Exploremos uma ligação entre a Tetraktis Pitagórica e o sistema teosófico das Rondas e dos Globos, revelada pela presença de uma constante numérica, infinitamente evolutiva em direcção à perfeição, representada por uma suposta constante, designada por Número de Ouro ou Phi (φ), cuja origem muito antiga é remetida para as concepções de sistemas metafísicos e de hierarquias espirituais ligadas à evolução cósmica dos Vedas, amplamente representada na arquitectura monumental sagrada, e que milénios depois vai continuar a reflectir-se nas concepções cosmológicas herméticas da cabala e da alquimia ou ainda nas estruturas filosóficas hinduístas (Rajas, Sattva, Tamas) ou no Yin/Yang chinês (recriando os ciclos de criação/destruição). Mais tarde (Idade Média e Renascimento) deixa a sua marca no delineamento da construção das catedrais, na arte escultórica e na pintura.
De forma sintética e simbólica a Tetraktis (do grego τετρακτύς), representa uma figura geométrica envolvendo a distribuição espacial triangular de 10 pontos em arranjos de 4 linhas (1+2+3+4=10), representando a Década Pitagórica (que na cabala serão os 10 Sephirots ou a Árvore da Vida), simbolizando a unicidade cósmica na geração dos seguintes elementos:
1 Ponto = a Unidade/Fonte Divina/Fogo.
2 Pontos = a Dualidade/Espírito versus Matéria/Ar.
3 Pontos = a Tríade ou o interface-harmonia/Água.
4 Pontos = a Tétrada ou a manifestação do mundo material/Terra.

Figura 3 – Tetraktis
Com a Teosofia e Helena P. Blavatsky esta estrutura, é reinterpretada de acordo com a estrutura da evolução cósmica representada pela Constituição Septenária onde o Quaternário (plano material: Stula Sharira, Prana Sharira, Linga Sharira e Kama-Manas) e a Tríade (os 3 planos espirituais: Manas, Budhi e Atma) são alinhados com as quatro camadas pitagóricas, no total perfazendo sete níveis que reflectem a dualidade entre os reinos numénico (espiritual) e fenomenal (material).
Como vimos anteriormente, o sistema teosófico descreve nas Cadeias Planetárias a existência total de sete Globos (de A a G), sob dois arranjos, um descendente de 3 Globos (de A a C) e outros 3 ascendentes (de E a G) que correspondem às três primeiras camadas da Tetraktis Pitagórica (os elementos alquímicos Fogo, Ar e Água) e onde o Globo D alinha com a sua 4ª camada (o elemento alquímico Terra). Assim, pretende-se que estes 4 planos governem a evolução material e senciente no Kosmos. Estas Cadeias são percorridas sete vezes (sete ciclos de Rondas ou Correntes de Vida). A Década Pitagórica simboliza a totalidade de ciclos cósmicos feitos pelas sete Rondas e representados também no Diagrama III.
Conclusão sobre estes dois sistemas simbólicos unificadores:
A Tetraktis como arquétipo representa a forma numérica e geométrica da estrutura Septenária Teosófica em que ambos os sistemas partilham a mesma visão da evolução codificada, por um lado pela geometria sagrada da Tetraktis e por outro lado, pela dinâmica cíclica das Correntes de Vida Teosóficas, concebida como uma jornada espiral partindo da Unidade para a diferenciação material e de regresso à síntese última representada de novo pela Unidade.

Figura 4 – Triângulo de Pascal e a emergência de Fibonacci
Por outro lado, o Triângulo de Pascal codifica matematicamente a Sequência de Fibonacci através de somas numéricas feitas em linhas diagonais de 45º. No triângulo de Pascal cada termo resulta da soma dos dois termos anteriores, enquanto na Sequência de Fibonacci cada termo é a soma na diagonal de dois termos prévios. À medida que a sequência cresce em valor, a razão Fn+1/Fn aproxima-se de Phi (φ) ou ~1.618 designado por Número de Ouro que reflecte o crescimento recorrente presente na Natureza sob a forma de espirais (desde as galáxias até à flor do girassol), espelhando a crença pitagórica na harmonia matemática e o tema transversal e unificador de todos os aspectos do Kosmos (espirituais e materiais).
