É consensual que a vida só é possível com a presença de um solvente universal conhecido como água, aquele que é um dos elementos principais considerados pela alquimia, mediador entre os elementos etéreos Fogo/Ar e a Terra, o elemento material. A água, quimicamente conhecida pela fórmula molecular H2O, tem uma estrutura constituída por dois átomos de hidrogénio e um de oxigénio partilhando entre si os seus electrões e formando uma ligação geometricamente assimétrica de 104,50. A partilha faz-se entre o electrão do hidrogénio com um electrão do oxigénio, criando as denominadas ligações covalentes. No entanto os campos orbitais dos electrões dos átomos de hidrogénio encontram-se sempre deslocados pela forte atração do núcleo positivo do átomo de oxigénio o que cria uma polaridade molecular, apesar de globalmente a água ser uma molécula neutra. Este aspecto dipolar faz com que as moléculas de água se alinhem entre si formando as pontes de hidrogénio cuja presença permite à água funcionar como agregador de moléculas orgânicas mais complexas, como aquelas pertencentes à classe das proteínas, enzimas, nucleotídeos, açúcares e mesmo o próprio ADN, sendo que todas elas apresentam também polaridade (moléculas hidrófilas). São também estas pontes de hidrogénio que autorizam a água no seu estado sólido, quando congela, a assumir uma estrutura semi-cristalina hexagonal formada por 4 pontes de hidrogénio.
A água como solvente universal, pelas suas propriedades de coesão e adesão, conferida pelas tais pontes de hidrogénio, apresenta-se como a solução natural e sustentável encontrada pelo Universo onde abundam o hidrogénio em primeiro lugar (92%), seguido pelo hélio (7,1%) e em terceiro lugar o oxigénio (0,1%), apesar de raramente se encontrar na sua forma molecular O2, devido precisamente ao facto de espontaneamente se ligar ao hidrogénio formando água. Por essa razão a água é tão abundante em todo o Universo sob a forma de gelo intersticial nos agregados de poeiras interestelares.
O Oxigénio que tem a sua origem no final do processo de combustão do hélio, reacções de fusão dominantes no interior das estrelas massivas através do ciclo CNO-I (Carbono-Azoto-Oxigénio), torna-se assim o elemento preferencial para síntese da água.
Curiosamente o HeH+ (hidreto de hélio), carregado positivamente, é a primeira molécula conhecida a ser formada no universo, cerca de 380.000 anos após aquilo que se considerava ser o Big Bang, num período conhecido como época de recombinação e que irá posteriormente dar origem às primeiras estrelas. Este esquema de momento continua a ser fiável apesar de o Big Bang ter sido posto em causa pelas últimas observações do telescópio espacial James Webb.
Façamos uma rápida viagem pela história conhecida até agora dos planetas telúricos do Sistema Solar e pela lua da Terra.
Na Terra, no éon Arqueano, um período geológico compreendido aproximadamente entre 3,85 e 2,5 mil milhões de anos, o nosso planeta era totalmente coberto por oceanos. Um estudo das rochas australianas datadas desse período geológico, revelaram ainda que os oceanos arcaicos tinham uma presença do isótopo pesado O18 muito superior aos actuais oceanos. Na África do Sul em Barberton Greenstone Belt, onde existem algumas das mais antigas rochas na Terra, os geólogos Maarten De Wit e Harald Furnes estudaram uma espécie de sílica chamada “chert” (uma variedade de quartzo) cuja formação é atribuída a grandes profundidades sob água onde predominariam fontes hidrotermais, concluindo que há cerca de 3,5 mil milhões de anos, os oceanos da Terra foram relativamente frios, e não inospitamente quentes como se pensava anteriormente (1). Surgem assim evidências geoquímicas e paleomagnéticas de que ao longo dos últimos 3,5 mil milhões de anos, a Terra tem permanecido dentro de uma faixa de temperatura favorável à vida.
