Os contos tradicionais são os sonhos da humanidade que se dirigem às questões mais profundas do ser humano, desenrolando-se os seus cenários e as suas acções no nosso ser interior, onde vão ganhando vida e autentica realidade, proporcionando uma viagem iniciática à semelhança de todas as estruturas mitológicas. A linguagem dos contos é simbólica, um microcosmos do arquétipo que representa a força e energia dessa ideia. A sua estrutura é a de levar o ser humano a conhecer-se a si mesmo percorrendo as provas que constituem o caminho da sua evolução.
Os contos relatam o mundo e o que sucede nele de forma não objectiva, mas sob uma essência que vai transformando o mundo plástico sempre em reconstrução. A sua perspectiva é, pois, a do herói, um ser em desenvolvimento.
Os contos fornecem matéria-prima para a imaginação infantil… e não só. Já que a imaginação é talvez o poder maior do ser humano, é o que o tornará um vencedor porque ela marca os limites a onde somos capazes de ir. Todos os homens que venceram nas ciências, política, arte, literatura, etc., venceram pela força da sua capacidade de ir mais além do que a “realidade” lhes mostrava. A criança faz assim uso dos contos e da imaginação como um meio para examinar e entender o mundo externo assim como o seu mundo interior.
Origem do conto da Branca de Neve
A Branca de Neve e os 7 anões é o conto mais popular dos irmãos Grimm, e provavelmente o mais popular conto ocidental. Os irmãos Grimm dedicaram-se em inícios do séc. XIX a recolher e compilar os antigos contos, mitos e tradições espalhados pela Alemanha, mas também de outras regiões, e que constituíam uma herança dos antigos povos celtas.
Apesar da importância dos irmãos Grimm na sua divulgação, o primeiro registo escrito que se conhece do conto da Branca de Neve é de 1634 realizado pelo italiano Giambattista Basile.
Mas talvez que o maior responsável na nossa época na divulgação deste conto tenha sido o genial Walt Disney. Um homem de uma sensibilidade extraordinária, uma imaginação ilimitada, uma intuição profunda e um sentido de missão de transmissão de valores enorme.
A Branca de Neve e os Sete Anões foi a primeira longa metragem da Disney e levou quatro anos e meio a ser concluída, tendo Walt Disney investido tudo o que tinha, pois os gastos suplantaram todas as estimativas. A estreia teve lugar em 21 de Dezembro de 1937, data de Solstício de Inverno, que não foi escolhida ao acaso, pois para Walt Disney o nascimento desta obra era como o nascimento de uma Estrela de Luz para a humanidade.
O sucesso foi estrondoso e o filme ganha esse ano um Óscar honorifico e as receitas de bilheteira estão entre as 10 maiores de sempre dos EUA e Canadá.
Os ensinamentos do conto
Ao longo da história da Branca de Neve vamos encontrar ensinamentos de grande conteúdo espiritual ou filosófico revestidos de uma roupagem simbólica. A sua mensagem fala da viagem da alma, da sua descida na matéria e a sua aprendizagem através das provas da vida até se tornar um ser perfeito, puro e luminoso.
É uma mitificação da iniciação, da viagem pelo caminho da evolução humana, que através de “mortes” e renascimentos vai passando da ignorância à sabedoria ou do estado infantil à maturidade espiritual.
Comecemos a nossa viagem:
O nascimento da Branca de Neve
Era uma vez, no auge do inverno, quando flocos de neve caiam como plumas das nuvens, uma rainha estava sentada à janela do seu palácio costurando. Nisto, levantou os olhos, espetou um dedo e caíram 3 gotas de sangue na neve. Vendo o vermelho tão bonito sobre o branco, a rainha pensou:
– Queria ter uma filha tão alva quanto a neve, com os lábios vermelhos como este sangue e os cabelos tão negros como o ébano desta janela. Pouco tempo depois nasceu uma filha que era branca como a neve, lábios vermelhos como o sangue e com uns cabelos negros como ébano. Por isso lhe deram o nome de Branca de Neve. Mas, quando ela nasceu, a mãe morreu…
A rainha é a tecedeira do destino, à semelhança das Parcas, com os seus pontos e nós vai unindo os caminhos e produzindo as imagens como os arquétipos que se desenham na alma humana.
As 3 cores que caracterizam a Branca de Neve (negro, branco e vermelho) simbolizam as 3 cores das 3 fases alquímicas: Nigredo (negro), a morte; Albedo (branco), a luz e pureza; Rubedo (vermelho), a manifestação perfeita.
