henrique Cachetas