Pela mesma altura, Marte tinha 36% da sua superfície coberta por oceanos e possuía um ciclo hidrológico de acordo com estudos recentes da Universidade do Colorado nos EUA e das missões da NASA naquele planeta nomeadamente a MRO – Mars Reconnaissance Orbiter (NASA/MRO/Horgan et al. 2019).

Figura 1 – Marte, carbonatos marginais destacados em vermelho. NASA, MRO, Horganet al. 2019
A recente descoberta de carbonatos na beira de extintos lagos (caso da área geológica da cratera Jezero) (2), e de depósitos de sílica hidratada no fundo do delta durante o período Noachiano, o primeiro período geológico de Marte e que teve o seu término há cerca de 3,5 mil milhões de anos, parece confirmar as suspeitas de vida arcaica no planeta. Naquela época Marte tinha um clima relativamente húmido e uma atmosfera rica em dióxido de carbono (CO2). Os carbonatos só se formam quando rochas e água reagem com o CO2. Como é do domínio público, a investigação no terreno prossegue, já que encontrar água líquida em Marte foi um dos principais objectivos do programa da NASA, sendo que tal hipótese no entretanto foi já confirmada. A hipótese inicial era de que a água ocorresse sob a forma de água salgada com sais de perclorato (compostos de cloro e oxigénio) que reduzem o ponto de congelamento da água fazendo com que permaneça líquida apesar das temperaturas congelantes de Marte atingirem em média -63°C.
Quanto a Vénus, tinha oceanos e atmosferas onde preponderavam a água, o azoto e o oxigénio. A recente detecção de gás fosfina (PH3), caracterizada por ser por excelência a bio assinatura da vida, poderá ser um indício da existência de vida antiga que adquiriu formas biológicas adaptadas às condições das camadas externas da atmosfera venusiana onde persistem temperaturas propícias à vida microbiológica actual (180 C). É verdade que a fosfina foi detectada na década de 70 do século passado em Júpiter e Saturno, onde se formou nas camadas mais internas das suas atmosferas. Mas, só a presença de calor e da pressão do hidrogénio muito grandes, favoreceram a produção abiótica de fosfina, condições extremas não verificáveis em Vénus. A síntese de fosfina fora de condições extremas implica fornecimento contínuo de muita energia o que só é possível pela via biológica como na Terra.
Lembremo-nos que Carl Sagan e Harold Morowitz sugeriram em 1967 formas de vida num cenário envolvendo “balões ecológicos” flutuando entre as nuvens, metabolizando água e minerais.
De encontro a esta ideia, simulações feitas em computador sobre a história climática de Vénus, pelo Instituto Goddard de Ciência Espacial da NASA, mostraram que até há bem pouco tempo (cerca de 715 milhões de anos) as temperaturas podiam ter variado entre 20 e 50 °C, suficientemente frias para a existência de água líquida formando extensos oceanos por 2 a 3 mil milhões de anos, sugerindo que a vida poderia ter evoluído naquele planeta.
No entanto a crosta terrestre de Vénus é espessa e sem sinal de tectonicidade e o planeta não tem basicamente campo magnético o que deverá ter contribuído de forma irredutível para a sua situação actual.
A presença de água em Vénus, Terra e Marte está também de acordo com a teoria geral da formação do sistema solar e em particular dos planetas telúricos a partir do gás nebular original. Enquanto os planetas exteriores e gigantes como Júpiter, Saturno, Úrano e Neptuno, arredados da influência radioativa do Sol tinham condições para acumular a água presente na nebulosa primordial, os três planetas telúricos não tinham essa hipótese. A composição isotópica da Terra indica que os principais blocos de construção dos planetas rochosos são materiais semelhantes a enstatita condrite dos asteróides e cometas cuja concentração em água e as relações entre o deutério e o hidrogénio (D/H) correspondem às da Terra (3).
