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O Indescritível

Indescritível é aquilo que não é passível de descrever ou de descrição, considerando que descrição é achada aqui como a falta de palavras ou de linguagem, que conduz ao desconhecimento que não permite caracterizar ou resolver um evento ou fenómeno nos seus constituintes intrínsecos. Normalmente partimos de um estado inicial ou encontramo-nos num estado final, mas o processo que medeia os dois poderá ser indescritível por falta de recursos técnicos de análise, por sua vez, nascidas de teorias que suportem a evolução entre os dois estados. As limitações da linguagem e das palavras para descrever um fenómeno levou a matemática a elaborar construções simbólicas cujo aprofundamento nos aproxima da sua resolução, mas paradoxalmente nos leva a uma crescente dimensão desconhecida. Como diria Goethe, “Todo o perto se afasta”.

As Radiações Eletromagnéticas e a Saúde: O Efeito da Eletrónica. Primeira Parte

Vivemos imersos num oceano de radiações eletromagnéticas contínuas, incessantes e impercetíveis; algumas são de causas naturais e outras são produzidas pelo ser humano. A afetação que estas têm na saúde humana constitui uma questão controversa no campo da ciência, devido às radiações eletromagnéticas poderem ter ou não, efeitos biológicos demonstráveis.

Alguns efeitos biológicos podem ser inócuos, como a radiação solar; outros, pelo contrário, podem desencadear doenças como o cancro, a esterilidade e outras menos conhecidas. Um exemplo estudado há muitos anos, foi sobre os primeiros operadores de radares, durante a Segunda Guerra Mundial, que desenvolveram distintos tipos de cancro, e para além disso, tornaram-se estéreis, obrigando à tomada de medidas de proteção.

A espécie humana vive num manancial eletromagnético natural, como o campo geomagnético e os fenómenos atmosféricos, gerados no Sol e na estrutura interna da Terra, para nomear apenas dois deles. Agora devem-se juntar os produzidos pelo Homem. Em princípio, estes estavam relacionados com as torres elétricas, torres de transmissão de rádio, alguns aparelhos eletrodomésticos, usos industriais específicos e radares. Nos últimos anos, há um incremento, sem precedentes, de fontes de campos eletromagnéticos utilizados para diferentes fins.

O Batimento do Oceano de Leite e a Luta pela Imortalidade

O Batimento do Oceano de Leite, também conhecido como Samudra Manthana em sânscrito, é um dos mitos mais famosos e simbólicos do hinduísmo. Este relato faz parte dos Puranas, que são escrituras antigas repletas de mitos e lendas. O mito descreve um episódio cósmico no início dos tempos, em que os deuses e os demónios trabalham em conjunto para bater o Oceano Primordial, a fim de obter o néctar da imortalidade.

Nasrudin e As Mil e Uma Noites

Finalmente, li As Mil e Uma Noites, uma delícia, e fiquei muito impressionado que apareceram histórias de Nasrudin, com o seu nome Hodja, que na versão lida, chamam de Goha.

Esta tradução é a das Edições 29, traduzida por Jacinto León Ignacio da versão francesa, hoje clássica de J. C. Mardhus (1899-1904) diretamente do árabe.

A história das traduções das Mil e Uma Noites é um autêntico labirinto (em algumas não aparece a história de Ali Babá, nem a lâmpada mágica de Aladim, embora exista uma muito semelhante); e como tal, Jorge Luis Borges, apresentou-o no seu ensaio Os Tradutores das 1001 Noites, que apareceu no livro História da Eternidade. Um tema também recorrente em suas conferências, como vemos aqui1.

Mas o que me chamou à atenção, é que ninguém, ao que parece, percebeu que as histórias de Nasrudin aparecem nesta obra colossal. Na Internet, pelo menos, não aparece nenhuma correlação, talvez porque em Mil e Uma Noites ele apareça como Goha, mas é ele indubitavelmente.

O Diamante e o Homem

O diamante é a joia mais preciosa do mundo. A sua dureza, transparência e brilho resplendente não têm comparação. O seu nome deriva da palavra adamas que significa invencível. É muito difícil quebrar um diamante: são necessários 4.000 graus Celsius para fundi-lo, duas vezes e meia mais do que o necessário para fundir o aço. A sua composição, no entanto, é muito simples: moléculas de carbono.
A sua dureza deve-se à sua estrutura interna, ordenada em forma piramidal: se pomos qualquer um dos seus lados como base, podemos contar os átomos de carbono em camadas, tendo a primeira um, a segunda quatro, a terceira nove e a quarta dezasseis, o que faz uma sucessão de quadrados 1^2, 2^2, 3^2 e 4^2.

