O propósito deste conjunto de artigos não será trazer a revelação sobre a compreensão deste povo que deixou as enigmáticas marcas das construções megalíticas e os seus conhecimentos aí presentes bem como uma linguagem gravada nessas pedras. Trata-se antes de uma compilação e divulgação de muito trabalho sério em linhas de investigação talvez menos ortodoxas ou aceites numa visão linear da história.

A civilização megalítica deixou marcas verdadeiramente importantes envoltas num halo de mistério que acompanhou os povos que lhes sucederam recreando tradições, ritos, saúde, magia, ciência e, talvez o mais importante, um modo de conexão entre o homem e o universo.

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Origem das construções megalíticas

As respostas são sempre fáceis quando ignoramos ou quando somos sábios e difíceis quando procuramos saber. De alguma forma é o que se passa com a resposta à questão: quem foram os edificadores da cultura megalítica?

Até há não muitas décadas atrás pouco se tinha investigado sobre a cultura megalítica e por isso afirmava-se que estas construções teriam sido realizadas pelos celtas sob orientação dos seus sábios e instrutores druidas, isto fundamentado no facto dos celtas terem sustentado muitos dos seus ritos e crenças na utilização destas construções, assim como o de terem utilizado símbolos que também se encontram em alguns desses monumentos. Outro dado que terá contribuído significativamente para esta ideia terá sido o facto dos druidas, vindos do oriente, serem possuidores de vastos e profundos conhecimentos e a sua denominação de Serpentes estar tão estreitamente ligada aos megálitos, tal como mais à frente veremos melhor. No entanto, e apesar desta relação próxima entre os celtas e os seus sábios druidas com os megálitos, o facto é que não foram os seus construtores, mas sim os que os reutilizaram, sendo a sua edificação muito anterior.

O avanço nos estudos da pré-história e a descoberta de dólmenes e menires em lugares onde os celtas nunca haviam estado levou os arqueólogos e historiadores a repensarem a origem dos monumentos megalíticos. A descoberta de esqueletos e artefactos do Neolítico e Eneolítico (terceiro e segundo milénios a.C.) em alguns dólmenes veio trazer uma nova teoria, em grande medida ainda aceite nos meios mais ortodoxos da história e arqueologia, que seriam construções tumulares do Homem destes períodos. No entanto a resposta não é assim tão simples, pois essas descobertas não são uniformes no seu estilo, encontram-se enterramentos realizados de diferentes modos e de diferentes povos, artefactos distintos em muitas delas e uma grande maioria que nunca conteve qualquer enterramento. Estes factos levantam mais questões, pois terão sido estes povos, vivendo em pequenas comunidades mais ou menos isoladas, e por isso muito diferentes, sido capazes de construir verdadeiramente uma cultura com características praticamente iguais ao longo de milhares de quilómetros de distância? Seriam eles os construtores destas edificações ou terão reutilizado estes lugares para enterramentos por continuarem a venerá-los como lugares sagrados?

Já que podemos encontrar uma grande variedade de tipos de construção, sendo curiosamente as mais antigas as mais complexas e perfeitas, e à medida que se desenvolvem as investigações as datações vão recuando cada vez mais, assim como considerando-se que o maior número de construções são datadas entre 3.000 e 4.000 a.C. mas existirem muitas outras de pelo menos 6.000 e 5.000 a.C., abre-se a possibilidade de se tratar de vestígios não só de uma única cultura mas podendo ser várias com uma identidade próxima talvez provenientes de uma origem comum.

Expansão da Cultura Megalítica.

Expansão da Cultura Megalítica.

Relativamente ao foco de expansão destas construções não faltam as diferentes opiniões, umas colocando a sua origem na Península Ibérica, outros na Europa a sul da Escandinávia, mas pode-se também ter originado em ambos e a partir daí se ter expandido. Uma questão que parece indiscutível é o facto de se ter estendido por mar, já que os grandes agrupamentos se encontram na orla marítima e serem escassos os afastados do litoral, assim como também serem mais antigos aqueles que se encontram mais perto da costa, o que indica uma penetração desde a orla costeira para o interior. Esta constatação levanta a seguinte questão: qual o povo de marinheiros que há pelo menos 8.000 terá fundado estes centros em locais tão distintos, não só da costa europeia e mediterrânica (Portugal, Espanha, França, Grã-Bretanha, Irlanda, Dinamarca, Suécia, Alemanha e Sardenha), mas também em África (região do Magreb, norte da Argélia e da Tunísia, Etiópia e Sudão), Ásia (Dhaka, Pendjab, Paquistão oriental e Ceilão) e América (Perú e Bolívia)?

Estrutura megalítica de Jokrim-ri, Coreia.