Assim, a probabilidade do surgimento da vida deve ter sido transversal aos planetas telúricos. Contudo a Terra poderá ter sido o local preferido, dado que um acontecimento inesperado poderia ter acelerado ou mesmo justificado o aparecimento de vida. Um corpo planetesimal gelado que se encontrava na mesma órbita do que a Terra, num ponto de Lagrange L4, viria a fazer pender o prato da balança no que respeita à presença da água.
Theia colidiu com a Terra há 4,5 mil milhões de anos e trouxe mais água. Para além de outros factores estabilizadores. Dessa colisão iria resultar a Lua, como massa arrancada ao nosso próprio planeta e em quantidade suficiente para formar um futuro corpo esferóide – a Lua é a nossa antiga Terra. A assimilação pela Terra de uma parte de Theia foi extremamente importante para que o material metálico dos dois fosse unido e se estabilizasse no centro do nosso planeta, caso contrário a Terra seria apenas uma estrutura rochosa estérea muito semelhante a Vénus, sem um campo magnético e sem placas tectónicas. Por outro lado, a presença do efeito gravitacional da Lua induziu a uma oscilação muito pequena do eixo da Terra à medida que evolui em torno do Sol, diferente do que parece ter acontecido com Marte que é orbitado por apenas dois asteróides capturados, para além de ter perdido o seu campo magnético e deste modo a protecção aos raios cósmicos e aos ventos solares que assim lhe arrancaram a atmosfera, precisamente numa época em que o Sol, mais jovem, era mais activo.
A vida na Terra surgiu entre 3,5 e 4,5 mil milhões de anos, corolário provável de um conjunto de “homeostasias” como a nova força exercida pela gravidade de uma lua, a sua protecção em parte ao bombardeamento meteorítico tardio e a estabilidade magnética da Terra e do seu eixo em que o clima passa a ser regulado por estações. Na Terra, alguns dos fósseis mais antigos são estromatólitos datando para cima de 3,5 mil milhões de anos. Os estromatólitos são estruturas estratificadas formadas por camadas de cianobactérias.
A descoberta de que os sistemas naturais podem conduzir a reacções electroquímicas entre os minerais e o líquido circundante tem implicações importantes para o campo da astrobiologia, indicando que em qualquer lugar a presença de salmouras (água e sais) e de rochas ígneas poderão conduzir às condições necessárias ao aparecimento da vida. Tais eram as condições presentes nas fontes hidrotermais nas profundidades oceânicas como à superfície terrestre nas lagoas quentes pela actividade vulcânica na Terra Arqueana pré-biótica, onde os componentes essenciais dos nucleotídeos, plasmados primeiramente nos polímeros de RNA, fornecidos por meteoritos carbonáceos, aumentavam de concentração através de fenómenos de precipitação, evaporação e infiltração em ciclos contínuos de fases húmidas e secas. Estas condições seriam o catalisador que levaria à ligação dos blocos de construção molecular básicos e que dariam nascimento ao primeiro código genético que garantiria a replicação das primeiras protocélulas (3).
Podemos concluir, com alguma segurança, que o aparecimento da vida foi transversal e simultâneo nos três planetas entre 3 e 4,5 mil milhões de anos porque existiriam as condições necessárias e suficientes para tal. O seu surgimento foi relativamente rápido, pois acredita-se que teria levado cerca de 550 milhões de anos a surgir no nosso planeta, ou seja, o período de tempo que medeia entre a formação da Terra (4,5 mil milhões de anos) e o primeiro registo biogénico conhecido – LUCA (Last Universal Common Ancestor). Iremos assumir que o mesmo se tenha passado tanto em Vénus como em Marte.

