Ciclo “700 Aniversário da Morte de Dante”

Dante Alighieri é bem conhecido no mundo da arte e da literatura, mas a maioria das pessoas não está ciente dos ensinamentos herméticos e ocultos que ele propositadamente disseminou nas sua obras.

Apesar dos atuais equívocos, a época de Dante, a chamada “Idade Média”, foi um tempo de grande vitalidade espiritual, apesar das suas contradições (como as crueldades da Inquisição). Graças às cruzadas, existiram muitos intercâmbios intelectuais e espirituais entre o ocidente e o oriente. Muitos dos ensinamentos da antiguidade clássica em conjunto com mistérios cristãos circulavam através de vários movimentos secretos (“underground”). Podemos ver por exemplo que existe um elo de ligação espiritual entre os cavaleiros Templários, os misteriosos autores das catedrais, os autores do círculo do Graal e os alquimistas medievais.

Dante foi ele próprio afiliado a organizações secretas como a La Fede Santa (a Santa Fé), uma terciária ordem de Templários, e um misterioso grupo de “poetas” conhecidos na literatura como os Fideli D’Amore (os Fiéis ao Amor). Há muitos traços de linguagem hermética usada por esses “poetas” para comunicar a existência de doutrinas iniciáticas bem como de uma “irmandade” trabalhando em prol dessas doutrinas. Um dos temas principais divulgado pela poesia dos autores do “dolce stil´nuovo” (um novo estilo poético) era o mistério do Amor como veículo para se elevar ao divino. A mulher “amada” aparece nos trabalhos literários sob vários nomes femininos (Rosa, Beatriz, Silvia, Savage, etc.) era sempre o símbolo do Conhecimento Transcendente ou Sabedoria e o que Dante queria dizer era que tinha começado a jornada interior através da Sophia.

Dante e Beatriz nas margens do Leteo, Cristóbal Rojas. Domínio público

A vida iniciática de Dante e a sua relação com a Sabedoria e os seus seguidores provavelmente começou no tempo em que escreveu a Vita Nuova (A Vida Nova) e culmina durante o tempo em que compôs a Divine Comedy (A Divina Comédia). Na seção Inferno (IX, 61) Dante explicitamente diz “Oh vós que possuís intelectos robustos, vêde o que está velado sob versos tão obscuros” e passa então a narrar a sua viagem espiritual começando na descida para o centro da Terra (fase Negra alquímica) e a subida da montanha do Purgatório (fase Branca) para alcançar as estrelas e a visão de Deus (seu eu mais elevado). À medida que entra no Paraíso (fase vermelha) ele diz “Eu estava entre o céu que recebe mais da Sua luz; e vi coisas que aqueles que descem as alturas, esquecem ou não conseguem contar”. Deixo-vos com esses belos versos, que ao mesmo tempo revela e encobre a majestade da mensagem hermética de Dante.

 

Agostinho Dominici
Publicado em New Acropolis UK, em 23 de Dezembro de 2015

Imagem de destaque: Dante em Verona, Antonio Cotti. Domínio Público