Templos Ggantija em Gozo, Malta.

Templos Ggantija em Gozo, Malta.

Dolmen de er-Roc'h-Feutet, Carnac, França.

Dolmen de er-Roc’h-Feutet, Carnac, França.

Dolmen perto de Gelendzhik, Rússia.

Dolmen perto de Gelendzhik, Rússia.

Calendário circular de Praia Nabta, reconstruído no Museu Núbio de Aswan.

Calendário circular de Praia Nabta, reconstruído no Museu Núbio de Aswan.

Anta (dólmen) do Cabeção, perto de Mora, no Alentejo.

Anta (dólmen) do Cabeção, perto de Mora, no Alentejo.

Se pensarmos que as datas mais remotas que hoje se conseguem admitir para a sua construção são de há cerca de 8.000 anos, mas que poderão ser recuadas, tal como o têm vindo a ser consecutivamente, facilmente chegamos à cifra de 11.000, período em que terão ocorrido grandes acontecimentos geológicos e climatéricos que originaram inevitavelmente transformações na história da humanidade. Este período coincide com as datas que tradicionalmente são dadas para o último afundamento da Atlântida, nomeadamente as mencionadas pelos egípcios e que Platão relata no Timeu. Não é a finalidade deste artigo desenvolver o tema da Atlântida, no entanto, não poderei deixar de apontar que já não se trata de um mito, mito que por sinal está presente na tradição de tantos povos, mas cada vez mais é um facto com provas geológicas, botânicas e arqueológicas. Só assinalando alguns factos bastante significativos:

  • No Ano Geofísico Internacional foi comprovada a existência de uma grande massa de terra afundada no Oceano Atlântico, a datação da lava que cobre grande parte do fundo oceânico terá solidificado à superfície e foi datada de pelo menos 12.000 anos.

  • O que impedia até há 12.000 a corrente quente do Golfo do México atravessar o Atlântico e aquecer a Europa pondo, de forma brusca, fim à Glaciação da Europa?

  • O mito do dilúvio é um relato verdadeiramente universal, abrangendo praticamente todas as culturas de ocidente a oriente. Que acontecimento real está por detrás destas histórias com imensos pontos comuns?

  • As provas arqueológicas já são tantas que tomaria várias páginas mencioná-las, desde pirâmides descobertas na Flórida e Cuba, assim como restos arquitetónicos perto das Bahamas e muitos outros que tornam um espólio mais vasto do que o que temos ao nosso dispor de algumas outras culturas.

  • O que faz com que praticamente todos os povos pré-colombianos da América fixem a sua origem em povos vindos do mar? Exemplo são os Aztecas que denominam os seus antepassados de Aztlantes e curiosamente parece que o prefixo “Atl” não tem significado nas línguas indo-europeias mas para os Aztecas e tribos americanas significa “Água”.

Pirâmide Azteca do El Tepozteco.

Pirâmide Azteca de El Tepozteco.

A hipótese que coloca a origem de várias culturas, entre as quais a cultura megalítica, nas migrações marítimas atlantes não é por isso uma fantasia, mas apoiada em fortes indícios e provas e que vai tornando-se uma hipótese cada vez mais colocada por historiadores não-alinhados com a ortodoxia.

Diz a este propósito H.P. Blavatsky que os sábios-sacerdotes egípcios terão viajado através da Europa “deslocando-se de um a outro país com o fim de inspecionarem a construção de menires e dólmenes, de zodíacos colossais de pedra e de recintos funerários”.

Segundo as várias tradições que falam desta civilização Atlante, mas que também hoje já nos podemos apoiar nas descobertas arqueológicas, estes teriam atingido um elevado nível de conhecimento e mesmo de tecnologia que estiveram na base do surgimento de outras culturas, tais como a do Egipto e várias surgidas na América, que aparecem, não num estado básico de desenvolvimento, mas sim já em pleno e vão declinando ao longo do tempo.

Pirâmides de Quéops, Quéfren e Micerino, Egipto.

Pirâmides de Quéops, Quéfren e Micerino, Egipto.

Segundo esta hipótese e juntando os restantes factos que já expusemos anteriormente, torna-se possível que a civilização megalítica seja herdeira da civilização atlante através de colónias migratórias que se deram por altura do cataclismo e que estes povos, migrando em condições talvez adversas, pelas alterações climatéricas e geológicas, já não possuíssem todos os meios do esplendor de onde vinham mas tenham criado o que o seu conhecimento e meios lhe permitiam, deixando marcos não só de saber técnico mas também de um profundo conhecimento da natureza assim como de valores espirituais.

(continuar a ler)

Terror Antiquus por L.Bakst (1908).

Terror Antiquus por L. Bakst (1908).