Figura 2 – Um cladograma juntando todos os grupos principais de seres vivos ao Último Ancestral Comum (o tronco preto na parte inferior do diagrama). Este gráfico foi construído a partir de sequências de RNA ribossomal. Domínio Público
Chegámos agora a um ponto do nosso conhecimento que nos possibilita explorar e estabelecer eventualmente linhas de aproximação com doutrinas muito antigas, sobre a evolução da vida planetária, nomeadamente daquelas defendidas pela Teosofia e por Helena Blavatsky na sua Doutrina Secreta (4) nos respectivos volumes da Cosmogénese e da Antropogénese.
Começaremos por tentar expor de forma sucinta e simples a estrutura do corpo desta doutrina quanto a este assunto.
Na Teosofia, a evolução planetária gira em torno do conceito das Rondas que está relacionado ao ciclo evolutivo dos Globos planetários e de múltiplas Humanidades. Segundo essa visão esotérica, o desenvolvimento da vida ocorre em vastos períodos de tempo, seguindo um esquema cíclico de evolução espiritual e material.
O conceito ligado à Constituição Septenária estende-se aqui à evolução planetária quando atribui a cada corpo do sistema solar, sob a designação de Globo, a existência simultânea de sete dimensões ou Globos que se desenvolvem numa sequência ou Cadeia formando uma chamada “Corrente de Vida”. Desta sequência de Globos apenas um se torna materialmente visível.
De acordo com a Teosofia, a Terra faz parte de uma Cadeia Planetária de Sete Globos, onde a vida evolui passando por cada um deles em sucessivas Rondas. Cada Ronda representa um ciclo completo no qual desenvolvem-se outras formas de vida e a própria humanidade, evoluindo em progressivos níveis de existência.
Este conceito evolutivo envolve três sistemas concatenados, que iremos descrever, e estende-se sobretudo aos planetas telúricos do Sistema Solar:
- a) Os Globos em número de sete, que tal como a Constituição Septenária humana remete a sua origem ao Modelo Padrão da Física das Partículas, como já propusemos noutras exposições nossas, e assim, serem indexados aos três campos quânticos mais a matéria fermiónica que aqueles estruturam, – o designado Quaternário, a saber a Força Electromagnética, Força Nuclear Forte e Força Nuclear Fraca, e ainda o Ternário de campos quânticos covariantes, ainda desconhecidos mas cada vez mais levados em conta pela Ciência. No seu conjunto, distribuídos temporalmente por quatro níveis de actividade (o efeito do tempo sempre na ordem de mil milhões de anos, na acumulação e consequente aprimoração das características evolutivas), são também conhecidos pelas tradições ocultistas pelos símbolos alquímicos de Terra, Água, Ar e Fogo.
Na prática este sistema das Cadeias implica que em cada Ronda se verifiquem processos de construção e destruição, sintropia e entropia, Rajas e Tamas na filosofia hinduísta, em que aquelas referidas forças do Modelo Padrão tem um papel fundamental e reconhecido na formação planetária. Estas têm em cada Ronda o corolário da sua actividade no Globo D, manifesto no planeta materialmente visível, onde as forças se mantêm em equilíbrio, o aspecto hinduísta Sattva, fundamental ao surgimento de humanidades através das quais a Consciência (existente no entanto desde as origens) vai evoluir progressivamente para patamares superiores.
- b) As Cadeias também estruturadas em ciclos de sete onde o percurso de cada uma define ou activa uma Ronda, na sua totalidade criando assim sete Rondas, em que são percorridos 49 Globos (7×7). Ao completar-se uma Ronda, o mesmo é dizer o percurso de uma Cadeia, vão se actualizando as propriedades inerentes às características evolutivas internas dos Globos. Ou seja, na primeira Ronda são percorridos todos os Globos, na segunda Ronda não se passa pelo Globo A, na terceira Ronda não se percorrem os Globos A e B e assim por diante, como se no avanço de cada Ronda os processos dos Globos anteriores tivessem sido assumidos e se apresentassem actualizados ou adquiridos. Um aspecto importante no funcionamento da Natureza: sustentabilidade com economia de recursos. Assim o Globo D, único que se revela na dimensão material em todas as cadeias planetárias, assume a evolução e os estados dos restantes seis e passa a ser um Globo de charneira na respectiva Cadeia que se desenvolve em determinado éon. Os Puranas hinduístas designam os Globos por Dvipas sendo a Terra conhecida por Jambudvipa.