Afinal, como confirma a doutrina hermética, o que está acima é como o que está abaixo, como se tudo estivesse interligado. Assunto que a Física Quântica já demonstrou com o “entanglement” ou emparelhamento e o sistema de Informação Quântica.
Resumo das relações
Conceitos | Padrão chave | Conexão com os outros |
Tetracktis | 1+2+3+4 = 10 | Simbolismos numéricos e triângulos |
Triângulo de Pascal | C(n,k) = C(n-1,k)+C(n-1,k-1) | Gera Fibonacci via linhas diagonais |
Fibonacci | F(n) = F(n-1)+F(n-2) | Emerge do triângulo de Pascal |
Phi → φ | 1,618… | Emerge da Sequência de Fibonacci |
Chegados aqui, colocar-se-á a questão da razão desta abordagem e ao inultrapassável assunto ligado às formas triangulares.
Tenhamos em conta que o triângulo representa a única hipótese de construção de uma superfície. Com dois pontos apenas obteremos uma linha, mas juntando três pontos geramos superfícies triangulares com que podemos construir algo sólido.
É o caso dos sólidos platónicos formados por poliedros convexos cujas faces são polígonos regulares congruentes em que os ângulos nos vértices são iguais. São eles o Tetraedro (4 faces triangulares), o Cubo ou hexaedro (6 faces quadradas que podem ser decompostas em 12 triângulos, o Octaedro (8 faces triangulares), o Dodecaedro (12 faces pentagonais que podem ser desdobradas em 24 triângulos) e o Icosaedro (20 faces triangulares).
Vemos que as formas triangulares têm uma forte presença na construção daqueles 5 sólidos platónicos porque são estruturalmente estáveis e não podem ser deformados sem alterar o tamanho dos lados. Três dos cinco sólidos platónicos são totalmente compostos por triângulos equiláteros:
Tetraedro (4 triângulos)
Octaedro (8 triângulos)
Icosaedro (20 triângulos).
Mostra que o triângulo equilátero é uma das formas fundamentais para a construção de sólidos altamente simétricos e estáveis. Além disso, o tetraedro é o único sólido platónico que tem o menor número de faces e vértices possíveis, servindo como base estrutural para muitas outras formas geométricas. É assim que no Timeu, Platão faz corresponder os “quatro elementos”, a estes sólidos, a saber o Fogo (tetraedro), o Ar (octaedro), a Água (icosaedro), a Terra (cubo), tendo atribuído ao dodecaedro a estrutura do próprio Universo.
Revelo agora o meu propósito.
Chegados aqui, recorro à teoria actual de quantização do espaço e da gravidade quântica em loop, que advoga que o próprio espaço, não sendo vazio, é um campo quântico covariante por conter todos os outros, como uma “espuma” de tensores ou de momentos magnéticos, spins, à escala de Planck (10-35 metros). Isto configura uma estrutura pluridimensional de nodos interligados numa rede complexa visualizada em unidades de formas triangulares, como tem sido defendida em grafismos pelo astrofísico teórico italiano Carlos Rovelli, e na nossa opinião provável veículo e suporte do fenómeno de emparelhamento (o Akasha védico de que falaremos adiante).

Figura 5 – Simulação gráfica da espuma de spins
Pensamos que será útil ao leitor reservarmos algum espaço a este assunto e enfatizar estes aspectos científicos quase de pendor oculto e de matemática impenetrável, face à sua crescente importância na formulação de uma visão holística do mundo que passa pela unificação de duas “mecânicas”: a Relativista Einsteiniana e a Quântica.
A designada “espuma de spins” é um conceito fundamental na “Gravidade Quântica em Loop” (GQL), no quadro da unificação da relatividade geral e da mecânica quântica, ao propor que o espaço-tempo não é contínuo, mas tem uma estrutura “discreta” (no sentido de quantum) na escala de Planck.
