Em várias ocasiões costumamos referir-nos à Filosofia como uma busca do conhecimento que nos falta.

Essa busca implica a acção de movimento em determinada direcção, e assim consultamos livros que outros escreveram, escutamos coisas que outros dizem e submetemos a nosso critério os pensamentos e raciocínios dos outros.

É certo que no mundo exterior a nós próprios podem-se encontrar muitas respostas interessantes, porque é um mundo no qual se pode experimentar e, de maneira racional, estabelecer relações que nos levam a conclusões lógicas.

É um mundo partilhado por milhões de seres humanos, basicamente com os mesmos problemas e as mesmas necessidades, embora seja forçoso reconhecer que varia muitíssimo o grau de intensidade de problemas e necessidades para uns e outros.

Mas também é certo que no mundo interno, íntimo e privado de cada um de nós, também se pode experimentar e chegar a resultados válidos.

Aqui nos encontramos mais sós, embora estejamos rodeados por milhões de seres humanos.

Nesse âmbito interno, os nossos problemas e necessidades parecem-nos únicos, as nossas ideias as melhores e as nossas emoções fazem-nos crer que são intransferíveis.

Estes dois mundos, o externo e o interno, são absolutamente reais para cada indivíduo e não podemos estar totalmente certos de saber e conhecer algo se não o experimentámos nestes dois planos da existência.

Como podemos estar certos de que alguém nos ama?

Como podemos saber se somos valentes? Como aproveitar a liberdade que temos?

As perguntas acumulam-se e movemo-nos em busca de respostas, num caminho talvez sem fim, pois se há algo que não tem limites é o desconhecido, e sempre haverá coisas novas e melhores para aprender.

FILOSOFIA é, pois, relacionar de maneira correcta os conhecimentos de uma dimensão externa, objectiva, e as vivências de uma dimensão interna, subjectiva, já que são as duas faces da realidade.

Platão e Aristóteles, detalhe da Escola de Atenas, pintura de Rafael. Domínio Público

Uma relação correcta é os actos corresponderem a uma maneira de sentir e de pensar, que não exista falsidade entre nós, que sejamos capazes de unir as flores dos resultados das nossas experiências objectivas e subjectivas num só ramo ao qual chamaremos a nossa experiência da vida.

A isto nos referimos quando falamos de Filosofia em Acção. Mas há algo que participa ao mesmo tempo do objectivo e do subjectivo e, portanto, forma parte integrante da vida na sua natureza essencial: os Símbolos.

São objectivos porque podem ser representados sensivelmente e compreendidos pela razão, e são subjectivos porque também podem ser interpretados por meio da imaginação e da intuição.

E constituem uma linguagem porque nos servem para comunicar, para transmitir conhecimentos materiais e imateriais, para expressar ideias e sentimentos, para encerrar de maneira sintética um feixe de significados, uma original diversidade que conduz a lúcidos estados de entendimento.

São os símbolos uma criação convencional dos seres humanos? Alguns realmente são, e fazem-nos a vida mais fácil.

São necessários para participar dos conhecimentos da matemática, da química, da física, das ciências em geral e da atmosfera tecnológica que nos rodeia.

De facto, para desfrutar da tecnologia não temos outro remédio senão saber interpretar a cada vez mais complexa simbologia que a representa: desde televisores, bem, toda a gama de electrodomésticos passando pelo imprescindível computador até chegar ao trono do monarca absoluto que é o telemóvel!

E quando já se consegue um básico manejo do aparelho, rapidamente aparece no mercado a nova geração de telemóveis e… e bem… é uma maneira como qualquer outra de desenvolver a paciência.

Sim, alguns símbolos são criações humanas, e outros já existem na natureza e ajudam-nos a entender a vida e as suas manifestações.

Estão presentes em todos os reinos, desde o mineral ao humano; no pequeno em células e átomos e no imenso de astros e galáxias.

Formam parte da Vida, do Universo, da existência no seu incessante devir.

Usamo-los. De forma consciente escolhemos metais ou pedras preciosas para oferecer e, nesse momento, pronunciamos umas poucas palavras (ou nenhuma) para expressar as emoções que nos comovem.

O tipo de flores que escolhemos para oferta ou decoração varia segundo o momento ou estado de ânimo que se quer mostrar.

Os animais são utilizados na heráldica, nos emblemas, na arte, pela sua grande carga simbólica.

Empregamos cores e sons, objectos e palavras rituais em muitos momentos da vida porque os consideramos importantes ou especiais.

Mas os símbolos também nos acompanham nos momentos mais quotidianos, e não podemos deixar de levantar uma mão para nos despedirmos de alguém, ou para recebê-lo com um abraço que, ao fim e ao cabo, é uma forma física e metafísica de aproximar os corações.