- c) Finalmente, cada Globo é constituído por sete fases evolutivas (Raças ou Humanidades) sendo que estas por sua vez se desdobram em sete outras sub-fases cíclicas evolutivas (designadas pela Teosofia como Sub-raças). Globalmente o sistema evolutivo é definido por um esquema temporal de 7x7x7 = 343 que atira a origem da Humanidade para uma antiguidade de éons de tempo realizada em Globos (corpos planetários) de diversas características e dimensões.
Como a doutrina postula que cada planeta evolui durante sete Rondas, no nosso caso estará o planeta Terra a atravessar o período correspondente à 4ª Ronda.

Diagrama I – Diagrama interpretativo de Globos terrestres baseado em Geoffrey Farthing (5). Upadhi significa veículo
Esta estrutura toma por base que cada planeta é um organismo vivo (podemos considerá-lo próximo do conceito Gaia) que durante éons de tempo evolui desde uma forma não física (A, B e C), no sentido em que resulta da interacção das forças nucleares fracas e fortes, do decaimento radioactivo, bem como das potentes forças electromagnéticas que estão presentes no início da formação planetária, passando depois pela forma densa (D), a agregação de matéria que origina o próprio planeta até atingir, éons depois, passados que foram muitos mil milhões de anos, formas, considerados pela doutrina de desenvolvimento “subtil”, onde despontam forças, que atribuímos aos campos quânticos covariantes (G).
Em conclusão:
- a) Sete Globos: A vida evolui em sete Globos, quatro materiais e três tidos por mais “subtis”. Aqui consideramos os Globos as fases de formação e evolução diferenciada do planeta.
- b) Sete Rondas: Em cada Ronda, outras formas de vida e finalmente a humanidade, passam por todos os sete Globos.
- c) Cada Ronda traz consigo um salto evolutivo: A cada ciclo, a consciência e a forma física evoluem para níveis mais elevados de desenvolvimento.
- d) Actualmente, estamos na Quarta Ronda: Segundo a doutrina teosófica, a humanidade está presentemente na quarta Ronda, vivendo no Globo da fase D (a Terra).
Por mais inacreditável que pareça, este diagrama e os conceitos nele expresso têm a ver de certo modo com a evolução biogénica conhecida hoje e que anteriormente expusemos.
A formação planetária, de acordo com a Teosofia e outras tradições esotéricas hinduístas, é dividida em seis fases que envolvem tanto 4 aspectos físicos já referidos (correspondentes a Stula Sharira, Prana Sharira, Linga Sharira e Kama-Manas) quanto a 3 espirituais (Manas, Budhi e Atma), que consideramos serem campos quânticos covariantes, e dos quais tencionamos consolidar ideias mais à frente.
As seis fases podem ser descritas da seguinte forma:
- Fase de Formação ou “Período de Incubação”
O planeta inicia a sua formação a partir de uma nuvem de gás e poeira interestelar, onde a gravidade, por imposição do espaço-tempo curvo na presença progressiva de massas por aglomeração da matéria, começa a formar um corpo mais sólido. “Espiritualmente”, essa fase é descrita como um período em que as energias da matéria densa começam a se manifestar com os processos de decaimento radioactivo dos átomos e onde as interacções nucleares forte e fraca participam da fissão nuclear e da fusão nuclear.