Constitui uma abordagem teórica baseada num modelo matemático que descreve a evolução do espaço quântico ao longo do tempo e descreve o espaço-tempo como uma rede de nós e laços, os elementos básicos derivados da sua quantização, tal como os átomos são os blocos fundamentais da matéria.
O espaço-tempo deixa de ser um continuum suave, como na Relatividade Geral, para se transformar numa teia de interacções quânticas discretas, a originada pela designada quantização, formada por unidades mínimas, chamadas áreas e volumes quânticos.
Deste modo o espaço tridimensional é representado por redes de spins, que são grafos com arestas rotuladas por números que indicam momentos angulares quânticos que ao evoluírem no tempo adquirem uma estrutura quadridimensional.
Este modelo introduz uma nova visão relativamente à gravidade concebida até agora como uma força, que agora passa a ser descrita como o somatório de histórias evolutivas na gravidade quântica, de maneira similar à formulação dos Diagramas de Feynman na mecânica quântica.
Em vez de partículas definidas por trajectórias clássicas, o espaço-tempo é agora descrito como uma superposição de geometrias possíveis, cada uma representada por uma rede de spins que evolui no tempo. Este modelo vem explicar a origem do Universo por uma emergência de um estado quântico discreto, uma flutuação quântica do vazio, e assim obviar à existência de singularidades, incluindo aquelas atribuídas aos Buracos Negros e evitando a perda da informação quando a matéria é engolida por eles.
A rede de spins descreve pequenos volumes do espaço que estão conectados, o que implica que a estrutura geométrica do espaço-tempo seja devida à existência de um grau de emaranhamento entre os laços de spin cuja evolução no tempo representa a reconstrução dinâmica da geometria do próprio espaço-tempo que pode ser agora entendida como um código quântico, onde o emaranhamento entre regiões da rede de spins age como a cola que mantém o espaço conectado de forma instantânea como fenómeno global de não-localidade. É também explicada de acordo com o Princípio Holográfico que postula que toda a informação pode ser armazenada na fronteira de um volume de espaço geométrico como as redes de spins e o emaranhamento. Esta ideia surge no contexto dos códigos quânticos tensoriais, que mostram que as estruturas geométricas podem emergir de redes de qubits altamente emaranhados. É assim que hoje em dia funciona a tão propalada, mas pouco compreendida, computação quântica.
Se o espaço-tempo emerge de um processo de informação quântica, pode então ser descrito como um código de correcção de erros quânticos. Isso significa que o Universo pode ser visto como um processador de informação quântica (não um computador!), onde a geometria do espaço-tempo mantém uma estrutura estável devido a este processo de codificação quântica, que confere protecção contra a decoerência e “ruído quântico” devido à presença de sistemas físicos ambientais, tornando-o assim robusto face às flutuações quânticas. Assim, as flutuações quânticas do vazio ou do vácuo, que é o mesmo que dizer do espaço-tempo, poderiam ser interpretadas como se fossem resultado de erros que são constantemente corrigidos pela rede de spins e pelas conexões emaranhadas.
Como é sabido, as flutuações quânticas surgem devido ao Princípio da Incerteza de Heisenberg, precisamente porque o vácuo quântico não é realmente vazio, mas cheio de partículas virtuais e de variações aleatórias nos próprios campos quânticos que lá residem. Essas flutuações explicam os fenómenos atribuídos ao Efeito Casimir (atracção entre placas devido a flutuações no vácuo), a já mencionada Radiação Hawking (onde as flutuações quânticas perto do Horizonte de Eventos dos Buracos Negros geram pares partícula-antipartícula), e a Espuma Quântica de Spins (flutuações na própria estrutura do espaço-tempo à escala de Planck). A Gravidade encontraria também aqui a razão da sua existência.