Porque Não Recordamos as Nossas Reencarnações Anteriores?

Na Nova Acrópole oferecemos uma nova visão da Filosofia e do enfoque no contacto humano. Cremos que um dos fenómenos que mais nos aflige no momento atual, é a desumanização das comunicações. Nós seres humanos estamos separados uns dos outros e temos elementos prefabricados com os quais cremos poder suprir as necessidades que, por outra parte, ao serem naturais, criam em nós uma série de contradições. Faz falta regressar ao diálogo, à conversação, ao contacto direto mais além das teorias abstrusas.

Podemos tocar qualquer tema por exótico que pareça, como pode ser este da reencarnação, de uma maneira humanista, direta e sem necessidade de grandes tecnicismos, nem tampouco de um tal distanciamento, que faça que vós e eu estejamos em duas dimensões diferentes. Nós cremos que o Homem é um filósofo naturalmente; ninguém pode tornar-se filósofo; nasce-se sendo filósofo. Todos somos filósofos; perguntamo-nos quem somos, de onde viemos, para onde vamos. O que podemos fazer é reunir uma série de dados, de conhecimentos que nos permitam canalizar a nossa inquietude, a nossa vontade de conhecimento e de vivência.

A Ética de (Bento, Baruch, Benedictus) Espinosa

A vida de Espinosa foi muito singela. A sua família tinha vindo de Portugal para a Holanda para escapar à Inquisição. O próprio Espinosa foi educado no ensino judaico, mas achou impossível manter-se ortodoxo. Ofereceram-lhe cem florins por ano para que mantivesse as suas dúvidas escondidas; quando os recusou, tentaram assassiná-lo. Apesar de tudo, viveu tranquilamente, primeiro em Amesterdão e depois em Haia, ganhando a vida a polir lentes. As suas necessidades eram poucas e singelas e, durante toda a sua vida, mostrou uma rara indiferença pelo dinheiro. O governo holandês, com o seu habitual liberalismo, tolerava as suas opiniões sobre questões teológicas, embora, a certa altura, tenha sido mal visto politicamente, por se ter aliado aos Witts contra a Casa de Orange. Na idade precoce dos 44 anos de idade, morreu de tuberculose.

O Mestre e o Aprendiz

Notável em praticamente cada polegada de execução, obra-prima dentre todas, a  Mona Lisa, além da alta técnica com que foi construída, registra um tratamento a seus elementos principais consoante ao melhor do estilo do génio Leonardo da Vinci. Aquele clima etéreo que tanto marcara sua produção, aqui se verifica, pela primeira vez, em grande versão turbinada: aplicando-se a técnica do sfumato em seu nível mais avançado, emprestou assombrosa aura de mistério à composição.

Ubuntu, a Filosofia Africana do Respeito

Ubuntu é um dos melhores presentes que a África deu à humanidade, disse o desaparecido Desmond Tutu (1931-2021). É uma norma ética baseada na crença de que existe um vínculo humano universal nos conecta a todos e nos permite superar qualquer desafio que tenhamos que enfrentar, tanto individual como coletivamente. É uma filosofia moral, uma ideia integradora de fraternidade, solidariedade e lealdade que nasceu na África do Sul e que influenciou muitos outros países, não só africanos – como o Senegal ou o Congo –, mas também em todo o mundo. O seu objetivo é que toda a comunidade esteja protegida, que ninguém deve ser deixado sozinho ou isolado, pois estão convencidos de que se um só membro da tribo sofre de uma injustiça, os afeta a todos. Esta filosofia do respeito, nasce em primeiro lugar, do respeito por si mesmo, pois se o sagrado que existe é negado em cada um de nós, vamos também negar o sagrado que está nos demais. Ubuntu é o fio dourado com o qual se tece a concórdia e a unidade da alma dos diferentes povos, criando uma comunhão entre todos que os irá defender sempre, não só de si mesmos, senão também das ameaças do depredador estrangeiro.