- Fase Protoplanetária
Em termos físicos o planeta apresenta-se num estado primitivo que se traduz na formação da sua crosta e nas condições iniciais propícias para o surgimento da vida. Em termos “espirituais”, é o momento em que os “elementais” ou as forças electromagnéticas decorrentes do campo magnético do planeta, em conjunto com a acção do vento solar e as condições geomorfológicas começam a moldar a matéria de inorgânica para complexos orgânicos próprios do processo da biogénese. Nesta fase as correntes de Birkeland desempenham um papel importante. Constituem fluxos de partículas carregadas (plasmas) que seguem as linhas do campo magnético e podem ligar diferentes corpos celestes, como o Sol e a Terra, ou até galáxias inteiras.
- Fase de Evolução
O planeta passa por uma fase de evolução rápida, tanto de crescente organização orgânica (material) quanto da emergência dos primeiros sistemas ligados à actividade sensorial e senciente (espiritual). Constrói-se a capacidade dos primeiros organismos serem afectados positiva ou negativamente. É a capacidade de ter experiências e da selecção natural inteligente. Não é a mera capacidade para perceber um estímulo ou reagir a uma dada acção, como no caso de uma máquina. Deste modo, os primeiros organismos unicelulares iniciam a evolução “espiritual” percorrendo futuramente cadeias de aprendizagem e desenvolvimento de consciência sempre mais complexas.
- Fase de Consolidação
O planeta transforma-se num local habitável, e as formas de vida começam a diversificar-se por razões das experiências que desenvolvem. Em termos “espirituais”, essa fase é associada ao surgimento das designadas “Raças” e “Sub-raças”, espelho de diferentes condições sencientes e que impõem o desenvolvimento dos órgãos neurológicos mais complexos.
- Fase de Desintegração
Com maior ou menor probabilidade, o planeta passará por processos de destruição ou desintegração, seja por causas cósmicas (como colisões com outros corpos celestes, no caso da Terra, a colisão com o protoplaneta Theia que origina a formação da Lua) ou por uma evolução natural de seu ciclo de vida. Este é o considerado período de descanso ou “Pralaya” com o retorno a um estado mais “subtil”, precursor de um novo ciclo ou de uma nova Ronda.
- Período de “Pralaya”
O planeta entra num período de regeneração, onde as condições anteriores relativas à consciência e à matéria entram num novo ciclo de manifestação. Esse estado é uma pausa de reflexão e reorganização “espiritual”. Os impactos têm sempre este condão de provocar saltos qualitativos.
Podemos dizer que a evolução do planeta obedece aos designados “planos de manifestação”, onde por exemplo o “Plano Físico” da Terra (a matéria fermiónica corporizada pelas leis físicas conhecidas que a regem) ocorre nas três primeira fases da Cadeia (A, B e C), mas sobretudo no presente éon (D), não deixando, no entanto e logicamente, de evoluir em outros planos representados pelos Globos antecedentes (fase descendente do diagrama I). É uma ideia muito interessante, face ao desconhecimento ao tempo dos processos nucleares internos das estrelas e da formação planetária. Esta integração dos Globos, numa concepção aparente do espaço ocupado simultaneamente por três campos de natureza quântica e de outros futuros três que nesta actual Ronda da Terra ainda não existem, por não se ter esta Cadeia ainda completado. No entanto já coexistem, como existências sencientes adimensionais, derivados de Cadeias temporalmente anteriores nos seus processos evolutivos mais tardios (fases ascendentes).
Como disse Antoine Lavoisier (1743-1794), fundador da Química moderna, “Nada se perde, tudo se transforma”.
Assim, as 3 dimensões iniciais referidas no II Diagrama, integradas nos “Planos da Manifestação”, poderiam ser consideradas como sendo de natureza idêntica aos campos quânticos, a saber o campo electromagnético (no diagrama a fase C) que está ligado presentemente aos efeitos dos campos eléctricos e magnéticos terrestres, o campo das forças fracas, (B) ligado aos fenómenos de decaimento radioactivo gerador do calor interno do planeta, controlando o “humor” do planeta através da sua actividade vulcânica e tectonicidade, e finalmente o campo das forças nucleares fortes que substancialmente mantêm o planeta coeso como um corpo único (A).