Isto poderá ter um significado mais profundo que se espraia pela natureza material: as partículas subatómicas, os fermiões e os bosões, que constituem a matéria e as forças conhecidas (Força Electromagnética, Forças Nucleares Forte e Fraca) que fazem parte do actual Modelo Padrão, acabam por ser o resultado desta actividade de correcção de erros e de onde literalmente emerge outro fenómeno, a gravidade. O actual conceito de “Filamentos Gravitacionais” surge então das conexões geométricas que emergem da correlação entre diferentes regiões do espaço-tempo e das massas em redor. As flutuações do campo quântico do bosão de Higgs seriam encarregues desta correlação
O bosão de Higgs (erradamente conhecido como a Partícula de Deus), deverá ter um papel nas flutuações quânticas, a que está sujeito sendo um campo quântico, e potencialmente, de forma directa no colapso da função de onda. Esse papel derivará do mecanismo ligado às correcções quânticas de erros, explicando porque a sua massa não é muito maior do que os 125 GeV (o Problema da Hierarquia) e conferindo assim estabilidade e robustez ao tecido do espaço-tempo, e explicando também o aspecto da estrutura cósmica presente evidenciada no Fundo Cósmico de Micro-ondas.
De facto, a mecânica quântica tradicional não explica o como ou o porquê do colapso de onda. Assume apenas que o colapso da função de onda ocorre aquando da interferência da medição.
Propostas (como a de Roger Penrose) sugerem que o colapso da onda está relacionado com a massa ou energia envolvida no sistema quântico (relação dada pela fórmula E=mc2). Como o bosão de Higgs dá massa às partículas, afectará indirectamente a forma como a construção dos sistemas massivos evoluem de estados quânticos para estados clássicos e dar origem ao aparecimento do efeito gravítico. A gravidade não é uma força, mas apenas o espaço-tempo curvado sob a influência dos sistemas massivos, de acordo com a Relatividade Geral.
Apesar de tudo, ainda não há um modelo bem estabelecido, mas o caminho está feito, que ligue directamente o Higgs ao colapso da função de onda, constituindo um dos problemas fundamentais na interpretação da mecânica quântica.
Porém este corpo teórico da Física Quântica encontra eco nas milenares doutrinas védicas. O bosão de Higgs corresponderia ao Antaḥkaraṇa (अन्तःकरण) vedanta, presente como mediador entre o Ternário e o Quaternário na Constituição Septenária teosófica, o interface e ao mesmo tempo veículo que metaforicamente em todas as teogonias é descrito como a queda do espírito na matéria.
Também na cosmogonia védica encontramos conexões profundas com os modelos actuais da cosmologia.
Um dos modelos de correcção de erros quânticos mais conhecido é o código tensorial HaPPY (Holographic Perfect Tensor), baseado na geometria hiperbólica. Fornece um modelo para o espaço-tempo no modelo amplamente aceite do astrofísico Juan Maldecena e conhecido por AdS/CFT – Correspondência Anti-de Sitter/Teoria de Campos Conforme (Anti-de Sitter/Conformal Field Theory). Assume que aquele é construído a partir de qubits entrelaçados que, como vimos anteriormente, torna o Horizonte de Eventos de um Buraco Negro numa região protegida por um código quântico implicando que a informação pode ser recuperada de um Buraco Negro (resolvendo o paradoxo da “Informação de Hawking”).
Ou seja, o próprio espaço-tempo possui uma estrutura redundante, a superposição quântica, permitindo que a mesma informação possa ser armazenada em múltiplos locais dentro daquela estrutura holográfica que lhe é própria.
Esta ideia é muito interessante por dar-nos pistas sobre a origem do Universo.
Sabendo que todas as galáxias possuem um NGA (Núcleo Galáctico Activo) que corresponde a um Buraco Negro Supermassivo (SMBHs), com milhões a mil milhões de massas solares, de onde parece emergir o próprio nascimento da galáxia, leva-nos a pensar que SMBHs e galáxias crescem juntos, partilha esta teorizada como “co-evolução galáctica”, fundamental para o estabelecimento da relação entre a massa de qualquer SMBH e a dispersão das velocidades das estrelas no seu núcleo galáctico.
Aliás, encontramos acordo perfeito com a teoria CCC de Roger Penrose (Cosmologia Cíclica Conforme). Esta foi proposta como uma alternativa ao modelo padrão do Big Bang. A ideia principal é que o universo passa por ciclos sucessivos de expansão e dissolução, chamados de eons (aions). Aqui o fim de um Universo transforma-se no começo de um novo, sem necessidade de um Big Bang com singularidades, mas apenas por reescalonamento da geometria conforme da métrica do espaço-tempo que preserva ângulos, mas não distâncias.