A Grande Simplificação

No seu vídeo de trinta minutos¹ Nate Hagens começa por contar de forma sucinta a história da vida na Terra e da humanidade, cujo crescimento e evolução, do ponto de vista económico e tecnológico, eram quase impercetíveis de uma geração para a outra – até nos aproximarmos do Renascimento e criarmos novas tecnologias que permitiram ao homem explorar o mundo e desenvolver novas rotas comerciais. Depois veio a Revolução Industrial com novas máquinas e, finalmente, a era do petróleo, com um poder e uma riqueza incalculáveis. No final do século XX, tínhamos multiplicado a nossa taxa de crescimento trinta vezes mais do que há mil anos atrás, dando-nos recursos e um nível de conforto nunca antes visto.

Criámos máquinas que trabalham para nós como o equivalente a mais de quinhentos biliões de trabalhadores humanos, a que Jean-Marc Jancovici² se refere como Escravos de Energia. Ao mergulharmos no consumo de combustíveis fósseis, desligámo-nos lentamente dos fluxos naturais da Terra. Consideramos os principais fatores de produção das nossas economias como gratuitos, pois pagamos apenas o custo do trabalho e da extração, mas não pagamos pela sua criação, verdadeiro valor e poluição.

A Filosofia do Livro

Seshat, “a senhora dos livros”, é a deusa egípcia da escrita e da leitura, protetora das bibliotecas. Ela também é a deusa da arquitetura e do destino. Como deusa do destino, estava sentada aos pés da árvore cósmica, onde o céu superior e o inferior se uniam; como deusa da arquitetura, era encarregada de calcular e dar a orientação precisa na hora de construir e elaborar os planos dos templos. Muitas vezes é retratada como escriba dos faraós anotando os logros do seu reinado nas folhas da Árvore da Vida, uma função mágica, a de cuidar da imortalidade do faraó na Terra.
Para aqueles que amamos os livros, para aqueles que sentimos admiração ao percorrer as prateleiras de bibliotecas antigas e também novas, repletas de saberes antigos e não tão antigos, certamente Seshat é nossa fonte de inspiração. Ela é a emoção que assalta o nosso coração quando encontramos, entre as prateleiras de uma biblioteca, um livro que levamos buscando há muito tempo ou quando a descoberta é inesperada. É também o que desencadeia a nossa imaginação na leitura.

Os Ensinamentos Psicológicos de Platão Sobre o Medo e a Coragem

Por sermos demasiado categóricos e escravos das palavras em vez de seus donos, quando pensamos em Platão, associamo-lo diretamente à Filosofia como ramo do conhecimento, e não como um amor à sabedoria, que é o seu sentido real, estrito. E assim somos tão formais e filhos do nosso tempo que nos parece quase absurdo falar dos ensinamentos de psicologia em Platão, e imagino que a muitos leitores, o título lhes terá estranhado e ainda quiçá, estejam lendo simplesmente por curiosidade sobre o que se vai mencionar.

Evidentemente que isso é um erro, pois a maior parte dos ensinamentos de Platão são sobre saber vivo, de filosofia aplicada e deste modo entram na dimensão psicológica, no conhecimento e uso do que hoje chamamos de psique, que infelizmente já é diferente do conceito de alma de Platão. E se, como diziam os filósofos herméticos, «tudo é mental», quando entramos no âmbito humano – e como não o fazer – aqui tudo é psicológico, pois tudo mistura a forma pura com a substância psíquica e até física em que se expressa. E o ser humano é o mais puro exemplo dessa encruzilhada.

O Meu Amigo Inseto

Uma noite qualquer, como na maioria das noites, estava lendo recostado na cama. Era um livro de conferências do professor Jorge A. Livraga.

O fim do dia, a obscuridade ao redor, o silêncio…

À luz da pequena lâmpada na mesa de cabeceira, a minha atividade intelectual prolongava-se nos momentos prévios ao sono.

A leitura, a reflexão, a paz no coração… Tudo era perfeito.

De repente, ele apareceu, um pequeno inseto. Perturbador, insensível à minha presença e incapaz de ficar quieto.

Meios de Comunicação. A Informação Confusa

Uma parte importante do mundo – o nosso mundo – vive à custa dos meios de comunicação social. Não é a maioria, mas em todo o caso é aquela que tem suficiente peso para atrair a atenção geral e tornar-se no centro dos acontecimentos.