Diagrama II – Comparação entre os princípios da constituição Septenária no Homem e na formação planetária. Baseado em Geoffrey Farthing (5)
Neste corpo doutrinário, a Humanidade evolui de acordo com as Rondas sendo atribuída a noção de Raça, que nada têm a ver com o conceito racial, aos estádios evolutivos da espécie em que as características espirituais seriam cada vez mais apuradas, despertando as nossas capacidades internas e presentemente pouco evidentes. Assim, segundo a doutrina teosófica estaríamos actualmente, e maioritariamente, a atingir a 5º Raça, a Ariana. A 3ª Raça teria sido a do continente Lemuriano (os recentes descobertos Hobbit da ilha das Flores na Indonésia ou o Homo luzonensis nas Filipinas seriam os seus descendentes) e a 4ª, aquela relativa aos gigantes do continente da Atlântida descrito por Platão e possíveis construtores do megalitismo presente em todas as antigas civilizações da Terra e referidas nas suas mitologias.
Fundamentalmente esta concepção da Vida e da sua natureza não atribui propriamente uma origem ou começo, muito menos a um acto de criação, mas um ciclo contínuo de transformação onde a existência de um vector na evolução define os impulsos internos da própria natureza, talvez resultado de uma dimensão arquetípica – uma Mente Universal. Deste modo, a Terra e os restantes planetas pré-existiram sob a forma de Globos fisicamente ou materialmente invisíveis (em dimensões de correntes de plasma e electromagnéticas) antes mesmo da formação material do Sistema Solar. Pressupõe-se então, que a actual existência física dos planetas foi antecedida por formas não materiais (no sentido fermiónico do termo) onde deveriam prevalecer campos quânticos que definiriam o futuro da sua natureza.
Não deixa de ser uma teoria absolutamente inovadora e que se enquadraria sem dificuldade nas actuais hipóteses da Cosmologia e da Astrofísica, nomeadamente da Astronomia Planetária, vindo de certo modo ao encontro dos problemas enfrentados pela actual crise nestas ciências.
Ponto de possível encontro entre a ciência e estes conceitos teosóficos é o postulado compartilhado do aparecimento simultâneo da vida em diversos corpos planetários no sistema solar. Vejamos então.
Segundo este esquema, que foi basear-se nas milenares Estâncias de Dzyan, na Cabala Hebraica e no Budismo do Norte, primeiramente tem formação o planeta não-material (fases A e B) pelo surgimento de extensos campos toroidais eléctricos (os conceitos Fohat e Jiva) criados pelos vórtices de plasma das ejecções de material coronal da estrela em formação (o Sol).
A agregação de material nebular em consonância com estes campos toroidais, conduzem à formação de um corpo esferóide, e só depois de existir massa crítica necessária se inicia o processo de criação do campo toroidal magnético interno (fase C) – seja pelo crescimento acelerado de um núcleo metálico de ferro e níquel, seja pela criação de bolsas magmáticas e circulação de fluidos magmáticos internos e mais tarde pelo surgimento de um sistema de placas tectónicas.
Inicia-se a actividade vulcânica nesta fase que é a expressão maior deste Globo onde se criam as condições bióticas para o aparecimento da vida (fase D).
Todas estas fases duram éons de tempo – Manvantaras e Pralayas planetários, sobre as quais nos iremos debruçar mais à frente.
Ora é sabido que Vénus possuiu oceanos e um campo magnético forte tendo havido condições para ter surgido vida, que logo desapareceu pelo atroz efeito de estufa. É o planeta mais antigo a manifestar vida e encontra-se na 5ª Ronda, segundo a Teosofia. O futuro longínquo da Terra, que se encontra na 4ª Ronda, será então algo semelhante ao actual ambiente venusiano?