De acordo com a Teoria CCC, num futuro extremamente distante, o Universo torna-se cada vez mais homogéneo, inclusivamente sem partículas massivas, onde predominarão apenas fotões e a dissipação ou evaporação de Buracos Negros através da Radiação Hawking, com isto gerando um novo ciclo (éon) a partir do que era o infinito futuro do éon anterior. Deste modo surgem ciclos infinitos de Universos.
Sir Roger Penrose e colaboradores afirmam ter encontrado padrões circulares no Fundo Cósmico de Micro-ondas (CMB – Cosmic Micro-wave Background) que poderiam ser vestígios da evaporação de Buracos Negros pertencentes a um éon anterior.
Como corolário de toda a informação tratada até agora, constatamos que afinal não estamos longe dos conceitos da geometria pitagórica da Tetraktis, dos sólidos platónicos, e da geometria espacial e temporal das “Correntes de Vida” ou Rondas, carregadas de Informação Quântica pela concepção vedanta e hinduísta da Tríade concebida funcionalmente como um todo (o verdadeiro Gestalt):
- a) Atma (आत्मन्) = Informação quântica pura, o princípio fundamental gerador da Consciência;
- b) Budhi (बुद्धि) = Intelecto ou discernimento que analisa, discrimina e toma decisões “racionais” e tem a capacidade de discernir entre certo e errado, tida como sede da intuição e, portanto, das flutuações quânticas interpretadas e sujeitas a correcção como erros emergentes;
- c) Manas (मनस्) = tida como a mente inferior que recepciona estímulos e impulsos, a geometria holográfica da rede de spins, indutora do fenómeno de não-localidade e de fluxos de emaranhamento.
Como escreveu Erwin Schrodinger “The total number of minds in the universe is one. In fact, consciousness is a singularity phasing within all beings” (Erwin Schrödinger, 1944, “What Is Life? and Other Scientific Essays.”).
Os Upanishads no capítulo VIII, AITAREYA, é-nos dito “Brahman, fonte, sustentação e fim do Universo, participa de todas as fases da existência. Ele acorda com o homem que acorda, sonha com o que sonha e dorme o sono profundo do que dorme sem sonhar; porém ele transcende esses três estados para se tornar ele próprio. Sua verdadeira natureza é a consciência pura.” (7)
E no capítulo MUNDAKA “Como a teia vem da aranha, como as plantas crescem do solo e o cabelo do corpo do homem, assim jorra o Universo do eterno Brahman.
“Brahman quis que fosse assim, e extraiu de si mesmo a causa material do Universo, disso veio a energia primordial; e da energia primordial a mente; da mente os elementos subtis; dos elementos subtis os diversos mundos; e de acções realizadas por seres nos diversos mundos a cadeia de causa e efeito – a recompensa e punição das acções.
“Brahman tudo vê, tudo sabe, ele é o próprio conhecimento. Dele nascem a inteligência cósmica, o nome, a forma, e a causa material de todos os seres criados e das coisas.”
Mas poderíamos ainda recorrer à Estância Segunda do UTTARA GITA (8), o cântico da Iniciação de Arjuna após a batalha de Kurukshetra, descrita no BHAGAVAD GITA: “Este Brahman modelado com Terra dissolve-se na Água; a Água seca-se pelo Fogo; o Fogo é devorado pelo Ar; e o Ar é absorvido por sua vez pelo Akasha.
Mas o mesmo Akasha assemelha-se à mente, a mente a Buddhi, e Buddhi ao Ahankara, o Ahankara ao Chittam e o Chittam ao Atma.”
Em conclusão, e fazendo uso de linguagem moderna dos últimos desenvolvimentos teóricos da ciência, a ligação antevista entre “Espuma de Spins”, emaranhamento e a teoria da Informação Quântica, sugere que o espaço-tempo pode ser uma estrutura emergente, sustentada por padrões de emaranhamento quântico. Por outras palavras, a realidade que percebemos pode ser uma manifestação de redes quânticas de informação, algo parecido com um código quântico cósmico de que o fenómeno gravítico é apenas outra manifestação trabalhada pelo bosão de Higgs.