E mais: se a história do nosso tempo tivesse que ser escrita e o enfoque histórico dependesse dos meios de comunicação, seriam contados alguns factos que dizem respeito às zonas do planeta e aos países que governam o destino de toda a humanidade, ou seja, que se falaria de poucos em detrimento de muitos que, como é habitual, permaneceriam na triste sombra do anonimato, nas trevas do desinteresse e do egoísmo. O curioso é que o egoísmo e o desinteresse não são naturais no coração do homem comum, mas crescem sob a asa da informação que lhe é oferecida, imitando inconscientemente as personagens que assim agem, podendo fazê-lo de outra maneira.

Muitas vezes foram feitas tentativas para mudar o mundo, e este século não ficou imune a essas tentativas. Em cada momento, individual ou coletivamente, um meio ou outro foi utilizado para alcançar essa mudança; e agora vemos que, apesar dos esforços de alguns e da hipocrisia de muitos, as coisas permanecem as mesmas. Por outras palavras: a única igualdade que conseguimos é que as coisas continuem como antes; que persistem a desigualdade, a injustiça, a exploração dos fracos em todos os sentidos, a corrupção e que as minorias continuam a determinar o curso da história ou, pelo menos, o que nela é contado.

Às Portas de Uma Nova Idade Média

Antes de mais, devo dizer-vos que a Idade Média é algo completamente natural. Todas as coisas são pautadas por um sistema de ritmo. Há Verões, há Invernos, há dias e há noites. Há momentos felizes e há momentos infelizes. Todas as coisas continuam como elos de uma corrente, umas com as outras. As montanhas com os vales, os vales com as montanhas. Assim, ao longo do passado humano, encontramos muitas vezes idades médias.
Que significado se dá a uma Idade Média? É algo que está entre uma coisa e outra, que está na metade; uma espécie de “mergulho” ou depressão no que consideraríamos um nível civilizacional; chamamos a isso Idade Média. Como já mencionámos várias vezes, a China, por exemplo, que é milenar e não sabemos exatamente quando começou a sua civilização, pois em épocas longínquas já a encontramos trabalhando os metais, fazendo filosofia, tendo religião, tratados de arte militar, etc., sofreu várias idades médias.

O Ritual Funerário no Antigo Egito

O pensamento egípcio era profundamente religioso. Para aqueles homens, o universo não poderia ser produto do acaso nem uma consequência de simples estados da matéria. Da matéria em si não se poderiam formar as estrelas nem os rios nem nada da natureza e menos ainda os estados de consciência do homem. Era uma concepção deísta da vida. Se encontramos no Egito mostras de uma religiosidade simples e fetichista, também encontramos ali sinais da mais alta metafísica religiosa. Considerar esta religiosidade primitiva, é desconhecer nossa realidade presente, na qual todos os estados possíveis se dão a um mesmo nível e onde o símbolo prevalece desprovido do sentido tradicional.

Sem embargo, poderiam perguntar: porque havia tantas múmias de animais sagrados no Egito? A lista destes animais embalsamados seria imensa, embalsamaram bois, carneiros, gatos, crocodilos, íbis, peixes, falcões, etc.

Nesta base são considerados zoólatras. O egípcio não embalsamava os animais pelos animais em si. Não há aqui zoolatria. Faziam-nas porque assim representavam a manifestação vital de uma forma cósmica, o Neter.