Há dois números que estão muito presentes em toda a história: o 3e o 7, ambos conformam uma unidade, o 3 no plano divino e o 7 no plano da natureza, e os dois juntos toda a unidade do universo (3+7=10=1)

Tetraktys Pitagórica: o 10, símbolo da unidade do universo eterno, formando os três pontos dos vértices o Triplo Logos ou o Divino e os 7 pontos internos, os 7 Raios os planos da natureza, que conformam o cubo da matéria.
A presença do número 3 na história:
- São 3 o número de gotas de sangue;
- A história irá estar dividida em 3 partes: Da vida no castelo até à fuga no bosque; a vida na casa dos anões até à maçã envenenada; a vida no castelo unida ao príncipe em que “viverão felizes para sempre”
- As 3 provações ou tentações da bruxa e as 3 respectivas “mortes”.
A presença do número 7:
- Estará reflectido nos 7 anões e tudo o que com eles irá estar relacionado, sempre em número de 7.
A orfandade da Branca de Neve representa a individuação do caminho. Pois o herói em todos os mitos e contos é aquele que, embora muitas vezes acompanhado de amigos ou outros personagens, nos momentos cruciais está sozinho, pois as provações, lutas, vitórias ou derrotas, dizem respeito a cada um de nós, ninguém pode resolver os desafios, obstáculos ou inimigos que são só nossos, pois estes estão no interior de nós mesmos.
A madrasta irá ser aquela que colocará as dificuldades e provas no caminho da Branca de Neve, o caminho do seu crescimento e fortalecimento. Os vilões que colocam as dificuldades aos heróis nas histórias são elementos essenciais, pois sem eles não haveria confronto. São todos os nossos elementos obscuros que quando identificados podem ser confrontados.
No Mito da Psique grego, história com trama muito semelhante à deste conto, a quem caberá esse papel de colocar as provas é à deusa Vénus, a deusa do amor, pois ela encontra-se detrás das dificuldades e provações, é o Amor de fazer crescer e evoluir a alma.
As duas rainhas com as quais o Rei irá casar, as duas “mães” de Branca de Neve, poderão representar os dois movimentos da alma: Vénus Urania e Vénus Pandemos, o mundo da verdadeira beleza e amor (representada pela mãe) e o mundo dos seus reflexos (o espelho) da beleza efémera e da paixão dos sentidos (representado pela madrasta).

Amor sacro e amor profano, também chamado Vênus e a donzela, é um quadro a óleo de Tiziano, pintado por volta de 1515 / wikipedia
O espelho mágico
O espelho mágico da Rainha madrasta representa o olho que tudo vê, ele é como a consciência que diz a verdade. O espelho sempre dizia que a Rainha era a mais bela, até ao dia em que Branca de Neve completa 7 anos (mais uma vez o número 7) e se revela todo o seu encanto, que levará agora o espelho a afirmar que a mais bela é Branca de Neve.
A beleza da madrasta é a beleza física, a beleza sensual, que nunca poderá igualar a beleza da Branca de Neve. Ao passo que a beleza da Branca de Neve é a beleza da alma, a beleza interior, o Belo que está unida ao Bem, ao Verdadeiro e ao Justo (arquétipos). O encanto da Branca de Neve vem do coração, da alma, da sua capacidade de amar, a madrasta possui a capacidade de encantar, seduzir, é a beleza fútil.
O caçador e o abandono da Branca de Neve no Bosque
A madrasta, furiosa por já não ser a mais bela, incube um caçador de matar a Branca de Neve. O caçador representa os ardis da mente para se desresponsabilizar, pois a mente sempre arranja uma forma de transgredir sem que assuma a culpa.
O caçador conduz a Branca de Neve ao bosque e compadece-se da Branca de Neve não a matando, mas deixando-a no bosque, o território da aprendizagem e provação, ao lugar de transmutação, assumindo aqui um papel psicopompo. O bosque é a representação do mundo, como um labirinto de diferentes caminhos, dúvidas, perigos… Estar perdido na floresta é o mesmo que estar perdido no labirinto da multiplicidade da manifestação. É o local de encarnação da alma, fazendo lembrar o conceito oriental de Nirvana, a libertação da alma, e cuja tradução literal é “saída do bosque”. O bosque é também símbolo do mundo instintivo com a presença dos diferentes animais.
A Branca de Neve perdida no bosque, é a alma perdida na confusão dos sentidos e sentires, das dúvidas, angústias, ansiedades e medos.