Esta poderia ser a versão moderna, em linguagem científica, dos Upanishads ou do Bhagavad Gita.
Pela frente temos Eons e Eons de tempo!
Nas tradições filosóficas helenísticas, temporalmente mais próximas, Aion é uma divindade associada ao tempo ilimitado e cíclico, em contraste com Chronos (o tempo cronológico). No contexto Gnóstico os Éons são também entidades divinas, emanadas de uma entidade divina suprema – o Bythos ou o “Abismo”, interfaces entre a dimensão espiritual (o Pleroma) e o material (Kenoma). Partilham a sua actividade na criação do Universo e da Humanidade restabelecendo a harmonia cósmica (o Sattva hinduísta), funcionalmente através de emanações em pares de “sizígias”, masculino-feminino ou Rajas-Tamas no hinduísmo, construção-dissolução, sendo que a mais conhecida é “Pistis Sophia”, a Sabedoria, cuja “queda” teria dado origem ao mundo material.
Em tradições védicas e hinduístas, mais ancestrais, estas temporalidades ganham dimensões quantificáveis. Manvantara ou idade de Brahma ou Manu (Manu no hinduísmo e depois na teosofia é o criador de universos, mas também um período astronómico) deriva de “Manuantara“, “Manu-antara” ou “Manvantara” e significa, literalmente, a duração de Manu, ou a duração da sua vida.
Assim, um dia e uma noite de Brahma corresponde a um ciclo Manvantárico e um Pralaya, ou seja, de construção e dissolução que corresponde a 8 640 000 000 anos terrestres, o que se aproxima dos valores calculados para a idade do Sistema Solar que é entre 4 571 000 000 e 5 000 000 000 de anos.
Multiplicar este valor por 365, que é o número de dias num ano, equivale a um ano de Brahma equivalente a 3 110 400 000 000 anos, enquanto um Maha Kalpa que é uma época ou Ciclo de Brahma é aquele valor multiplicado por 100 (ou 311 040 000 000 000 anos) e que segundo Helena Blavatsky corresponde aos períodos de actividade crescente (Maha manvantara) e decrescente (Maha pralaya) do Universo – a vida de Brahma.
Presentemente a Cosmologia estima que o nosso Universo tenha uma dimensão de 94 mil milhões de anos-luz e estará sempre em expansão, à velocidade da luz. A idade atribuída à nossa galáxia que é tão antiga quanto o Universo é cerca de 14 mil milhões de anos. Logo aqueles valores da doutrina teosófica superam em muito as nossas estimativas actuais, mas são valores a considerar numa teoria como aquela defendida por Roger Penrose, a CCC – Cosmologia Cíclica Conforme, em que os Universos surgem de outros antecedentes, acompanhando, como já vimos, a ideia de ciclos contínuos de construção e dissolução.
É estonteante a imensa e complexa estrutura de sistemas elaborados pelas antigas doutrinas védicas, expressa nas Estâncias de Dzyan, presentes nos Puranas, vertidas nos Upanishads, e reflectidas no Bhagavad Gita. Nelas se basearam posteriormente as diversas escolas Teosóficas, para explicar o surgimento do Universo, a sua natureza e a sua evolução. Contudo, de forma genérica, como verificámos, existem pontos comuns entre os conhecimentos científicos actuais e aquelas elaboradas teorias axiomáticas.
Porém nunca encontrámos “humanidades” anteriores.
Neste aspecto, a hipótese da existência de outras humanidades ou de outros seres vivos ao tempo da formação inicial do nosso planeta, poderá encontrar eco nas explicações dadas pela teoria do deslocamento das placas tectónicas terrestres.
A recente descoberta de autênticos continentes de magma no interior da Terra está ligada ao estudo das chamadas “províncias de baixa velocidade de cisalhamento” (LLSVPs, na sigla em inglês), que são vastas regiões no manto inferior onde as ondas sísmicas se propagam mais lentamente. Essas estruturas podem ser interpretadas como regiões de rocha parcialmente fundida ou diferente na sua composição em relação ao restante do manto.