A Economia da Felicidade: o Decrescimento Económico Controlado

Amiúde, damo-nos conta com a reflexão sobre a ideia de felicidade. Esse exercício parece estar envolto numa complexidade que muitas vezes é referida como subjetiva. Vamos tentar simplificar, uma vez que essa subjetividade está muito provavelmente relacionada com a infelicidade e a insatisfação do ser humano. Parecendo dois conceitos antagónicos, atrevo-me a afirmar que a via para a infelicidade é muito mais percetível, do que aquela ideia que teimamos em dificultar, quando buscamos a sua natureza – a felicidade. Porque não assumimos o caráter singelo e puro da felicidade, como um estado de espírito que está tão perto de nós? A felicidade pode transmitir-nos com grande fulgor, e simplesmente, um estado de uma consciência plenamente satisfeita. A sua origem do latim, felicitas, pode significar fertilidade, felicidade, boa fortuna, sorte, favor dos deuses e prosperidade. Heráclito, filósofo pré-socrático (500-450 a. C.), deixou-nos com esta máxima: Se a felicidade residisse nos prazeres do corpo, diríamos que os bois são felizes quando encontram feno para pastar. Sócrates (470-399 a. C.) afirmava aos seus discípulos que tinha tudo o que desejava, mas que adorava ir ao mercado para descobrir que continuava completamente feliz, sem todo aquele monte de coisas. Platão (428-348 a. C.) promoveu o exercício da temperança no que diz respeito à busca de riqueza material, de modo que, ao fortalecer a moderação, a pessoa pudesse preservar assim, a ordem de sua psique. Diógenes de Sínope (412-323 a. C.), filósofo cínico interpretou a felicidade através de uma vida simples, e a necessidade de retornar à natureza, apesar de todas as convenções e costumes que nos tendem a afastar. Epicuro (342-270 a. C.) identificou que a raiz do mal se encontra na intemperança dos desejos, que sobre o efeito de uma falsa representação do prazer e da felicidade, impulsiona-nos a possuir sem limite, quando não é buscar a qualquer preço um diminuto poder ou glória de um curto momento. Lao Tse (V-IV séc. a. C.), filósofo da Antiga China, preconizou a rejeição do supérfluo, e defendeu uma certa ética da frugalidade e da autolimitação, valorizando a busca de harmonia com a natureza, mais do que a acumulação de bens materiais. Diz-nos ainda, Lao Tse, que a sabedoria é o caminho que desprende o excesso, a extravagância e o exagero. A ideia de felicidade não tem, afinal, qualquer subjugação ao subjetivo material, sem ligação às conquistas da posse e das coisas transitórias.

O Príncipe de Maquiavel

Apresentar um dos principais nomes da política no Renascimento, entendendo por política o tratamento dos assuntos da “polis” com o intuito de a harmonizar através de um Ideal que a unifique, ou como diria Platão, de um arquétipo promotor de justiça, pode ser desafiante quando falamos da obra “O Príncipe” de Maquiavel.

Niccolò di Bernardo dei Machiavelli, integrou um importante momento histórico vivido no período do Renascimento entendido como a canalização de um retorno às origens e aos ideais platónicos e neoplatónicos do mundo clássico. Esta magnífica etapa do nosso movimento histórico procurou igualmente recuperar o conhecimento de uma das maiores civilizações de todos os tempos, o Egipto e a tradição Hermética, que milénios antes tinha edificado o conhecimento iniciático e mistérico, ao qual o renascimento não ficou indiferente. Estamos perante o reaparecimento dos fundamentos que alicerçaram a edificaram grandes civilizações com foco no Humanismo e na razão ética, com o paulatino afastamento do pensamento dogmático vigente até esse momento.

Jakob Böhme: o Príncipe dos Obscuros

A Teosofia alemã dos séculos XVI e XVII está impregnada de naturalismo e de um panteísmo híbrido, alicerçado numa mistura de misticismo e teologia, utilizando três fontes de inspiração: Deus, o Homem e a Natureza.
A Teosofia de Jakob Böhme surgiu da conjunção entre o hermetismo, representado por Paracelso, e o misticismo alemão, que juntos prefiguraram o sistema de Baader. Podem também ser traçadas algumas analogias entre a Cabala judaico-cristã, frequentemente associada à Teosofia, e a sua cosmogonia mística. Os escritos de Böhme contêm muitas semelhanças com as teorias filosóficas da Alemanha do século XIX, sendo ele considerado um precursor de Espinosa e Schelling. A sua influência foi significativa no pensamento alemão, particularmente em Franz von Baader. Böhme exerceu um verdadeiro fascínio sobre Hegel e toda a geração romântica, tendo a sua influência também chegado ao campo religioso, tanto na Holanda como na Alemanha, através do pietismo.

O Dia em que Mary Poppins foi Egoísta e o Dia em que Walt Disney Salvou a sua Alma

“Disney disse a ela [Pamela L. Travers, a autora da personagem Mary Poppins] que era muito arrogante. Ela respondeu, “Sou?”, “Sim” , reafirmou ele. “Pensas que sabes mais sobre Mary Poppins do que eu sei.” “Bem, arrogante ou não”, respondeu ela, sorrindo, “penso que sei mais do que tu.” Disney destacou, triunfal, “não, não sabes mais”.

As muitas aventuras desta ama mágica foram geradas na infância de Pamela – a solidão da sua infância, sonhando acordada com Allora, o carácter dominante da sua tia materna, nas regras e preceitos de viver que lhe deram – e no seu amor por AE e os mistérios da criação que ouviu dos seus lábios e leu nos poemas de Yeats e Blake”.