A Branca de Neve corre assustada pelo bosque em que, na escuridão, todos os animais e sombras lhe parecem monstros e perigos. Esta sua corrida apavorada representa a viagem pelo mundo da dúvida e ignorância, que sem a claridade do conhecimento tudo se transforma em perigos e monstros. Branca de Neve apavorada com os seus próprios fantasmas vai precipitando-se para dentro do bosque até que por fim, no meio da claridade, descobre que os monstros não são mais que dóceis animais que a querem ajudar e então Branca de Neve diz: “O que passei… tudo porque tive medo!”.
A chegada à Casa dos 7 anões
Quando a Branca de Neve chega ao abrigo que constitui a casa dos 7 anões é a passagem da viagem do mundo exterior para o mundo interior, o local onde se vão desenrolar todos os trabalhos e todas as batalhas para o seu desenvolvimento. Aqui irá conhecer os 7 anões: as 7 faculdades, as 7 potencialidades, as 7 virtudes e também os 7 defeitos, será o lugar das provas.

A casa representando o mundo da personalidade (o quadrado ou cubo) e o telhado a dimensão espiritual (o triângulo ou pirâmide).
Na versão dos irmãos Grimm a Branca de neve encontra a casa perfeitamente limpa e ordenada, no entanto, na versão de Walt Disney é a Branca de Neve que vai colocar ordem e limpeza. Em ambas as versões a questão da limpeza e ordem na casa é um facto importante, pois refere-se à necessidade de ordem e purificação do ser: de realizar um trabalho discipular. Na versão de Walt Disney, com a sua atenção e intencionalidade dos pormenores, aparecem os animais que ajudam a Branca de Neve a tentarem esconder o lixo debaixo do tapete, mas não vale “truques”, não se pode ocultar ardilosamente, há que ordenar de verdade!
Os 7 anões
Os anões são mineiros, são eles que sabem extrair as jóias subterradas no interior da mina, o lugar de transmutação da pedra bruta em diamante da virtude. São eles que guardam os segredos das profundidades, conhecem os cantos obscuros, mas também as jóias que neles se encontram. A gruta é o atanor alquímico e os 7 anões são os 7 planetas cujas energias operam a transmutação, por isso também associados às 7 virtudes e naturalmente à carência das mesmas.
Mestre
O mais velho dos anões, representa o Sol, o líder.
Aspecto positivo: É a aprendizagem, a memória, a capacidade de analisar e reflectir, a expressão do conhecimento adquirido. É a voz interior que orienta e ensina. Ele é o mais velho e o mais sábio.
Aspecto negativo: A arrogância da intelectualidade, da racionalidade que nega a verdadeira sabedoria.
Feliz
Representa a bonança e a abundância de Júpiter, gordinho e feliz.
Aspecto positivo: Capacidade de colocar o valor da vida com a sua alegria sobre a visão triste e pessimista. Possui a leveza e criatividade.
Aspecto negativo: A alegria fácil, fútil e eufórica, distorcida pelo sentido da fuga.
Zangado
Representa a ira de Marte.
Aspecto positivo: A revolta do inconformismo, a capacidade de indignação e de lutar para poder mudar.
Aspecto negativo: A rabugice, violência e ira sem fundamentação e sem lucidez.
Tímido
Representa a beleza de Vénus.
Aspecto positivo: O comportamento delicado, a cortesia, a capacidade de demonstrar suavidade, o poder do amor no acto de ternura.
Aspecto Negativo: Manipulação sentimental/emocional para conquistar os outros ou atingir objectivos.
Atchim
Representa as atormentações de Saturno.
Aspecto positivo: A sensibilidade ao meio, os sentidos como capacidade de perceber o que se passa no seu entorno e com os outros.
Aspecto negativo: Intolerância, hipersensibilidade ou mesmo a insensibilidade do isolamento.
Dunga
Mercúrio, o mais rápido dos planetas e também o menor deles.
Aspecto positivo: A capacidade de escuta, o acolhimento e compaixão.
Aspecto negativo: A condução a uma postura de passividade infantil.
Soneca
Representa a Lua e o seu pecado capital é a Preguiça.
Aspecto positivo: Capacidade imaginativa. O prazer de sonhar e estabelecer vínculos com a realidade.
Aspecto negativo: Buscar formas de escape e exaltação dos sentidos.
A aceitação da Branca de Neve pelos anões
Para ficar na casa dos anões a Branca de Neve deve obedecer a algumas regras, são uma espécie de treino para dominar todas as tendências obscuras da alma, elas serão necessárias para a realização do ouro interno com a sua pureza e luminosidade imutáveis:
A primeira das regras é seguir os conselhos deles para não abrir a porta a ninguém, porque a Rainha má com o poder de se disfarçar e enganar, poderia atacá-la e matá-la. Os nossos defeitos e vícios disfarçam-se das mais variadas e “inocentes” formas para entrarem em nós e apanhar-nos, é necessário manter as portas fechadas.