Tem-se por adquirido que o movimento das placas tectónicas influencia directamente a dinâmica do manto terrestre. Quando as placas oceânicas afundam em zonas de subducção, carregam o material frio para o interior do planeta, afectando a convecção do manto e potencialmente alimentando essas regiões profundas de magma. Deste modo criam-se as grandes plumas mantélicas conhecidas, que dão origem a vulcanismos intensos, como os hotspots de que são exemplos o Hawai e a Islândia.
Estes gigantescos processos geodinâmicos apagam em milhões de anos tudo o que tiver existido em fases iniciais da formação planetária. Se alguma proto-humanidade tiver existido, sob formas orgânicas semelhantes ou diferentes às nossas conhecidas, todos os indícios terão desaparecido. A interacção dessas regiões com a convecção do manto pode inclusivamente afectar o movimento das placas tectónicas e a formação de supercontinentes no futuro.
Somos insignificantes sobre este orbe terrestre. Em nossa ajuda vem aquilo que se pensa saber actualmente da escala temporal terrestre com 4,5 mil milhões de anos e dos primórdios da existência humana:
- a) Que os ancestrais da linha humana (os hominídeos), terão eventualmente aparecido apenas há 7 milhões de anos, isso representa apenas 0,0015% da história da presença humana no nosso planeta. Se a história da Terra fosse resumida a um dia de 24 horas, os hominídeos teriam aparecido às 23:59:59 horas, nas últimas fracções do último segundo.
- b) Que se incluirmos o genus Homo (Homo habilis com uma antiguidade em redor dos 2,8 milhões de anos), a percentagem retrocede para 0,0006% da história terrestre.
- c) Mas, se compararmos com a época dos dinossauros, 165 milhões de anos, representará uma infinitésima fracção de tempo.
Será que a dinâmica planetária não gerou outras oportunidades de “Correntes de Vida” ou Rondas? Engolidas pela frenética actividade geológica terrestre daqueles tempos de renovação e consolidação, e agora convertidas em magmas nos LLSVPs, aonde perdemos qualquer hipótese de verificação e confirmação científica?
De facto, esta ideia adquiriu substância em 2018, quando dois investigadores, nomeadamente Gavin Schmidt, director do Instituto Goddard e Adam Frank, astrofísico da Universidade de Rochester, sugeriram aquilo que ficou conhecida por Hipótese Siluriana (6), sobre a possível existência no nosso planeta há milhões de anos de uma civilização relativamente avançada. Tal hipótese não afirma que tal civilização tenha existido. Apenas constrói hipóteses de como poderíamos cientificamente detectar sinais de uma sociedade tecnologicamente próxima daquilo que poderiam ter sido, por exemplo, os estágios tecnológicos similares aos dos Séculos XVII ou XVIII, e que poderiam ter desaparecido completamente da memória actual da nossa civilização. Se uma civilização minimamente avançada tivesse surgido antes, digamos, há 100 milhões de anos, a maior parte das evidências físicas (como cidades e tecnologia) já teriam sido apagadas pela erosão, pela subducção tectónica e por outros processos geológicos. De facto, para além de alguns milhões de anos, tornam-se raros os registos geológicos acedíveis, e poucos fósseis não têm qualquer probabilidade de preservação. Também desapareceriam aquilo que poderia constituir fontes de pesquisa credível nos registos geológicos, como picos incomuns de CO₂ ou isótopos alterados, depósitos residuais de materiais sintéticos (ligas metálicas e outros materiais derivados de actividades industriais ou de mineração) ou algum impacto como uma extinção em massa semelhante àquela do Antropoceno.