Mary Poppins foi chamada “Deusa Mãe”, uma bruxa, uma fada boa, uma mulher sábia, uma “Mãe extática”, exemplificada como Artemis e como Sofia, Maria Magdalena ou a Virgem Maria. Diz-se que contém segredos Zen ou que compendia o Zen. [1]

A Responsabilidade

Perguntaram-me sobre a responsabilidade, e à minha memória acudiu a longa viagem de Ulisses de regresso à sua pátria. Estou convencido de que, entre as múltiplas chaves em que podemos interpretar a narrativa de Homero, uma delas é a responsabilidade.
No sentido de cumprir com as suas obrigações, Ulisses acudiu à guerra de Troia. E não foi sozinho. Junto com ele navegaram os homens da sua pequena ilha, e junto com ele embarcaram, após dez anos de batalhas, para regressar à sua terra.
Homero conta-nos as aventuras extraordinárias que viveram, os perigos que sortearam, as tristezas e as alegrias que todos compartilharam. Através das grandes vicissitudes que os atingiram, destaca sempre o grande sentido de responsabilidade que Ulisses sente em relação aos seus companheiros.
Num dos episódios, sabemos que chega a solicitar que o amarrem ao mastro do navio, pois pretende escutar o canto das sereias sem cair na tentação de sucumbir a elas. É um momento crucial da odisseia.

Tempo de Fazer

O compromisso que assumi nesta ocasião é tentar falar do nosso tempo; sobre este tempo que me atrevo a chamar de TEMPO DE FAZER.

Escolhi este tema porque nós, aqueles que gostamos de pensar no nosso tempo e nos questionarmos sobre a época em que vivemos, às vezes também gostamos de rever palavras e escritos antigos.

Textos muito antigos que todos conhecemos nos contam como Deus trabalhou seis dias e no sétimo descansou. Isto deveria ser uma norma para nós, um guia para a ação; porém, os seres humanos do nosso tempo são tão especiais e únicos, temos tanta capacidade de contrariar absolutamente quaisquer leis que nos sejam impostas, que fazemos exatamente o contrário: dos sete dias primordiais, trabalhamos um, e os outros seis descansamos; não sabemos do quê, mas descansamos.

A Trágica Profecia de Malthus

Há alguns meses atrás, por ocasião de um congresso sobre a Hispano América, surgiu o tema da fome entre os povos do chamado, por alguns, Terceiro Mundo, e por outros, Grupo de Países em Desenvolvimento.
Mais tarde, diferentes meios da imprensa espanhola estavam interessados no tema mencionado e por alguém que, há 150 anos, desde Londres, lançou um folheto no qual se faziam algumas reflexões muito originais para o seu tempo, sobre as probabilidades de que a Humanidade fosse um dia, não muito distante, vítima do flagelo da fome ao nível quase planetário. Era o reverendo Thomas Robert Malthus, nascido em 1776 e falecido em 1834.
A sua obra não pretendeu ter muita importância, e tanto é assim que este cientista a publicou de maneira anónima, expondo a sua teoria simplista sobre a progressão geométrica em que a Humanidade crescia e a aritmética em que podia produzir alimentos, envolta nos algodões de um ecletismo invejável. Diz, por exemplo: o autor (…) é consciente de que ao usar tão negras tintas fê-lo convencido de que existem realmente na imagem e não são o resultado de preconceitos nem temperamento rancoroso. Na verdade, digno exemplo a seguir por todos os que vivemos no século XX, tão carregado de absolutismos e que costumamos escrever sem ter seriamente em conta que as nossas razões podem estar erradas.

Dello Amore de Ficino e o Caminho para a Alma se Unir ao Divino

Marsilio Ficino nasceu em Florença, em outubro de 1433. Em 1451, recebeu a consagração como clérigo, dedicando-se simultaneamente ao estudo e divulgação do Neoplatonismo, inspirado em fontes antigas como Platão, Dionísio Areopagita, Avicena, Alfarabi, Avicebron, Cícero, Santo Agostinho, Apuleio, Plotino, Calcídio e Macróbio.

Em 1456, iniciou a redação das suas primeiras obras filosóficas: Libri quattuor Institutionum ad Platonicam disciplinam; De laudibus medicinae; De voluptate; De virtutibus moralibus; Compendium de opinionibus philosophorum circa Deum et animam; De furore divino; e De quattuor sectis philosophorum.