Marte teria 1/3 da sua superfície ocupada por oceanos, uma ténue atmosfera, mais densa que a actual, mas um campo magnético extremamente fraco que não protegeu as primeiras formas de vida. No entanto, presentemente situa-se na 4ª Ronda.
A Terra, ao ter sido impactada pelo protoplaneta Theia, adquire um núcleo interno, um acréscimo significativo do solvente universal (a água), placas tectónicas, ganha uma lua que cria sinergias com o planeta e tem assim condições para que a vida vingue e evolua estando na 4ª Cadeia assim como Marte. Seria, portanto, possível voltar a acelerar o aparecimento de vida em Marte, talvez pelo processo de “terraformação” de acordo com alguns projectos ficcionistas actuais de engenharia planetária.
Segundo a Teosofia a Lua é definida como um resíduo de Globo muito maior, que foi o planeta físico da 3ª Cadeia mantendo a mesma posição na 3ª Cadeia que aquela mantida pela Terra na 4ª Cadeia e que irá desaparecer no futuro (na 7ª Ronda). Nisto a coincidência parece ser total.
Interessante verificar que tanto Júpiter como Saturno, se encontram na 3ª Cadeia levando a crer que os processos bióticos ainda não estão em curso, mas que poderão ter-se iniciado nas suas luas Titan, Europa, Encélado, e que poderão corresponder aos 3 “Esquemas Sem Nome” que existem no diagrama da estrutura do Sistema Solar e que nem a Teosofia, nem Blavatsky, conseguiram definir, referindo apenas que eram planetas que ainda não existiam (ver diagrama III).
Na actual 4ª Ronda a Teosofia acrescenta que a Terra, Mercúrio e Marte possuem as mesmas características físicas (fase D), ou seja, possuem núcleos densos de ferro e níquel, água sobretudo nas condições de permafrost ou em glaciares nas zonas polares, o que coincide também com o actual conhecimento sobre a estrutura interna destes planetas. Marte inclusive apresenta sismicidade detectada muito recentemente pela sonda InSight da NASA que registou até agora centenas de sismos ou “martemotos” atestando que o planeta é geologicamente activo, apesar de não ter sido confirmada ainda a existência de um sistema de placas tectónicas como na Terra.
Verifica-se então alguma semelhança, em termos gerais, daquilo que a Ciência tem vindo a descobrir e a levantar hipóteses, com aqueles axiomas revelados pela doutrina teosófica e por Helena Blavatsky na sua obra Doutrina Secreta.

Diagrama III – Representação do nosso Sistema Solar com os seus 10 esquemas de evolução, cada um formado por 7 Cadeias de 7 Globos com as suas sete Raças (5)
A concepção dos Globos insere-se numa hierarquia evolutiva em que numa Cadeia um Globo dura um período Manvantárico e a passagem de um Globo para outro medeia éons de tempo designados no sânscrito por Pralayas Planetários. O mesmo se aplica aos ciclos entre Cadeias designados como Pralaya intercatenário. Sete Cadeias constituem um “Esquema Evolutivo” sendo considerado que o nosso Logos Solar é constituído por 10 “Esquemas Evolutivos” (Diagrama III).
Cada “Esquema Evolutivo”, como vimos anteriormente, representa patamares sempre mais evoluídos dos Globos onde a dualidade – construção/dissolução, é o mecanismo de aprimoramento evolutivo.
As cadeias desenvolvem-se de acordo com a proximidade dos planetas ao Sol e tomam o seu nome. Aqui surge uma cadeia denominada de Vulcano que pressupõe a existência de um corpo mais próximo do Sol para além de Mercúrio. Tal nunca foi verificado pela astrometria ou por observações astronómicas directas, o que não invalida a hipótese de tal existência se a remetermos para o início da formação do Sistema Solar.
Talvez outras conexões nos ajudem a desvelar mistérios seculares.
João Porto, em Ponta Delgada
20 de Fevereiro de 2025
Imagem de destaque: Uma concepção artística de um sistema planetário. Domínio Público