Na verdade, o que hoje constatamos é que o Modelo Padrão da Física das Partículas não está completo; que se equacionam novos campos quânticos ligados à quantização do próprio espaço-tempo e da gravidade, numa tentativa de unificação urgente da Relatividade Geral com a Física Quântica; que a Consciência seja um constructo de per si, o motor fundamental na arquitectura do Cosmos; que o Big Bang esteja posto em causa pelas evidências observacionais profundas do telescópio James Webb; que mais de 90% dos constituintes do Universo, referidos como Matéria Escura e Energia Escura, não são conhecidos (aqui a escuridão só reflecte a nossa ignorância); que a história da humanidade tem retrocedido a par e passo com novas e impactantes descobertas arqueológicas (por exemplo Gobleki Tepe e a ligação ao impacto da última pequena idade do gelo do Younger Dryas); e que por conseguinte, a Cosmologia e a Astrofísica, bem como muitas outras ciências, enfrentam crises de crescimento, como nunca antes presenciadas, sendo que a cada passo dado na investigação em todos estes quadrantes do conhecimento surgem mais perguntas que soluções.
Afinal, a Ciência no seu melhor!

Figura 6 – Ilustra a tectónica de placas na formação planetária, Bennu’s Journey, Early Earth. Creative Commons
Sendo Açoriano, não poderia deixar de citar Antero de Quental (1842-1891). No soneto Evolução, expressa magistralmente o percurso da Monada Humana pelos vários Reinos Naturais até ser o que é hoje. É a doutrina teosófica da Evolução, influenciado pelas obras de Helena Blavatsky e do 1º Visconde de Figanière (1827-1908), Frederico Francisco Stuart de Figanière e Morão, considerado um dos fundadores da actual Teosofia Portuguesa, admirador e amigo chegado de H. P. Blavatsky, primo de Serpa Pinto, explorador das savanas africanas):
Fui rocha em tempo, e fui no mundo antigo
tronco ou ramo na incógnita floresta…
Onda, espumei, quebrando-me na aresta
Do granito, antiquíssimo inimigo…
Rugi, fera talvez, buscando abrigo
Na caverna que ensombra urze e giesta;
O, monstro primitivo, ergui a testa
No limoso paúl, glauco pascigo…
Hoje sou homem, e na sombra enorme
Vejo, a meus pés, a escada multiforme,
Que desce, em espirais, da imensidade…
Interrogo o infinito e às vezes choro…
Mas estendendo as mãos no vácuo, adoro
E aspiro unicamente à liberdade
Antero de Quental, in “Sonetos”
Foi nosso propósito deixar pistas para futura reflexão, sabendo que a verdade de hoje é a ignorância do futuro, parafraseando Helena P. Blavatsky.
João Porto, em Ponta Delgada
20 de Fevereiro de 2025
Notas e Bibliografia
(1) L. Pianiet al., Science 369, 1110 (2020).
(2) Briony H.N. Horgan, Ryan B. Anderson, Gilles Dromart, Elena S. Amador, Melissa S. Rice, The mineral diversity of Jezero crater: Evidence for possible lacustrine carbonates on Mars, Icarus, Volume 339, 2020.
(3) Chyba C, Sagan C (1992) Endogenous production, exogenous delivery and impactshock synthesis of organic molecules: An inventory for the origins of life. Nature 355:125–132.
(4) Helena P. Blavatsky, Doutrina Secreta, Volume II, Editora Pensamento, São Paulo.
(5) Deity, Cosmos and Man by Geoffrey Farthing, Published in the late 1900’s, Edição Digital.
(6) OS UPANISHADS, Sopro Vital do Eterno, de acordo com a versão inglesa de SWAMI PRABAHVANANDA e FREDERICK MANCHESTER, Editorial Pensamento.
(7) UTTARA GITA (Iniciação de Arjuna), VYASA, Traduzido do sânscrito para o inglês por D. R. Laheri e do inglês para o castelhano por Federico Climent Terrer, versão digital em PDF.
(8) Schmidt GA, Frank A. The Silurian hypothesis: would it be possible to detect an industrial civilization in the geological record? International Journal of Astrobiology. 2019;18(2):142-150. doi:10.1017/S1473550418000095.
Imagem de destaque: 1- Nebulosa planetária de Formiga. A ejecção de gás da estrela no centro da imagem tem padrões de simetria diferentes dos padrões caóticos esperados para uma explosão ordinária. Domínio Público