Em 1458, o seu pai enviou-o à Universidade de Bolonha para estudar medicina. No ano seguinte, dedicou-se ao estudo do grego, traduzindo várias obras, incluindo os Hinos Órficos e as obras de Hesíodo e Homero.

Gilgamesh e a Roda dos Astros

Sumérios, babilónios, hurritas e hititas conheciam esse mito, e podemos estimar que a poesia épica grega antiga o tomou como modelo, uma vez que o personagem de Héracles é semelhante a Gilgamesh em vários aspetos. As suas marcas sobreviverão até à Idade Média europeia, onde o encontraremos sob a forma de São Jorge e do dragão, o que lembra uma das obras do herói sumério.
A versão suméria parece hoje ser mais pobre que a versão babilónica, devido à perda das tábuas mais antigas. Restam apenas 35.000 versos do épico sumério. A seguir apresentaremos a versão de Kramer, tentando encontrar as correspondências astrológicas do relato.
Na verdade, o mito de Gilgamesh é um mito solar; razão pela qual, poderá em determinado momento, vencer os escorpiões, símbolos da consumação da vida, que deverão ceder-lhe o lugar. Igualmente, o seu caráter é confirmado por sua oposição à deusa lunar Inana. A passagem pelos doze signos do Zodíaco, refletem-se nos trabalhos de Gilgamesh e, na realidade, em toda a sua existência. Isto confirma o parentesco entre o mito de Gilgamesh e o de Hércules.

A Sabedoria de Ptahhotep – Um Ideal de Autorrealização e Serviço aos Outros

De acordo com a lenda medieval, do Egito, o filósofo grego Parménides inventou a lógica enquanto sentado numa rocha no Egito. Isto indica a crença de que a filosofia grega foi muito inspirada pela sabedoria do Egito, e isso revela que isto não é somente uma lenda. Pitágoras – o grande inventor da palavra filosofia na Grécia – foi avisado pelo seu professor Thales para viajar para o Egito, onde o próprio Thales tinha sido ensinado. E Platão ele mesmo passou vários anos estudando com sacerdotes egípcios em Heliópolis.

Porque, então, a maior parte dos livros nos dizem que a filosofia começou na antiga Grécia? Porque, de acordo com a nossa atual visão do mundo, herdada dos séculos XVIII e XIX, é impossível acreditar que um povo como os egípcios, que acreditavam em magia, pudessem ter tido uma filosofia. E ainda agora, de acordo com o recente livro do antigo sábio Egípcio Ptahhotep1, os antigos egípcios tinham uma palavra para filosofia: merut nefret, que significa desejar sabedoria ou desejar um ideal, que é praticamente idêntico à palavra grega filosofia, ou amor à sabedoria. O filósofo é a pessoa que ama a sabedoria e quer tornar-se sábio, ou alguém que ama o ideal e pretende alcançá-lo na sua vida. Ptahhotep torna isto ainda mais explícito na seguinte afirmação: A pessoa educada é aquela que alimenta a sua alma realizando na terra o ideal nele contido. Por outras palavras, todos nós temos um ideal no eu interior e aquele que tem o sentido desse ideal esforça-se por trazê-lo à realidade. Este é o significado original de filósofo em ambas as tradições da Grécia e do Egito.

O Mundus Imaginalis
Na Prática da Imaginação Ativa e Visualização1

A razão porque a imaginação é um conceito tão poderoso e importante para compreender é que sem ela a criatividade humana seria dramaticamente diminuída. Mas este conceito está sujeito a várias interpretações (psicológicas, filosóficas, espirituais, etc.) e por isso muito difícil para uma simples definição. De momento será suficiente dizer que a imaginação é a faculdade da mente de gerar imagens . Com esta definição, posso também concentrar a atenção da nossa discussão perante um outro conceito chave, o da mente. É um outro conceito que ainda é mais difícil determinar, na verdade um grande mistério, algo que está na base da atividade humana e cósmica. E, estou aqui acrescentando o adjetivo cósmico porque todas as cosmogonias da antiguidade postuladas como primeiro ato de criação, um ato de ideação. O Demiurgo (i.e., A Mente Cósmica) primeiro imaginou o universo e depois trouxe-o para a manifestação. Da mesma forma a miríade de objetos que enchem (e muitas desarrumam!) as nossas vidas, eram primeiro imaginadas nas nossas mentes e só depois dada uma forma física tangível.