A segunda é manter a casa sempre limpa e arrumada. A necessidade de disciplina e limpeza interior, pois a casa dos anões representa numa chave a nossa mente, que deve ser ordenada e limpa.
Neste contacto inicial entre a Branca de Neve e os 7 anões encontra-se uma clara alusão à necessidade de purificação dessas sete potências: Na versão dos irmãos Grimm os anões apanham uma chuvada e na versão de Walt Disney é Branca de Neve que os obriga a lavarem-se, ambas as versões introduzem a água como elemento purificador, de limpeza das escórias acumuladas.
A vingança da madrasta
Quando a madrasta descobre que a Branca de Neve continua viva e a mais bela, sai do seu castelo enraivecida pela inveja e vai procurar a Branca de Neve. São os nossos hábitos, vícios e formas de pensar que se encontram ameaçados, é a batalha das forças inferiores que tem como campo de confronto a alma (como a batalha do Bhagavad Gita), tal como o retratam as epopeias místicas das diferentes tradições, são a revolta dos elementos psíquicos inferiores que ficam adormecidos no início do caminho e afastados do centro da consciência, tal como a madrasta o fica no seu castelo longe da casa dos anões, mas no momento que despertam ficam enfurecidos contra a nova ordem, e por isso existir o risco que se apoderem da alma.
As três provas e adormecimentos
Na história dos irmãos Grimm serão 3 as tentativas que a bruxa executará para matar a Branca de Neve, embora na adaptação de Walt Disney tenha ficado apenas a última delas, a da maçã.
As “mortes” que a Branca de Neve irá passar, referem-se à morte que implica toda a mudança de estado; é necessária a morte de um estado antecedente para o nascimento num estado seguinte. É a iniciação, morte e renascimento.
A prova do cinto:
A madrasta, disfarçada de velhinha, visita a Branca de Neve que a deixa entrar em casa e lhe oferece, em algumas versões são fitas, noutras cintos e ainda noutras corpetes, que ao colocar na cintura da jovem a sufocam, chegando os anões a tempo de a salvar. A ideia é a da separação entre a parte superior e inferior do corpo, representando o domínio sobre o instinto, a sexualidade e a sublimação do poder criador na matéria em poder criador espiritual. O facto de a Branca de neve ser apertada e sufocar, representa precisamente, quando esse poder não é sublimado, como os instintos apertam e sufocam a alma.
A prova do pente:
Nesta segunda visita da madrasta disfarçada a Branca de Neve não a deixa entrar em casa, mas a astúcia da madrasta desta vez não o necessitava, pois o que tinha para a jovem era um pente envenenado, o qual aceitou e ao pentear-se picou-se deixando o veneno penetrar na cabeça da Branca de Neve que caiu adormecida, sendo mais uma vez salva a tempo pelos anões. A cabeça envenenada é a mente que é contaminada pelos pensamentos envenenados e negativos, pelo egocentrismo, vaidade e sedução.
A prova da maçã:
A terceira e derradeira prova vai ser oferta à Branca de Neve de uma bela, vermelha e envenenada maçã, que quando morde o pedaço este se fixa na garganta e a asfixia.
A maçã é símbolo do conhecimento, por isso está carregada de duplicidade, já que o conhecimento em si tanto pode ter uma finalidade boa ou má. Pode ser um conhecimento unificador que confere a imortalidade ou um conhecimento desagregador que provoca a queda. É a diferença entre as maçãs de ouro da ilha das Hespérides, representando o conhecimento puro, e a maçã vermelha, que representa o desejo de poder do conhecimento egoísta.
A duplicidade do valor da maçã ou do conhecimento encontra-se inscrito no “coração” ou caroço da mesma. Um corte perpendicular ao seu eixo revela no seu íntimo um pentagrama, símbolo tradicional do saber e do homem espiritual. Um corte no sentido do eixo revela a separatividade, a dualidade. Na história dos irmãos Grimm a bruxa corta a maçã a meio e dá a metade envenenada à Branca de Neve.
O adormecimento da Branca de Neve
Os anões conseguem “ressuscitar”, trazer de novo à vida, a Branca de neve por duas vezes, mas não a terceira quando se trata da maçã, pois enquanto as duas primeiras tocam o domínio da personalidade, a terceira toca o domínio espiritual e por isso o despertar cabe a um outro nível…
Os animais vêm lamentar a perda da Branca de Neve, primeiro chegou um mocho, depois um corvo e por último uma pomba. Estes três animais simbolizam respectivamente a mente, a intuição e o espírito.