E quando nos encontramos com o riso ou com o choro, património dos humanos, recebemos imediatamente a carga emocional da sua comunicação simbólica.

Parece ser, pois, que há símbolos artificiais (convencionais) e os há naturais.

Esta diferença não se dá apenas no terreno simbólico, porque é evidente que forma parte da vida em sociedade: há uniões convencionais entre seres humanos por interesses partilhados e também a uniões naturais por amor.

Há correntes artísticas com formas e interpretações convencionais, às vezes de difícil interpretação, verdade! e há outras que são naturais onde um olho é um olho e não outra coisa.

Hoje necessita-se um certo grau de autenticidade para aceitar que uma forma de cor sem contorno definido é uma mancha e não uma genialidade.

Enfim, o convencional forma parte da educação estabelecida e dirigida, em muitas ocasiões, pela publicidade.

No entanto, o natural forma parte intrínseca do desenvolvimento humano.

Do ponto de vista filosófico (como busca do conhecimento) interessa-nos não tanto a criação convencional do símbolo, mas sim a captação natural deste fenómeno, na sua função de relacionar o mundo manifestado no sensível (através da compreensão) com a sua contraparte superior à qual Platão chamava o mundo das ideias Arquetípicas (através da imaginação e da intuição).

Noutras ocasiões já mencionei que a lógica e os seus mecanismos têm as suas limitações próprias de um mundo linear.

Mas a Consciência pode mover-se numa dimensão superior, e isso facilita-nos o acesso a outras realidades.

Se não fosse possível, estaríamos a negar a evolução e ir contra o inevitável movimento da vida.

Nessa dimensão superior da Consciência, os sentidos não actuam de forma habitual, mas as experiências ganham maior profundidade e subtileza com a ajuda dos símbolos.

Com a ajuda dos símbolos, o ser humano pode estabelecer relações entre os seres, as coisas e os acontecimentos graças às suas faculdades mentais superiores.

E isso não depende da cultura a que se pertence nem a que nação.

É uma faculdade inata em todos nós que podemos desenvolver para além da análise discursiva e do raciocínio.

Quando falo das faculdades superiores da mente, refiro-me à imaginação, à intuição e à vontade, essas que se destacam por cima do jogo dos opostos tão apreciados pela parte inferior da nossa mente, a que não pode raciocinar fora qualquer dualidade.

Dualidade, Rufino Tamayo. Creative Commons

E estas faculdades superiores são de muita utilidade indutiva para compreender o mundo físico através do espaço-tempo, para fortalecer a moral com a comparação do bom e do mau, para avançar no filosófico com a distinção do falso e do verdadeiro, e para nos aproximar ao espiritual com a percepção do real frente ao ilusório.

A mente concreta desenvolve a sua actividade analisando e comparando o físico com o metafísico, o objectivo com o subjectivo, o visível com o invisível.

Mas a Consciência, que radica na parte superior da mente e quiçá ainda um pouco mais acima, pode participar de maneira natural desta dualidade, pois a nossa realidade está baseada nas experiências que tivemos e que temos. Externas e internas, e na interpretação que fazemos dessas experiências.

Aqui, o mundo simbólico pode servir-nos de apoio para resolver esta espécie de polaridades com conclusões e evidências mais próximas à Unidade.

Se somos capazes de consegui-lo, a Consciência eleva-se e ascende a níveis de compreensão mais profundos e mais subtis, porque esse é um dos poderes do Símbolo, ajuda-nos a perceber a Unidade.

Os símbolos marcam os princípios e os fins e, segundo ensinava Platão, através deles a Alma pode aproximar-se dos Arquétipos porque os símbolos despertam a memória ou a intuição dos Arquétipos.

Atena, Museu do Louvre, Paris. Domínio Público

Facilitam-nos o contacto com o Sagrado, com o Mistério, com o Enigma que habita no mais interno de nós mesmos e que também podemos perceber no mundo exterior: numa planta que cresce para a luz, nas formas que criam as nuvens, nuns olhos que nos olham…

Como fiéis companheiros, acompanham-nos toda a vida, desde o berço até à sepultura e, se for certo que a vida continua depois da morte, garantidamente esse trajecto estará cheio de símbolos que nos indicam a direcção a seguir.

Os símbolos da natureza, os velhos símbolos, não são uma invenção dos humanos, não devem servir para a manipulação dos indivíduos ou dos povos.

Antes pelo contrário!

No dizer dos antigos sábios, são um presente dos deuses que nos falam com a sua própria linguagem e que nos indicam o caminho que temos de andar para reunirmo-nos com Eles.

Desejo-vos uma boa travessia.

Carlos Adelantado Puchal
Presidente Internacional da Nova Acrópole

Link do vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=JJUvIs_-jTM
Imagem de destaque: Vídeo El Lenguaje de los Símbolos, Carlos Adelantado. Nova Acrópole