O Melhor Amigo do Homem e o Pior Amigo do Cão

O Ser Humano e o Cão estão unidos desde o início, e talvez possamos dizer que um não existiria sem o outro. O Cão, porque nasceu ao aproximar-se da mente humana, e foi moldado por esta, e o Ser Humano, porque, tirando proveito das muitas forças do Cão, como fiel protetor e corajoso caçador, pôde sobreviver às muitas idades negras que o nosso mundo já viveu. O kanji (caracter japonês) para cão ilustra bem esta relação já que se escreve “犬” (lê-se inu) e é claramente representado por um Ser Humano de braços abertos com um pequeno traço assinalando o seu inseparável companheiro, situado alto e perto da cabeça.

Quem tem a oportunidade de viver com um cão pode confirmar que estes são seres especiais pois, talvez mais que qualquer outro animal, estão intimamente ligados ao Ser Humano. Ao passearem juntos, um cão frequentemente procurará o olhar do dono para saber como reagir perante o inesperado. Se o dono está medroso ou ansioso, a ameaça está confirmada e o cão prepara-se para o defender. Por outro lado, se o dono está tranquilo, isto transmite ao cão que não existe ameaça, e que não deve ladrar ou morder.

Esta ligação vai mais além da visão, e não faltam histórias de cães que, seguindo uma qualquer bússola misteriosa, atravessaram grandes distâncias, por terrenos desconhecidos, só para no final se reencontrarem com os seus desaparecidos donos. O olfato apuradíssimo que os caracteriza não é suficiente para explicar estes eventos, uma vez que em alguns casos a deslocação dos donos foi feita de avião, o que apagaria qualquer rasto olfativo para o cão. E se deixar um cão noutro país for um caso demasiado raro, conseguimos encontrar um exemplo mais comum: Quem nunca foi alertado pelo seu cão da chegada de um familiar muito antes de este bater à porta ou estacionar o carro longe de casa? Um conhecido autor, Rupert Sheldrake, famoso pela teoria dos campos mórficos, dedicou um livro inteiro a este fenómeno, intitulado “Cães que sabem quando os seus donos estão a chegar a casa”. Uma leitura recomendada para qualquer cético.

Miguel Torga e o Veneno de Sartre

Ao ler o V Diário de Miguel Torga (1907-1995) constatamos que este poeta transmontano estudava, em 1949, como milhares de jovens na Europa, os livros de Jean Paul Sartre. Estes milhares, então, à medida que iam passando os anos, converter-se-iam em milhões, e o efeito tangível da filosofia deste autor existencialista haveria de se notar, nos ventos de destruição, caos, angústia e dissolução que provocaram, inclusive, no que um escritor francês chamou: a encarnação do desastre cultural francês do pós-guerra. E sendo a França o coração da Europa, essa arritmia, gangrena ou náusea, a escuridão do puro nada ou morte moral, estenderam-se por todos os membros, chegando também, está claro, a Espanha e a Portugal, nosso país irmão.

A Chave do Triunfo

Em primeiro lugar, creio que devemos diferenciar o que chamamos êxitos do que é considerado um verdadeiro triunfo.

O êxito chega através do resultado feliz de um assunto, em que nos envolvemos, ou dos atos que levamos a cabo para atingir um determinado fim. Mas fazer algo com êxito não significa ser um triunfador.

De facto, toda a nossa existência é construída sobre vitórias e derrotas, quer dizer, sobre aquilo a que chamamos êxitos e fracassos, que se alternam no seu aparecimento e desaparecimento da nossa esfera de consciência. Qualquer ser humano com uma certa maturidade pode reconhecer e aceitar que, ao longo da sua vida, conheceu o sabor destes dois tipos de experiência.

O triunfo é algo mais complexo, pois não reside em coisas singelas, mas em alcançar objetivos mais elevados, graças à superação de dificuldades maiores. E por isso se relaciona de maneira natural, o triunfo com a vida, o bem mais precioso que se pode possuir, e resume-se na frase que marca o grande objetivo dos seres humanos: triunfar na vida.

Mas o que é triunfar na vida? Fomos levados a acreditar que é alcançar uma enorme quantidade de possessões de todo o género, ou uma comodidade que nos aproxima da felicidade, sem termos de fazer o mínimo de esforço.