O encontro do Príncipe
As histórias diferem na versão dos irmãos Grimm e na de Walt Disney. Na primeira, o príncipe pede aos anões que lhe entreguem Branca de Neve, pois não pode viver sem olhar para ela, os anões cedem ao pedido e entregam o ataúde ao príncipe que pede que seja carregado pelos servidores. No caminho, um carregador tropeça e faz tombar o ataúde que com o embate faz saltar o pedaço da maçã encravado na garganta da Branca de Neve e ela desperta. Na versão de Walt Disney o Príncipe beija apaixonadamente a Branca de Neve e ela acorda, é “a salvação pelo amor” que tudo vence.
Ambas as histórias retratam o amor do Príncipe, o amor incondicional do Espírito sobre a Alma, tal como no Mito de Psique, Eros faz despertar Psique. É o despertar da alma pelo amor espiritual que nunca a abandona.
O casamento
Na versão dos irmãos Grimm “a Bruxa ao saber que há uma jovem princesa mais bela do que ela vai ao seu casamento e descobre que se trata de Branca de Neve. O príncipe reconhece a Bruxa e castiga-a fazendo-a calçar uns sapatos de ferro em brasa e com eles a rainha “dançou até cair morta”. É o mundo manifestado, feito de agitação e desejo que se esgota no seu próprio movimento quando submetido ao espírito. O sapato, símbolo do viajante, em brasa (diferente do fogo) representa a paixão que consome sem iluminar.
O casamento da Branca de Neve com o Príncipe é o casamento alquímico, símbolo da unidade, a união da Alma com o Espírito, única união que torna possível serem… “Felizes para sempre!”
No final da história a Branca de Neve vai viver com o Príncipe no castelo no cimo da Montanha. A montanha é o lugar dos deuses (o Olimpo), a dimensão elevada, a pirâmide natural com a sua base na multiplicidade do mundo da floresta e a sua unidade no céu. É por onde descem os deuses e os homens ascendem. É o lugar mais além do bosque (Nirvana).
Quero terminar com um belíssimo poema de Fernando Pessoa, “Eros e Psique”, que nos retrata tão bem a magia deste conto: o do despertar da alma.
Eros e Psique
de Fernando Pessoa
Conta a lenda que dormia Uma Princesa encantada A quem só despertaria Um Infante, que viria De além do muro da estrada. Ele tinha que, tentado, Vencer o mal e o bem, Antes que, já libertado, Deixasse o caminho errado Por o que à Princesa vem. A Princesa Adormecida, Se espera, dormindo espera, Sonha em morte a sua vida, E orna-lhe a fronte esquecida, Verde, uma grinalda de hera. Longe o Infante, esforçado, Sem saber que intuito tem, Rompe o caminho fadado, Ele dela é ignorado, Ela para ele é ninguém. |
Mas cada um cumpre o Destino Ela dormindo encantada, Ele buscando-a sem tino Pelo processo divino Que faz existir a estrada. E, se bem que seja obscuro Tudo pela estrada fora, E falso, ele vem seguro, E vencendo estrada e muro, Chega onde em sono ela mora, E, inda tonto do que houvera, À cabeça, em maresia, Ergue a mão, e encontra hera, E vê que ele mesmo era A Princesa que dormia. |
Maravilhoso!!
Uma análise soberba, obrigado por partilhar a sua sabedoria.
Só quero lembrar que um homem não deve tocar o corpo de uma mulher sem.o consentimento dela e uma vez que ela estava desacordada, o príncipe não deveria beijá-la, sendo assim a versão da Disney não é a melhor.
Estimada Cláudia, é uma pena que alguém tenha dedicado tanto tempo e inteligência a escrever este texto iluminado para receber um comentário tão do mundo material, dos polos extremos, esse descrito como sendo o da madrasta.
O ponto que refere no seu comentário nem sequer é uma questão, é óbvio e, por isso, descabido. Deixe o pseudo-progressismo à porta do templo da filosofia, por favor.
Muito bom, didático e esclarecedor
Sensacional! Parabéns!
Maravilhoso. Obrigada!!!😍
Gostei !!! Saudades da minha infância ,como eu amei esses contos !!
rendida à completude da análise
Gostei do artigo . Para mim foi um esclarecimento da vida. É uma aula de simbologia.
Muito boa análise! Quem diria! 👌
Muito interessante!